Doze Corpos

3 - Emili Albuquerque

                                                                         

Emili desceu as escadas com pressa para tomar o seu café da manhã, e na televisão da cozinha a mulher do noticiário anunciava que uma menina chamada Alice Wanderval havia se suicidado jogando-se do alto da escada de sua casa com uma corda presa no lustre, amarrada em seu pescoço...

- Alice Wanderval?

Sim Alice Wanderval a garota que ela humilhou postando um vídeo na noite passada, seu estômago deu uma cambalhota fazendo Emili perder completamente a fome.

O som de uma buzina na frente de sua casa a trouxe para realidade, era o seu namorado Charles Breze.

- Bom dia meu amor - Charles deu um belo sorriso.

Ele esperou Emili entrar no seu conversível preto pra lhe dar um beijo na boca.

Charles começou a falar, mas Emili não entendia nada, como se Charles estivesse falando outra língua, ela apenas mirou o celular em sua mão e ficou prestando atenção nos detalhes do modelo.

Ela sabia que a culpa de Alice ter se matado era completamente dela e não conseguia parar de pensar no que ela havia feito.

- Charles assim que a gente chegar na escola nós vamos excluir o vídeo e pedir desculpas para Sara Evelin.

- Não, já postamos já foi feito.

- Charles a garota do vídeo se matou. - Charles a olhou assustado - Charles você não vê o noticiário?

Charles parou o carro.

- Desce do meu carro.

- Oi? Ficou maluco?

- Desce agora.

Emili pegou suas coisas e desceu, mas só desceu porque era orgulhosa e também porque estava próxima da escola. Ao descer ela virou-se para Charles, mostrou o dedo do meio e virou as costas.

Ao chegar na escola ela percebeu que sua popularidade havia aumentado bruscamente, até porque poucos sabiam que Alice Wanderval tinha se matado, e ninguém conhecia Alice porque a menina não estudava ali.

Emili pegou o celular do bolso e abriu na página onde havia postado o vídeo, e se assustou com o número de visualizações eram mais de quinhentas mil. Ela viu Sara Evelin no final do corredor escorada em seu armário chorando. Por um momento hesitou em apagar o vídeo, mas abriu as opções do vídeo e o excluiu.

Emili foi até Sara.

- Eu sei que você me odeia, e não vai me perdoar

Sara se virou para ela as lágrimas corriam pelo seu rosto.

- Emili porque você fez isso? O que você ganha com tudo isso?

- Eu não sei, não sei onde estava com a cabeça, quando mandei o Charles filmar vocês. Eu... Eu exclui o vídeo.

Sara limpou as lágrimas que já rolavam em seu rosto.

- O que adianta excluir o vídeo, o estrago já foi feito, eu não ligo pra tudo isso, eu não me importava de assumir minha opção sexual - Sara olhou bem nos olhos de Emili - Mas Alice sim, ela não tinha se decidido ainda - Sara respirou fundo. - Ela está se descobrindo.

Emili congelou ao perceber que Sara não sabia o que tinha acontecido com Alice. Ela não poderia contar, não agora que Sara estava com tanta raiva dela.

Sara bateu a porta do seu armário, olhou novamente para Emili.

- Eu odeio você, e sinceramente espero que você morra.

Dito isso Sara deu as costas para Emili e saiu andando pelo corredor. Ao se virar para tentar ir atrás de Sara, Emili deu de cara com Allan o melhor amigo de Sara.

- Imagina quando ela souber o que houve com Alice ontem, você me dá nojo. Disse Allan saindo em direção a Sara.

As aulas passaram voando, Emili não comeu nada e nem falou com ninguém, pediu para suas amigas se afastarem porque ela queria ficar sozinha. Emili segurava um livro sentada na biblioteca, mas não o lia ela apenas olhava para as palavras e foi interrompida por uma voz que disse:

- A biblioteca fecha em cinco minutos.

A voz da bibliotecária a puxou violentamente para a realidade não havia mais ninguém ali, todos os alunos já tinham ido embora e já estava escurecendo. Ela arrumou suas coisas e saiu indo direto para o seu armário. Emili colocou a senha no cadeado e ao abrir a porta um pedaço de papel branco caiu no chão, ela se abaixou apanhou o papel que estava dobrado, desdobrou o papel e escrito com batom vermelho estava:

" Vadia você vai morrer "

Emili rasgou o papel e o jogou no lixo, estava acostumada com isso suas amigas sempre deichavam esse tipo de bilhete nos armários uma das outras. Ela pegou seu fone de ouvido, plugou no seu celular e o player de música ligou automaticamente. Então Take A Bow da Rihanna começou a tocar em seus fones.

Ela fechou seu armário, logo em seguida sentiu o celular vibrar em sua mão, era uma mensagem de Sara que dizia:

"Eu sei que você quer apenas se desculpar. Alice não responde minhas mensagens e nem ligações, se você quiser podemos conversar"

Emili mandou uma resposta que dizia:

"Espero você no campo de futebol da escola"

Alguns segundos depois o celular vibrou novamente:

"Ok chego em quinze minutos"

Emili saiu da escola e deu a volta no prédio. O campo ficava atrás da escola, não havia muro nem grandes, era aberto para todos, havia uma arquibancada onde Emili foi sentar para esperar. A noite caia bruscamente e já não dava para ver muita coisa. A iluminação do campo era usada apenas em dias de jogos noturnos e tudo estava apagado. O celular vibrou novamente, era mais uma mensagem de Sara:

"Uma bela noite para morrer, não acha?"

Emili sentiu um frio percorrer sua espinha. Neste momento ela arrancou os fones de sua orelha, quando seu celular vibrou de novo:

"Calma, eu ainda nem falei que essa é uma bela noite para matar"

Emili ligou o flash do seu celular, e apontou para seu arredor, tentando ver se havia alguma coisa ou alguém naquela escuridão profunda.

- SARA ISSO NÃO TEM GRAÇA! - Gritou Emili, sentindo o medo dominando o seu corpo.

Mais uma vez o seu celular vibrou:

"Não é você que gosta de filmar os outros e postar na Internet? Agora eu vou filmar a sua morte"

As luzes do campo se acenderam seguido de um barulho estrondoso. a luz forte cegou Emili, que sentiu naquele momento uma lâmina rasgar seu calcanhar, enquanto berrava de dor caiu do alto da arquibancada. A dor tomou conta do seu corpo.

Emili foi arrastada pelos cabelos até o meio do campo, quando tentou gritar por socorro levou um forte chute em sua boca que chegou a quebrar a mandíbula. Assassino(a) então ergueu Emili a ponto de ela conseguir enxergar que bem no meio do campo havia uma estaca pontiaguda e próximo a esta estaca uma câmera amarrada em um pedaço de madeira. Neste momento em que Emili vê que a sua frente está a sua morte, ela tenta com todas as suas forças lutar, pra se livrar do seu terrível fim. Todas as tentativas foram em vão

O assassino então ergueu com todas as suas forças o mais alto que pode o corpo de Emili, abaixando violentamente em cima da estaca pontiaguda que ela havia visto, tamanha a força feita pelo assassino que fez com que o corpo de Emili fosse atravessado pela estaca, entrando por suas costas e saindo pela garganta, fazendo o sangue espirrar por todos os lados tornando a estaca de madeira vermelha.

As luzes se apagaram e o silêncio reinou absoluto.