~ 3 ~

29 1 0
                                    

Era uma típica manhã de quinta - feira quando acordei desnorteada de um sonho sem sentido. No sonho eu ouvia vozes, muitas, mas não via ninguém. Estava em um espaço aberto, cheio de árvores com o sol brilhante. Os meus ouvidos zumbiam, e os meus olhos doíam. Essas mesmas vozes diziam exactamente a mesma coisa, umas mais alto e mais forte do que as outras. EU VOU VOLTAR, EU VOU VOLTAR... sem me dar tempo de ouvir uma outra coisa a frase ficou encravada na minha mente como um lembrete. Os sonhos estranhos e sem significado tornaram - se mais frequentes depois da morte do Andreo... e aprendi que quanto menos eu ligava para eles, menos perdida eu ficaria. Porque foi isso que aconteceu, eu me perdi.

Eram 08 da manhã e tinha de estar no restaurante as 10... com sorte vou encontrar o Riley na cozinha e talvés, com ajuda do senhor ele vai me levar.

Como previsto ele estava sentado com uma chávena de café se não me engano, e com o jornal na outra. Antes de me dar tempo para sentar ele disse

- Fiz café para ti também

Servi uma chávena para mim e me sentei do lado dele. O cheiro de hortelã e de sabonete perfumado, inundaram o meu espaço e senti uma vontade imensa de guardar o cheiro dele no meu bolso.

- O que há de novo ?

- Há uma nota em especial para o Maine, estão a pensar implementar a segurança máxima até o próximo mês, por conta do assassinato dos gémeos. E vão começar a reformar algumas das ruas

- Foi preciso alguém morrer para nos tornar - mos visíveis

- Não é assim que o mundo funciona ? Só procuramos soluções para os problemas depois dos danos ?

- Talvés, só talvés, se as pessoas pensassem nas consequências antes das acções viveríamos de menos arrependimentos

- Porquê que eu acho que isso foi um lamento pessoal ?

- Porque tens muitas cafeína no sistema

Odeio concordar com ele, não tinha me dado conta do que estava falar antes de me calar. Todos os dias eu penso nisso e me sinto cada vez pior, Sim eu sei que não fui eu quem o alvejou, mas as minhas acções levaram a isso. Atrás do Riley a torneira pingava, leves gotas caíam da torneira e formavam uma possa de água no lava - loiça... Os movimentos eram tão leves do mesmo jeito que eu sentia pontadas no coração a pensar no que se passou... as imagens daqueles dias passam como um filme de flashs na minha mente. Mas o sorriso branco e os olhos verdes dele perduram.

As janelas estavam abertas, deixando o ar quente entrar pelo apartamento. A cozinha era pequena como o resto dos cómodos... com prateleiras de madeira envernizadas, uma geladeira nova, resultado de alguns meses de poupança. Uma mesa de quatro lugares. Na bancada tinha um microondas velho, um liquidificador que ninguém usa, uma torradeira estragada e uma tostadeira a caminhar para o mesmo futuro. O chão é todo de madeira, que com o passar dos anos começou a chiar sobre os pés.

- Achas que eles vão ser apanhados ?

Perguntei depois de um tempo em silêncio

- Eles quem ?

- Eles. Os assassinos dos gémeos

- Eles nunca são apanhados

- Que tranquilizador

- Foi essa a intenção

Me levantei e recolhi a louça suja da mesa.

A semana passada houve um dos piores assassinatos já vistos em Maine. É chamado " o assassinato dos gémeos " pelas duas vítimas terem o mesmo nome e por terem sido mortos da mesmo maneira, e deixados um do lado do outro. Benjamin Guntin e Benjamin Hunt foram encontrados mortos na entrada de Maine, os dois foram esfaqueados no peitoral com os intestinos para fora. Um do lado do outro.

I Found YouOnde histórias criam vida. Descubra agora