Caleb - Capítulo 2

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No dia anterior eu havia perdido o controle com um dos garotos da minha nova turma, ele se chamava Rafael, foi o mesmo garoto em quem eu havia arremessado uma lata de Coca-Cola pela metade uma noite antes. Provavelmente ele era o filho de algum milionário daquela cidadezinha esquecida por Deus e pelo demônio, ou talvez Rafael fosse o filho do demônio, ou talvez o demônio houvesse chegado naquela semana (eu). De qualquer jeito eu não sabia, eu havia perdido o controle e isso resultaria em uma hora a mais de conversa com a minha psicóloga.

Eu não sou louco, se é o que você provavelmente está pensando. Quando você fala para as pessoas que você vai ao psicólogo elas logo acham que você é louco porque pensam que psicólogo é quem cuida de malucos. Se você acha isso, bem, então eu vou te explicar. Psicólogo não cuida de malucos, eles são como terapeutas, você senta com eles e você conversa sobre tudo, você tem que se abrir para eles e eles não podem contar para ninguém o que você diz, nem mesmo aos seus pais. É como um segredo de estado.

Quando eu completei dez anos de idade eu passei a ir ao psicólogo todas as semanas, minha mãe viajava sempre e eu nunca a via. Eu passei a me fechar para as pessoas, para os amigos e parentes, eu não conversava sobre nada com ninguém, só ficava calado, brincava sozinho e assistia à televisão. Nem mesmo as comédias me tiravam um sorriso sequer.

Depois disso eu passei a ser violento com todos na escola, eu tinha muita raiva dentro de mim e não tinha nenhum amigo, as outras crianças implicavam comigo e eu me metia em brigas todos os dias, às vezes até com garotos mais velhos. Eu era uma bomba relógio sem hora para disparar.

Então minha avó resolveu me levar ao psicólogo pela primeira vez e ele me ajudava a controlar essa raiva. Eu parei de ir ao psicólogo quando fiz doze anos, eu ainda sentia a ausência da minha mãe, eu não me metia mais em brigas, não frequentemente. Quando eu fiz catorze anos a ausência de uma mãe e de um pai ainda me afetava muito, então passei a usar drogas escondido.

Todos os dias eu comprava drogas, arrumava uns comprimidos para tomar e ficava chapado o tempo todo. Quando minha avó descobriu, aquilo foi a gota d'água, ela ligou para minha mãe e exigiu que fosse me buscar para viver com ela.

Então minha mãe veio embora do Canadá pela primeira vez atendendo ao pedido que minha avó havia feito milhares de vezes.

Depois que ela chegou, nós nos mudamos várias vezes, porque ela era modelo. Ela aceitava novos empregos em novas agências frequentemente sempre que ofereciam um salário mais alto para ela. Vivíamos bem, sempre vivemos. Ela engravidara de mim quando ela tinha quinze anos, estava começando a posar. Depois que eu nasci minha mãe me criara até eu completar um ano de idade, quando eu tinha apenas dez meses de nascido o meu pai nos deixara, minha mãe ficou comigo até eu completar um ano e depois ela recebera uma proposta de emprego para ir para a Europa.

Graças a minha mãe eu já havia passado por cinco psicólogos diferentes, mas nem em tudo eles conseguiam me ajudar.

Desde os oito anos de idade eu sofro de terrores noturnos.

Eu acordo no meio da noite gritando sem motivo algum, gritos desesperados. Médicos não podem me ajudar com isso, nem os psicólogos, nem ninguém.

Eu sou um projeto mal feito de um arquiteto.

Todo mundo olhava para mim nos corredores daquela escola, coloquei o headphone nos ouvidos e ignorei todos eles, Rafael virou o rosto quando eu passei por ele em meu skate, era o intervalo e eu havia ficado no refeitório por longos dez minutos sozinho em uma mesa sem me importar que os outros olhassem para mim curiosos, eu queria apenas terminar o meu pedaço de Pizza e beber meu refrigerante em paz.

Andei sobre o skate pelos corredores da escola até sair para o pátio, parei e desci do skate, segurei-o com a mão esquerda enquanto eu admirava todo o lugar em que a escola havia sido construída, era realmente um lugar bonito, eu não havia prestado muita atenção naquilo no dia anterior, mas agora sim era possível ver que havia certa beleza em tudo aquilo.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora