Capítulo 6: Romeu & Julieta

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Apesar de todas aquelas sensações que me fizeram me achar o rei do drama, eu havia dormido bem. E nos meus sonhos nada daquilo havia acontecido. Era a minha mão que ele segurava. Acordei com um sorriso bobo no canto da boca, sonolento, até perceber que meu celular estava tocando uma música para me acordar. Aquela lentidão matinal me fez acreditar por alguns segundos que o sonho tinha sido real. Mas a dura realidade me veio como um tiro quando lembrei de ver Júlia de mãos dadas com as de Thiago. E só Deus sabia o que mais eles tinham feito durante a noite... e com a mordida que dei na minha própria língua, parei de pensar naquilo. Agora eu estava preocupado com o sangue na minha boca que começara a me dar um leve enjoo. Sangue no café da manhã: péssima ideia. Anotei mentalmente.

Pensei seriamente em inventar uma dor de cabeça que sempre funcionava para faltar a aula. Mas conclui que mais cedo ou mais tarde teria de encontrar com Thiago, então que fosse mais cedo pra aquela angústia de "como será que vai ser quando nos vermos novamente?" acabar mais rápido.

A escola estava cheia como era costume em segunda-feira, mas a minha sala estava parcialmente sem alunos. Creio que o encontro do cinema na noite anterior contribuíra a isso.

Fiquei olhando para a carteira vaga de Arthur e a da frente também vaga. Joguei os olhos ao meu canto e a carteira de Eleonora também estava sobrando espaço. Não fazia ideia de quantos dias ainda ela faltaria da escola, mas sabia que logo as provas começariam e as faltas iam lhe prejudicar no desempenho. Decidi então que a traria forçada à aula no dia seguinte, nem que precisássemos virar a noite estudando para ela conseguir uma média boa.

Quando a primeira pessoa apareceu na soleira da porta, minha barriga gelou, mas não era quem eu esperava. Ele só veio a aparecer quando o sinal soou, entrando junto com o professor. Era notável a falta de uma boa noite de sono. A pele dele, tão branca, estava marcada com olheiras sob os olhos. Ele caminhou até a carteira na frente da de Arthur vaga, mas percebeu que seu novo amigo não apareceria e olhou para mim. Com um tropeço no meio do caminho, veio até mim. Assenti com a cabeça quando apontou a carteira vaga na minha frente.

- Quanto tempo! - A voz dele escapou entre os dentes perfeitos que estampava um belo sorriso que aos poucos se desmanchava.

- Pois é - Disse enquanto rabiscava o topo da página do meu caderno onde deveria ser escrita a data do dia - Antes fosse... - sussurrei.

- Não entendi

- Aãh. Hm. Nada, pensei alto.

O quadro negro já estava lotado de matéria, e o professor já ameaçava apagar para dar tempo de escrever o resto do texto para a prova no dia seguinte. Era engraçado, mas não via Thiago copiar em nenhum momento do dia. Mais para o final da aula, depois de passar o intervalo sozinho sem saber onde Thiago estava, notei que na mochila dele só havia algumas folhas avulsas, mas não tinha nem porta canetas ou algo do tipo.

A aula terminou e todos da sala já estavam apressados, levando suas bolsas ainda abertas para fora da sala para correr antes do portão ficar tão lotado que demoraria para sair. Levantei, e com um simples tchau, continuei andando, sem esperar por alguma resposta de Thiago. Antes de atingir a porta, ele me segurou pelo pulso.

- O que você acha da Júlia? - Perguntou me olhando no fundo dos olhos.

Soltei um sorriso debochado.

- Ela é uma ridícula! Não sei o que você viu a ponto de se interessar por ela! Ela é superficial, fresca, mimada, cheia de preconceitos e arrisco dizer um pouco racista.

- Hm... dá pra engolir - Disse, enfim.

- Ela me pediu em namoro por mensagem. Junto com um bom dia. - Thiago tinha o celular na outra mão procurando pela mensagem.

Todos os erros que eu cometiOnde histórias criam vida. Descubra agora