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Acho que é regra, que em todo lugar o homem culpa a natureza ou mesmo ao destino pelos seus erros e fracassos. Se bem que o seu destino ou a sua natureza não seja nada mais ou nada menos que o eco do seu carácter, suas paixões, seus erros e suas fraquezas.

Somos todos um conjunto de experiências falhadas dentro de um laboratório chamado vida.

E eu não sou uma excepção da regra. Mas isso não significa que não tenha desistido das experiências. Bem não agora. Eu tentei sim acabar com a minha vida, o facto é que não sou forte. Sou covarde demais, por isso não consigo morrer.

O que me atormenta dia e noite não é o que aconteceu. É o que eu me lembro do que aconteceu, de como aconteceu, e do porquê que aquilo aconteceu.

Perdê-lo não foi um acontecimento triste, foi um acontecimento doloroso e devastador. Isso que dizem que um dia a dor passa e deixa apenas um vazio triste dentro de nós com a mente cheia de lembranças, é uma meia verdade. A dor nunca passa, ela nos consome aos poucos até nada mais existir para além dela mesma. Nós não superamos, aprendemos a viver com ela todos os dias e todos os minutos da nossa maldita vida.

O destino não tem culpa de nada, ele é apenas caminhos pelo qual decidimos seguir. E se algum dia ele for para o torto, devemos culpar a nós mesmo por sermos horríveis em escolher caminhos indesejáveis no fim.

Eu aprendi da pior maneira que a morte põe fim à uma vida e não à uma relacionamento.

Há um momento na nossa vida em que a nossa mente recebe um choque tão grande que ficamos perdidos na insanidade. E há momentos que a realidade se torna em dor, e para fugir desta dor temos que sair da realidade.
Pelo menos dessa dor consegui fugir. E para poder fugir tive que me afastar de tudo e todos. Não estou em Davilla, minha cidade natal, não estou em Nova Davilla, onde poderia muito bem estar a viver com o Diego meu amado irmão mas não suportei olhar para ele todos os dias sem me lembrar do Andreo. E bem não estou em Monte Francis, a puta da cidade que acorda todos os meus pesadelos infernais. Mas isso não significa que deixei de tê-los.

O contacto com a minha família e amigos foi cortado. Tento falar com eles uma vez por mês, o que é suficiente. Posso dizer que construí uma nova vida, bem longe daquele cúmulo de sofrimento.

Como disse estou em um lugar onde o sol se faz de abrigo e o mar é o paraíso. Poderia se comparar com o Hawai, mas o facto de fazer calor todo ano tirando a chuva fina de Novembro acaba com a minha boa paciência, as ruas também são bem diferentes. Há grupos de delinquentes em quase todas as ruas, e todas as noites de sexta feira. Não tenho mais ninguém para me proteger para além da minha Glock 17 ... O que é óptimo, não arrastar mais ninguém para a minha falta de sorte. Há festas de praia todos os dias em locais diferentes, e discotecas. Os programas recreativos são como inspiração para arte, dança e música de rua. Não como em Hollywood ou Vegas. É algo natural do povo daqui. Podia ser San Francisco , mas para o meu bom agrado esse mundo maravilhoso é Brighton Village . Um nome bem inglês mas sem nada haver.

Divido um apartamento em um prédio situado numa das áreas mais perigosas de Brighton, o bairro Village 27 - Maine com a única pessoa que conheci e depositei confiança aqui Riley Medeiros. Ele todo pode ser a definição do pecado. Pele bronzeada, olhos castanhos café, cabelo preto, ombros largos não como um nadador, braços forte e tatuados. Alto e pernas fortes. O rosto todo tem um aviso prévio para o perigo.


Na altura que cheguei em Brighton a primeira coisa que decidi fazer antes de arranjar um emprego foi procurar um sítio para sobreviver. Depois de pedir muitas informações a milhares de pessoas, encontrei um aviso no jornal com apartamentos disponíveis. Quando cheguei no bairro a primeira impressão foi de horror, as ruas são sujas e há mendigos em todos os cantos, sem falar dos drogados. As paredes são todas pinchadas e oleosas, o cheiro de esgoto ainda chega a me dar náuseas. O relógio marcava 18: 40 e noite já caia. Rezava que encontrasse o responsável no apartamento e me instalasse na mesma hora.

O elevador estava avariado ( ainda esta) e tive que subir 7 andares. O estado daquele prédio fazia - me lembrar o prédio abandonado que o Andreo tinha - me levado e automaticamente afastei aquele pensamento. As minhas pernas queimavam, as minhas roupas colavam no meu corpo por conta do calor sufocante. A minha blusa estava toda molhada de suor, e descia água suficiente do meu rosto para abastecer aquele bairro.

As paredes estavam descascadas e o corrimão enferrujado, evitava pegar para não deixa - lo cair.

Só havia dois apartamentos naquele andar. O número 15 estava descaído com o M torto de lado. Pelo menos tinha forças para bater a porta. Dois toques depois vi o Riley abrir a porta sem camisa, descalço de calças jeans pretas

- Oi... boa noite

Disse depois de nos avaliarmos dos pés à cabeça

- Não me lembro de ter marcado nada com ninguém a essa hora

Falou depois de ter olhado no relógio invisível do pulso

- Eu vi o anúncio no jor. .

- Eu sei que anúncio é esse. Entra

A voz dele era rouca e baixa. Uma das mãos segurava o batente da porta, a outra a maçaneta, o que dificultava a minha visão para o apartamento.

- Vais continuar a me comer com os olhos ou vais entrar

Naquele momento estava em por em consideração virar as costas e sair dali

- Acho que vou embora

- E posso saber aonde ? Isso aqui não é bairro para ti

- Não é problema seu

Já tinha virado as costas com o pé no primeiro degrau

- Não acho que terias vindo para aqui se tivesses outro lugar melhor

- Eu vou para um hotel

- E vendo bem, se dinheiro não fosse problema estarias no hotel

Agora estava com o corpo inclinado na porta com os braços cruzados no peito

- Não tenho muita paciência. Daqui a 30 minutos vou trabalhar. Temos pouco tempo para explicar as regras da casa.

Não respondi, passei por ele e senti o cheiro de banho recém tomado exalando da pele. O apartamento era ( é ) minúsculo. Ficou a olhar para mim sem dizer nada

- Vais continuar a me comer com os olhos ou vais falar das tais " regras da casa " ?

- Os quartos ficam naquele corredor. Temos um única casa - de - banho. Como previsto vais ter uma chave tua. Vamos dividir a renda do apartamento por igual. Desde que não mexas nas minhas coisas e não faças perguntas estamos bem.

- Driana Vasconcelos

- Riley Medeiros

Apertou a minha mão, não senti nada além da pele áspera e fria. Virou as costas e desapareceu no corredor. Belas regras.

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