Eu não estava incomodado com os gritos.
O tempo ainda estava nublado, a chuva havia derrubado algumas árvores pela cidade, mas não havia nada de muito grave. As pessoas caminhavam pela rua em direção aos seus afazeres e caminhadas matinais.
Naquela manhã eu tinha dado um beijo em Caleb após levantar bem cedo, recebi um abraço de Victor na varanda frente a sua porta, e depois caminhei o pequeno trajeto para a minha casa. Eu estava quase saltitante depois da noite carregada de emoção que eu tivera após descobrir toda a verdade sobre o meu pai, ou pelo menos parte dela, já que eu ainda precisava saber parte da história pela minha mãe e tentar descobrir o que Victor ainda não sabia.
Quando eu abri a porta, eu a vi caminhando de um lado a outro pela sala enquanto Gustavo assistia a tudo com uma grande interrogação no olhar. Mamãe quase correu em minha direção após ouvir a porta bater atrás de mim.
- Onde você estava? Que roupas são essas? Você quase me matou do coração!
Ela me segurava pelos ombros e me forçava a olhar diretamente para seu rosto, e após um abraço preocupado, ela me soltou para então começar com uma sessão de gritos que me fizeram ter desejado não ter saído da casa de Caleb naquela manhã.
- Eu estava com Victor – soltei sem pensar. – E essas roupas são de Caleb.
Mamãe engoliu em seco enquanto seu rosto assumia um tom pálido anêmico, ela deu um passo para trás e apoiou a mão no encosto do sofá. Gustavo levantou-se do sofá com um salto e ficou de prontidão olhando de mim para a minha mãe. Minha mãe, por sua vez, permanecia com seu olhar preso sobre meu rosto como se eu tivesse descoberto todos os segredos que a humanidade esconde.
Eu não tinha respostas para questões sobre a Área 51 ou sobre o assassinato de JFK, eu não era nenhum físico ou astrônomo procurando desvendar segredos do universo, eu nem mesmo sabia da história de Watergate, eu não possuía a lista de membros do Illuminati e desconhecia de qualquer coisa relacionada a maçonaria. E mesmo assim eu me sentia como se houvesse desvendado o maior segredo de todo o mundo.
Eu sabia quem era o meu pai.
- Precisamos conversar – mamãe disse incerta. – Gustavo, você pode subir?
Segurei o braço de Gustavo quando ele passou por mim para subir para o quarto.
- Fica – pedi olhando em seus olhos.
Gustavo olhou para minha mãe, ela apenas limitou-se em assentir, e então ele se sentou no sofá.
Mamãe passou as mãos pelo cabelo desgrenhado e tentou controlar algumas mechas que insistiam em cair sobre seus olhos, suas mãos tremiam um pouco e depois disso, ela abraçou o próprio corpo, levantou a cabeça e respirou fundo.
- Você sabe.
Assenti ainda um pouco trêmulo, por alguns segundos eu não consegui me mover, eu apenas esperava impaciente para que ela me dissesse uma parte da história que eu ainda não sabia, a parte que Victor não conseguira responder, a parte que meu coração ansiava saber, a parte que somente minha mãe mantinha em um baú trancado no fundo de sua mente.
- O que ele te disse?
- O que você me escondeu. Que ele é meu pai, entre outras histórias que ele me disse.
Seus olhos estavam sofridos, ela abriu a boca.
- Você não pode acreditar em tudo o que possivelmente ele deve ter dito.
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Olhos Azuis
Teen FictionSeus olhos brilhavam intensa e vividamente após cada palavra que eu dizia. Suas mãos buscavam pelo calor das minhas mãos, seus dedos se entrelaçaram aos meus dedos e uma onda elétrica percorreu de seu corpo para o meu. Éramos como ímãs, atraído...