Capítulo 12: Cachorro em busca de comida

820 115 43
                                    

O cinema estava cheio, mesmo sendo matinê. O público era todo infantil, e tirando os pais que os acompanhavam, nós dois éramos os únicos com mais de 8 anos naquele ambiente. Eleonora me olhava com uma cara de desprezo por eu a ter convencido a gastar seu precioso dinheiro naquela sessão. Mas, no fim, ela me agradeceu. Era infantil, mas com mensagens profundas, que nenhuma criança poderia entender (ainda).

O calor era tanto que aceitei a proposta de irmos para o clube, já que ela havia aceitado de boa vontade ir ao cinema comigo. Nos refrescamos e brincamos como se o espírito daquelas crianças do cinema fosse contagioso. Tentei aproveitar o máximo possível daquele dia, já que o sorriso de Léo era tão intenso e iluminador que me fazia sentir, de alguma forma, que nossas vidas teriam menos momentos como aquele. Infelizmente. Talvez fosse pelo fato da barriga dela estar grande, informando que teria alguém para cuidar e deixaria de ser a cuidada. E eu nunca entenderia como é que ela deixou tudo isso acontecer...

O sol já ameaçava se pôr quando ela anunciou a chegada inesperada.

- Putz! – Disse, antes de mergulhar o corpo inteiro na água, sumindo dos meus olhos.

Antes de desaparecer, com os olhos girando, deixou bem claro que era alguém conhecido se aproximando. Só que a palavra, antes de naufragar, me deixou confuso. Quando virei o rosto procurando por quem vinha desejei estar me afogando a ter que começar um diálogo.

Arthur parecia mais alto que o normal agora que estava sem roupa. Magro, com cabelos loiros molhados na testa, em sua sunga preta e extremamente apertada, caminhava com um sorriso bobo nos lábios vindo em minha direção.

- Não sabia que o clube das garotas frequentava a piscina. – Com pausas para mostrar seus dentes perfeitos, ele tagarelou com sua voz irritante. Logo estava sentado no mesmo banco de pedra que eu, cada vez mais quente devido ao sol.

- Se você está aqui, recebeu o convite. – Léo respondeu, criando risos verdadeiros em mim.

- Ah, olha só! A grávida e a gravidez indesejada.

Léo não queria esconder que estava grávida ou qualquer coisa do tipo. Ela só detestava quando usavam sua gravidez para piadas. No fundo, ela se orgulhava por ter a possibilidade de se tornar mãe. E com a brincadeira de Arthur, ela me deixou ali, sozinho, com ele. Fiquei observando seus mergulhos cada vez mais longe da gente.

- E o Thiago? – Perguntou atraindo minha atenção – Cadê?

Dei de ombros como resposta e me levantei. Pensei em saltar na piscina, e fugir dali como Eleonora, mas Arthur segurou meu punho.

- Talvez a gente precise conversar...

- Na verdade, Arthur, eu não tenho nada para conversar com você. – Olhei para a mão dele apertando meu punho. – Se me dá licença...

- Você sabe que é culpa sua ele ir embora, né? – Me soltou, e eu gostaria que parassem de me lembrar isso – Você não sabe ser discreto, Gustavo?

Olhando para Arthur, o melhor exemplo para uma descrição da imagem de um príncipe das histórias infantis, tentei calcular todas as possibilidades de Thiago ser a pior pessoa para alguém se relacionar. Afinal, ele tinha escolhas horríveis para seu meio social: Júlia e Arthur era o melhor exemplo da pior espécie humana de cada gênero.

- Por sorte, Nóe não precisou levar nenhum humano para a arca. – Pensei em voz alta.

Saltei na água. Havia esquecido como estava gelada e do motivo de eu ter saído antes que Léo. Mergulhei para tentar espalhar aquele frio por todo o corpo e tentar me acostumar com a água. Não deu. Saí do outro lado, pela borda, e corri para a primeira ducha que encontrei. Não conseguia avistar Léo, mas o inconveniente do Arthur ainda insistia em aparecer.

Todos os erros que eu cometiOnde histórias criam vida. Descubra agora