Hoje eu começo a minha aventura lírica em torno de um tema bem peculiar, o acaso aparentemente menos fortuito da minha vida, ou por termos mais 'descalços', os meus chifres, imagino que muitos sejam os que aguardem num primeiro contacto visual com esse diário por uma imensidão de palavras a 'quente' dum mal-amado que luta para alcançar os aplausos dos que outrora o zombaram, ou uma série de frases inspiradoras para os recém-iludidos, mas a história não é bem assim, aliás, eu não sou assim, eu sou quem detesta as gentes que gastam milhentos 'eus' de si em sessões de lamentação e tortura por um passado que em abono da lógica e dos sentidos bem devia ser esquecido, havendo todo um presente a ser mais desperdiçado do que vivido, sou quem detesta aqueles que julgam que o mundo lá fora cabe nos tantos livros que enchem as suas bibliotecas de conhecimento sem sabedoria, e sentem-se no direito de ter à 'mão' uma frase feita perfeita para todo e qualquer acontecimento, mas acima de tudo, sou o maior fã de sempre da empatia, sabe aquela coisa de me meter no lugar dos outros e não me permitir fazer aquilo que não gostava que me fizessem,pois, sendo assim, admito que detesto as gentes à que muito 'simpaticamente' me referi há escassos minutos, mas não me posso permitir negar, que lá bem no cume da montanha da minha sensatez, eu 'lhes' sei, me sei e sei...
-Sei quão difícil é fazer a mente entender que assim, do nada, sem avisos, sinais ou frases de condolência, quem costumava ser o nosso sonho favorito passou disso mesmo ao inesperado pesadelo do nosso coração, sei o que é ser excelente nas engenharias, sociologias e tantas outras feitiçarias que o homem com toda certeza feio(só pode) inventou para tirar gente bonita cedo da cama, e ainda assim cometer a proeza de apostar o irrenovável tempo, algum dinheiro e tudo o que nos restar de intimidade num jogo de cartas já contadas, jogadores viciados e derrota garantida, sei quão duro é ser actor e ter de fingir que está tudo muito bem quando as lágrimas são verdadeiras, a novela tem como título "Mundo Dos Adultos", e o prémio de melhor actuação vai para aqueles que costumávamos amar com toda a verdade da alma, sei o que é ter de forçosamente desenhar um recomeço quando não se tem talento para a coisa, e pior ainda, quando um fim parecia tão distante da caneta e do papel do nosso destino, sei o que é ter de avisar ao ego que a pessoa que o alimentava já não é nossa, e que mais grave do que a fome egocêntrica, será aceitar que muito provavelmente chegará passado um mês de jejum, o aviso duma rede social qualquer dizendo que ela é hoje assunto da jurisdição duma pessoa, que segundo os espelhos mais simpáticos, não nos diminui, iguala, nem tampouco transborda, sei o que é acordar e de repente perceber que perdemos o norte, o amor, a sorte e só nos restou qualquer azarado desconhecido que se sentar ao pé de nós no táxi para contar que somos o 'génio' que descobriu que o amor afinal rima com dor, sei o que é notar que só porque a terra gira, existe um mesmo assunto, uma mágoa, uma mesma lembrança armada em perdida, passar noite após noite pela nossa almofada, sei o que é ter em carteira o desejo de ficar, quando os factos deixam clara aos olhos de quem quiser ver a necessidade de partir, sei quão frustrante é perceber que quando se trata daqueles que nos fazem mal, o tal karma de que tanto falam os adultos e equilibrados, tarda, atrasa, falha, e tudo faz para provar que desconhece as horas do relógio das nossas vontades, eu simplesmente sei que sem a minha adorada cara de pau não estou em posição de criticar ou repudiar quem quer seja(amorosamente falando), porque para todos efeitos, onde existem os absurdos, existo eu, Rui Jorge Oliveira "O Poeta chifrudo"