Capítulo 9: Número 31

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Eu estava perdido dentro de uma floresta. Era tão escura e densa que cheguei a pensar se havia saída. Não era um sonho, apesar de me sentir em um. Sabia que era real pela emoção que me circulava. Nunca vira uma imensidade tão escura e sombria, mas que ao mesmo tempo transparecia tão calma e acolhedora. Por mais amedrontador que quisesse parecer, eu sabia bem que não era. Talvez era esse o disfarce. Era coberto por um mistério indecifrável. Talvez eu estivesse sendo enganado nesse exato momento, mas era assim que me sentia ao encarar os olhos de Thiago. Íris preta como um céu sem estrela. Via-me refletido nele.

Estávamos no centro da sala, atraindo toda atenção das pessoas presentes. Nossa professora de português estava de pé, no fundo da sala, com um papel na mão e uma caneta na outra. Olhando dali, poderia jurar que ela realmente estava interessada em sua matéria e em seus alunos que apresentariam um trabalho sobre Shakespeare.

Era segunda-feira, e eu não havia encontrado com ele em nenhum dos dias do final de semana. Nem mesmo contatado via mensagem, já que tinha perdido meu celular naquele ato infantil de me trancafiar no banheiro da escola para esconder meu choro dos fofoqueiros interessados. Não fazia ideia de quando ganharia outro aparelho, apesar de já ter pedido duas vezes para minha mãe que havia garantido que não ganharia mais nada já que havia perdido o anterior que fora bastante caro. (Ela não sabia da história, mas acreditou cegamente quando inventei que perdi no caminho para casa).

Já era a última aula, e Thiago só aparecera agora. Aquilo me causara um descontentamento de não o ver cedo para combinar os trechos de nossas leituras. O xingava de irresponsável mentalmente, mesmo que meu sorriso por tê-lo na minha frente não passasse a mesma impressão. Por todos esses motivos - e também os olhos dele que me tiravam um pouco fora do ar - não sabia como seria nossa apresentação.

Com um sinal de permitido, comecei falando sobre a vida de Shakespeare, claramente uma enciclopédia viva. Era tão decorado meu texto que podia jurar que meus colegas dormiriam na minha frente. Pausei, então, para encher meus pulmões de ar e usar aqueles milésimos de segundos para pensar em alguma nova forma de apresentar meu trabalho. Mas foi nessa breve pausa que a voz de Thiago ecoou pela sala.

Não só falava frases do livro, como parecia um ator de teatro recitando suas falas. Ele saltava pela sala, ia até os colegas lhes passando novas informações sobre nossa obra como tema. Fiquei boquiaberto com a fluidez que as coisas aconteciam. Ele começou a falar tudo o que eu tinha para falar, e não esperava aquilo do garoto que não levava nem caderno para a escola.

Quando ele se deu por satisfeito, caminhou até nossa professora como se galopasse em um cavalo, e ajoelhado, com a mão dela nas suas, ele concluiu nossa apresentação com uma frase:

- Case-se comigo, Julieta. - E beijou as costas da mão dela. - Essa é uma história de amor, você só tem que dizer sim.

- Eer... isso é Taylor Swift? - Eu balbuciei, entredentes, em um pensamento alto.

É claro que aquilo atraiu risos de todos da sala. E alguns até arriscaram aplausos. Foi aí que notei Júlia de pé, aplaudindo como uma mãe vendo seu filho marcando um gol nos minutos finais de uma partida de futebol. Revirei os olhos, me deparando com as frases que era para eu ter dito marcadas no meu papel. Thiago atraiu minha atenção saltando na minha frente.

- Aquilo era para ser com você. Você que não quis ser minha Julieta. - Disse caminhando para meu lado, se apoiando com as costas no quadro negro - E sim, era Taylor Swift.

Todos os erros que eu cometiOnde histórias criam vida. Descubra agora