"O que tiver de vir virá, e apenas teremos de lidar com isso quando vier"
- J.K Rowling
Quando eu apareci na cozinha naquela manhã, percebi que tudo estava estranhamente silencioso. Gustavo estava distraído com a tigela de cereais a sua frente enquanto mamãe tomava café numa caneca com estampa de uma foto dela desfilando – presente de algum fã – e lia o jornal. Não houve palavras ou ironias, naquela manhã o silêncio estava quase palpável.
Havia uma vitamina de morango pronta sobre a bancada da cozinha e ao lado um prato com bolo de cenoura.
Sentei-me ao lado de Gustavo na mesa e tomamos o nosso café da manhã em meio a todo aquele silêncio, em determinado momento eu comecei um debate interno sobre se eu deveria puxar assunto para quebrar aquele silêncio, foi então que eu me dei conta de que eu não tinha sobre o que conversar com minha mãe, cada vez que eu vasculhava minha mente a procura de algo que tínhamos em comum, eu não encontrava nada além de Victor. E falar de Victor naquela manhã seria como procurar por briga.
Decidi então que o melhor seria aproveitar o silêncio e apreciar o sol matutino que adentrava pelas janelas da casa.
Mamãe se levantou alguns minutos depois, pegou as chaves sobre a bancada e beijou minha testa e a de Gustavo antes de partir para o trabalho. Gustavo e eu nos entreolhamos por alguns segundos, eu sabia que ele deveria estar pensando no mesmo que eu: o que havia de errado com mamãe?
Limpei a garganta sem coragem de olhar Gustavo nos olhos.
- Então... Você e Sabrina...
Gustavo engoliu em seco.
- Desculpe, eu sei que...
Cortei a conversa antes que ele pensasse que eu estava com raiva:
- Está tudo bem, você não tem que se desculpar por nada.
Por mais que eu tentasse, Gustavo sempre se sentiria culpado, essa era a natureza. Por fora ele era forte, sorridente, o tipo de garoto que faz qualquer uma suspirar, ele exala segurança. Mas intimamente ele é como a chuva que cai em um dia de sol, pois logo depois de escorrer por sobre o telhado, ele se sente culpado, pois ele sabia que aquele momento não era seu momento.
- Tenho sim, essa não é minha casa. É sua casa, é da sua mãe. Eu sou apenas um estranho.
Balancei a cabeça negando.
- Você é meu irmão, embora não por sangue, mas isso não importa.
Gustavo pensou um pouco.
- Irmão... Melhor amigo – Gustavo disse com um sorriso. – Acho que somos uma dupla dinâmica, Toyboy.
Sorri.
- Com certeza.
***
Gustavo foi para escola em seu Jeep, mas eu decidi negar a carona com a desculpa de que eu queria ir para a escola de skate ou de bicicleta, pois eu precisava pensar um pouco, o que na verdade não era bem uma desculpa, pois para o que eu estava prestes a fazer, eu precisava pensar bastante, pois não seria a primeira vez que eu estaria invadindo a privacidade de alguém tão próximo a mim. Ainda mais quando esse alguém era a minha mãe.
O Jeep rugiu pela rua até que eu já não pudesse mais escutá-lo. Deixei minha mochila sobre o sofá e corri diretamente para as escadas sem sequer olhar para trás, subi os degraus como um criminoso fugindo da polícia. Quando eu levantei naquela manhã, eu não havia planejado revirar as coisas da minha mãe atrás de algo de seu passado, mas então eu comecei a pensar em todo o esforço de Victor para saber o que havia dado errado e em que momento isso havia acontecido, e depois o jeito estranho que minha mãe havia me tratado naquela manhã me dera uma sensação de que eu poderia conseguir algo para ajudar Victor naquele mesmo dia.
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Olhos Azuis
Teen FictionSeus olhos brilhavam intensa e vividamente após cada palavra que eu dizia. Suas mãos buscavam pelo calor das minhas mãos, seus dedos se entrelaçaram aos meus dedos e uma onda elétrica percorreu de seu corpo para o meu. Éramos como ímãs, atraído...