Sonho ou realidade?

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"Falta teu sorriso em meu olhar.

Um sorriso, apenas um sorriso.

É tudo que eu preciso, pra acabar de uma vez, com a solidão.

Um sorriso, apenas um sorriso"

-Um sorriso, Thiaguinho. 

-Louis espera! - Ouço a Helena me chamar e automaticamente desacelero meus passos. 

Havia corrido para sair logo da sala, mas deveria ter imaginado que ela me seguiria. 

-Diga - Respondo, virando-me para encara-la.

-Você não acha isso uma coincidência estranha? Digamos, são os nossos nomes, os mesmos, e... - Ela me olha nos olhos, e percebo que me esconde algo.

-Talvez - Coloco as mãos nos bolsos da calça. Será que devo lhe contar sobre meus sonhos? Sobre a lenda ser real? Ou ela me achará louco, como todos acham?

-Qual sua próxima aula? -  Ela perguntou, claramente querendo mudar de assuntos. Olho em meu celular, para me recordar. No aplicativo que o Liam havia me indicado, dizia toda a minha grade de aulas, provas e atividades. Era só eu marcar que ele me lembrava. Era como ter um Liam em aplicativo.

-Língua inglesa - Ela sorri para mim, quando respondo. Seu sorriso, eu o amo. Seja em meus sonhos ou na realidade. Se aquilo for um sonho e não lembranças.

-A minha também! Na verdade acredito que tenhamos a mesma grade de aulas - Ela olha para o relógio dourado em seu braço, acompanhado de uma pulseira - Vamos logo então. É no edifício da frente, e falta somente dez minutos para o inicio da aula - Eu assinto e a sigo para fora do prédio - Depois podíamos ir na biblioteca, para você pegar o livro. Isso se aceitar minha companhia - Ela coloca uma mecha de cabelo cacheada atrás da orelha, envergonhada, talvez.

-Claro que sim, porque não aceitaria sua companhia? - Respondo, com meu típico meio sorriso. Ainda recordo-me do dia do shopping. Ao vê-la cantando, feliz e liberta, um sorriso nasceu em meus lábios, e ao perceber sua alegria com isso, sentir-me mais vivo do que nuca havia sentido. Como se todos os dezoito anos naquele quarto, escuro e sem graça, houvessem sumido.

Ouvimos um grito não tão distante assim que saímos do prédio. Não um grito de alegria, ou o típico grito adolescente. Era apavorado, medroso.

Corremos até o local de onde ele vinha, encontrando um aglomerado de pessoas juntas. Todas no meio da rua.

-Vamos tentar nos aproximar mais, podemos ajudar... - Helena me segurou pela mão, me puxando mais um pouco, para perto das pessoas, porém logo senti ela congelar e sua mão ficar fria - Meu Deus! - Ela falou em sussurro.

-Helena, o que foi? - Porém a resposta havia vindo em seguida.

Uma garota havia sido atropelada, e a cena era terrível. Um garoto gritava apavorado, e pelas suas vestes, ele era o dono da moto, que estava do outro lado da rua, e o possível causador do acidente. Nunca havia visto alguém morto em toda a minha vida. O mais próximo disso havia sido em uma das visitas anuais ao cemitério, em que vistava minha mãe. Nesse dia estava tendo o enterro de uma garota, vitima de câncer, mas ao saber disso, pedi para remarcar a visita a outro dia. Não precisava de mais dor e sofrimento em minha vida, principalmente de pessoas que não posso ajudar.

-Alunos, por favor, voltem ao edifício dos dormitórios imediatamente! - Uma voz foi ouvida pelos campos, provavelmente transmitida pelos auto-falantes.

Segurei Helena num abraço, a puxando daquele lugar. A mesma encostou a cabeça em meu peito, enquanto seguíamos uma fila de alunos assustados.

Porém, antes de entrar no dormitório, algo me chamou atenção, e voltei-me para o edifício de onde havíamos saído. O professor Galle nos encarava, seu olhar era estudioso e pensativo. Ao perceber que eu o havia notado, desviou o olhar e sumiu das vidraças, para dentro da sala onde dava aulas.

A história me veio a mente. "Mortes súbitas". Mas pessoas são atropeladas constantemente, não era algo como um ataque cardíaco de alguém sadio, ou nem nada parecido. Mas justo ao aceitar um convite de Helena, a garota havia sido atropelada. Balancei a cabeça rapidamente. Essa história já havia me atrapalhado muito, não deixaria continuar a me perturbar.  




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