Olhos Azuis

Cartas Perdidas - Capítulo 8

Eu não conseguia acreditar na sensação maravilhosa e indescritível que eu estava sentindo. Caleb estava com a cabeça recostada em meu ombro enquanto ele dormia. Seu peito subindo e descendo enquanto respirava. O corpo exausto, o cansaço vencendo todo o seu corpo. Nem mesmo os buracos pelos quais o Jeep passava conseguiam acordá-lo com os impactos.

Era fim de tarde, havíamos ficado na cachoeira por dois dias conversando, fazendo piadas, mergulhando e nos divertindo, foi legal conhecer todo mundo minuciosamente daquele jeito. Eu peguei Rodrigo observando e rindo pelo retrovisor enquanto ele dirigia, as meninas conversavam sobre coisas de suas famílias chatas e Nathan e Caio finalmente estavam dormindo, senão não teria aquela paz toda no Jeep. O vento batia com força sobre nossos corpos, estava gelado e isso fez com que eu me arrepiasse por instinto. Apertei mais Caleb contra o meu peito para proteger seu corpo do frio.

Esse foi outro motivo de termos saído mais cedo do que pretendíamos da cachoeira, o rádio anunciava chuva pelo restante da semana e geralmente quando chovia muito a cachoeira enchia e nós não queríamos ter a surpresa de acordar enquanto a correnteza carregava todo mundo e todas as barracas abaixo.

Caleb mexeu um pouco a cabeça, ele não havia percebido que quando ficou com sono acabou dormindo sobre meu ombro. Olhei para o retrovisor, os olhos de Rodrigo estavam sobre mim, ele meio que sorriu de novo antes de desviar o olhar. O céu estava ficando escuro, as nuvens negras encobriam toda a imensidão azul, não eram mais os olhos de Caleb nos observando do alto, agora era as nuvens escuras acima de nossas cabeças que nos observavam.

Um trovão ressoou por entre a camada de nuvens pesadas, uma luz brilhante inundou o céu quando clarão resultado da descarga elétrica de um relâmpago nos assustou como um flash de câmera.

- Sabia que eu nunca vi Caleb confiar em alguém tanto igual ele confia em você? – Rodrigo perguntou me tirando dos devaneios sobre a chuva que estava chegando.

Ele tinha falado com cuidado para que sua voz não tirasse Caleb de seu sono.

- Sério?

Rodrigo balançou a cabeça.

- Nem mesmo quando ele era amigo de Rafael.

A menção ao nome de Rafael me fez fechar os punhos sobre o estofado do Jeep, tentei não demonstrar a raiva que eu sentia por aquele garoto, pois Rodrigo era o irmão dele. Virei o rosto para fitar o rosto de Caleb mais uma vez, a expressão serena, as bochechas estavam rosadas por causa do vento e os lábios entreabertos onde uma fina linha escura mostrava o quanto os lábios estavam levemente separados.

Eu tive uma vontade imensa de beijá-lo ali mesmo enquanto ele dormia, mas eu me contive. Não demorou muito para que o Jeep parasse em frente a minha casa, Caleb ainda estava dormindo em um sono profundo que eu não queria acordá-lo de jeito nenhum. Rodrigo desceu e abriu a porta do Jeep para mim, olhei para Caleb de novo e com cuidado comecei a descer do Jeep deixando sua cabeça ainda recostada em minha mão para que ele não tombasse.

Se eu pudesse carregá-lo sem o acordar eu faria, mas qualquer movimento o faria despertar, então chacoalhei de leve o seu ombro.

- Chegamos? – Ele perguntou sonolento.

Eu sorri.

- Sim, chegamos.

Ele balançou a cabeça assentindo enquanto Rodrigo tirava as minhas coisas e as de Caleb do carro.

- Me ajuda aqui? – Caleb perguntou.

Segurei em seu braço e Caleb foi descendo devagar.

- Cuidado com a calçada... – Alertei. – Pode ir descendo os pés até o chão, não há perigo...