Sexta-feira, esse é o nome do dia da semana em que me encontro enquanto escrevo, ou por termos mais boémios, o dia do homem, aquele em que saímos para experimentar traições que de acordo ao 'machistamente' correto só são aprovadas para um género, beber para gastar o que fará imensa falta na segunda-feira, estar com amigos ou com aquela espécie de gente com quem só sabemos conviver se acompanhados de música alta e emoções á ponto de se falar sem dizer o que quer que seja, recarregar as baterias para outlra semana de digna tortura laboral, e no caso dos mais 'especiais', sair só para cumprir calendário, sabe, sem vontade, sem força interior nenhuma que o peça, só mesmo por respeito às forças do hábito; não vou dizer quem sou no momento nem por que cargas d'água estou aqui, em pé no meio duma discoteca, rodeado de algumas das moças exteriormente mais bonitas de Luanda e da melhor música eletrónica que se podia pedir, sem mover um único centímetro de mim, além dos dedos que quase agridem o ecrã táctil do meu telefone, porque a verdade é que eu também não sabia no começo da frase, até sentir á meio dela um toque estranhamente familiar no ombro:
-Marina...
-Olá, Rui Jorge, como vais?
-Eu vou bem, se for o mais comum á se dizer, vou estupefacto, se tiver sido abordado agora mesmo pela minha musa...
-Musa?!f
-Sim, donde achas que surgiu o diário de um chifrudo, Madame Lealdade?
-Primeiro, poupe-me do seu adorado sarcasmo, segundo, será que ainda não te descobriste bonito e inteligente o bastante para escusar de perder tanto tempo em punhetas artísticas por uma mulher que se perdeu na cama com outro, quando podes simplesmente optar por seguir em frente com qualquer outra iluminada na discoteca da vida, ou guardar o telefone e me acompanhar nessa dança?!
-Foda-se, ela ainda tem o dom de me calar, pensei para comigo mesmo enquanto me aproximo para a dança, toca nesse momento Cette Nuit de Joyce e Ridge, uma música por sinal muito bonita que ela fez questão de cantar o tempo todo no meu ouvido, e foi então que decidi perguntar se por acaso sabia o que significa "Cette Nuit":
-Esta noite, disse ela num tom provocador, beijando logo de seguida o meu pescoço;
-E o que queres para esse noite, perguntei imitando o tom provocador da resposta anterior;
-Ela respondeu com um longo beijo na minha boca, enquanto eu, buscava qualquer prova na minha alma de que ela era de facto o amor da minha vida, como se diz por aí, sei lá, uma falha de sustentabilidade nas pernas, um batimento descoordenado do coração, ou um simples arrepio na pele, mas invés disso, recebi apenas um feedback da minha calça, que mostrava um volume meio que pornográfico na altura, o que já era uma boa notícia, se esquecermos o papo inteligível da alma, seus afins e colocarmos a coisa na perspectiva do ego masculino; demos mais alguns beijos até perceber que uma discoteca era demasiado puritana para o tipo de pecado que pretendíamos cometer na altura...
Chegamos ao carro, e entrei rapidamente para a estrada porque ânsia era o que não me faltava de chegar á casa, mas por sinal eu não era o único na condição naquele momento, porque alguém decidiu abrir a minha calça enquanto conduzia e provar com que tipo de língua se faz um tipo esquecer a decepção amorosa mais dolorosa da sua vida, e ah, ela chupava bem ao ponto de me fazer colocar involuntariamente o acelerador no tapete, cantar o hino português em notas absurdas, arranhar o volante, recitar o alfabeto chinês de trás para frente e quiçá revelar a combinação do cartão de crédito, porque já era oficial, a fulana de tal traiu-me novamente, dessa vez com o meu próprio corpo...
-Finalmente chegamos á casa, tive uma ligeira dificuldade com as chaves, talvez por ansiedade, não sei, mas lá entramos, e meu corpo á queria numa intensidade que com alguma propriedade posso afirmar que beirava o selvagem, razão pela qual á tomei de assalto ali mesmo, na sala, com um beijo embebido em ereção e passado, mas sem mágoa, só a sensação de que podíamos ter sido bem mais e melhor um para o outro. Afastado o blábláblá mental, encostei-a contra a parede, á meio do beijo degustei do quê de paraíso que exalava do seu pescoço, enquanto abria aquele vestido encarnado encarnado, que na minha erótica opinião, só ficava mesmo perfeito se rodeados de gente.
-O vestido saiu, para a sorte da minha ansiedade, ela não usava sutiã, acariciei seus seios e á espaços fui chupando, eles eram pequenos e pontiagudos, bem á medida do meu tesão, ainda de seio na boca passei meu dedo pelo seu clítoris, gostei do gemido que recebi como reação e continuei massageando, até optar por me ajoelhar, estando ela ainda em pé, e substituir meus dedos já húmidos pela sua natureza feminina pela língua, e não vou negar que sempre quis fazer isso, saber se de tantas vezes que Marina me fez levitar sem qualquer toque, seu néctar teria gosto de estrelas, então chupei, chupei, chupei, senti suas unhas passarem com cada vez maior força pelo meu cabelo, ouvia-a dizer algumas coisas em línguas nativas do prazer e fui chupando com cada vez maior vontade, é sempre interessantemente inesperado ver o nosso carrasco sangrando suas fraquezas para cima da nossa sede de fazer o Karma acontecer, estava tudo perfeito, mas parece que sexo é coisa para dois, então Marina puxou minha cabeça para fora da sua fonte de prazer e virou-se contra a parede, como um sinal de que era a minha vez de ser desleal e apanhá-la pelas costas, o gesto incendiou-me todo!
-Comecei por uma penetração lenta e profunda, rapidamente mudei a intensidade, e penetrei o mais depressa que podia puxando pelo seu cabelo, seu interior não possuía nada de sobrehumano, mas seus gemidos eram qualquer coisa digna dum Óscar na categoria de melhor trilha sonora de pornografia não-remunerada, e sendo assim, truz-truz, adivinhem só quem não levou mais de um minuto á atingir o orgasmo? Sim, eu, e olhando para a sua cara de decepção, eu podia buscar justificativa para o sucedido no facto de já ter mencionado a palavra 'ansiedade' nesse texto, ser mais 'macho' e dizer que a culpa é toda dela, por ser demasiado gostosa, apontar á abstinência sexual dos últimos tempos como álibi, dizer que talvez só não tenha tido estrutura para lidar com a metáfora de vida que é, em plena feira dos acasos amorosos, foder com quem noutrora fodeu com minha pureza lírica, sem se importar que talvez naquele momento ela ainda se visse toda em sentimentos e poemas perfeitamente apaixonados por si, dizer que sou um angolano demasiado humano para pensar na plena satisfação sexual duma mulher enquanto vivo numa sociedade em que caixões pequeninos são objeto do comum, sei lá, dizer qualquer coisa que pudesse de alguma forma proteger o bem-estar do frágil ego masculino, mas não, não o farei, porque do começo da noite ao final desse texto, entre tantas frases proferidas, só uma faria sentido:
"Obrigado pelo livro, ex-amor"