Capítulo 10: A maior das listas mentais

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Eu deveria ter pensando mais antes de lançar um papel com versos rimados pelos portões da casa de Thiago. No outro dia era feriado, não o encontraria. Não apareceria na porta do número 31 novamente só para lhe gritar, do fundo dos meus pulmões, o quanto ele estava me fazendo mal. E o pior de tudo era que eu havia me apegado a tal doença. Então teria que esperar um pouco mais para encontra-lo e aquilo não me agradava.

Estava com Eleonora na praça mais movimentada da cidade, cada um com seu sorvete em mãos (ambos comprados com o dinheiro da mãe dela). Léo me contava da experiência de abandono aos estudos e não me aconselhava a tal. Mas era fato de que eu não tinha um motivo para isso, não carregava uma criança na barriga e muito menos queria abandonar a escola. Era o único lugar em que via... e novamente já estava pensando em Thiago.

- Minha médica disse que pode ser uma gravidez de risco. - Deu uma lambida em seu sorvete, com a mesma tranquilidade e leveza com que falara, como se o não fosse preocupante - Por isso sugeriu mais descanso e repouso. E tem uma dieta horrível para seguir.

- Mas o que é que você faz de pesado numa sala de aula para precisar abandonar os estudos? - Perguntei demonstrando mais preocupação que ela própria.

- Muito estresse. Ficar trancafiada numa sala de aula. - Concluiu, sem qualquer fundamento.

Concordei com a cabeça apenas para poder lamber meu sorvete.

Passamos o restante do dia juntos, indo de loja em loja que insistiam em deixarem seus funcionários trabalhando pós meio-dia em um feriado ensolarado e muito quente. A cada dez minutos, Léo me pedia para pararmos e sentarmos um pouco. Andávamos, mas ela tinha em mente que precisava repousar. Mesmo que para mim aquilo não fazia qualquer sentido.

- E seu namorado?

- Não namoramos. - Meu olhar jogado em cima dela tinha toda a emoção necessária para cortar o assunto.

- Bem que você queria! - Ela riu, me dando um empurrão no ombro.

- Não. Eu não queria. Sério. - Pausei, me perguntando mentalmente se não estava mentindo para mim mesmo. - Eu o odeio.

- Pois é, você faz bem. Ser marionete da brincadeira de bonecas dele não faz muito seu estilo. Ainda bem. Ser trouxa já basta eu.

Rimos, apesar da gravidade do assunto. Ela havia me contado que Pedro realmente era o pai. E eu não sabia como imaginar como seria esse filho. Eram opostos demais, até mesmo fisicamente, para que conseguisse imaginar uma criança. Brinquei com ela que os criaria no The Sims para testar a genética do jogo misturando as duas pessoas, que era só assim que meu cérebro teria noção da possível criança. Não havia contado para o futuro pai que ele seria pai. Preferiu guardar isso para si mesma. Quando perguntei o motivo, incrédulo, Léo disse que não queria estragar o futuro dele, guardaria a destruição só para sua vida. Mesmo quando insisti que Pedro não teria futuro nenhum (já era a segunda vez que ele fazia a mesma série) e que era obrigação dela contar, Eleonora desconversou.

- Na verdade... eu acho que realmente adoraria namorar ele. - Falei sem querer, a ideia sobrevoava pela minha cabeça como um urubu em cima de sua carniça.

- Deixa disso, Gu! A gente sabe como seria. Você namoraria, beijaria o que teria para beijar. Daria os amassos que teria que dar. E depois de duas semanas já enjoaria. Se sentiria preso e terminaria o namoro. Como sempre: um garoto previsível. Depois de conquistar o prêmio, ele fica na sua estante tanto tempo que você cansa de olhar. - Apesar de se referir a mim, aquela última frase não era exatamente me descrevendo.

Todos os erros que eu cometiOnde histórias criam vida. Descubra agora