Sem Asas - Capítulo 13

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Desci as escadas correndo com meu skate em mãos e a mochila nas costas. A noite passada fora uma noite intensa em vários sentidos, uns bons e outros bem ruins. Minha cabeça ainda dava voltas e mais voltas, sempre indo e voltando para aquela conversa.

Caleb...

Eu não desistiria assim tão fácil, não sem lutar, não sem morrer no campo de batalha. Eu só iria parar de lutar quando a última força de meu corpo estivesse se esvaído.

Abri a porta e saltei para fora sem falar com ninguém, nenhuma pessoa mais me importava naquele momento de agonia, somente Caleb. Coloquei o skate no chão e subi em cima dele impulsionando o meu corpo para ganhar velocidade.

Era bom poder sentir novamente o vento no meu rosto, a sensação de liberdade, por menor que ela fosse.

Quando minha mãe dissera que eu não deveria mais ver Caleb, foi como se todos os fios dentro de mim que me mantinham funcionando se rompessem em apenas um toque. De repente tudo havia caído, estava ao chão, tudo havia virado ao pó.

Do pó ao pó.

Passei praticamente voando pelo portão da escola ignorando milhões de olhares sobre mim. Meus amigos me esperavam na porta, ansiosos, desci do skate e os cumprimentei. Fui recebido com um gritinho e pulinhos de Sabrina.

- Bom dia, gênio do mal – Rodrigo disse com um sorriso.

O diretor passou por nós no mesmo instante lançando um olhar demorado para cada de um nós.

- O que deu nele? – Perguntei.

- Ele acha que a qualquer momento eu posso ter outro "ataque" – respondeu Amanda fazendo aspas no ar ao mencionar a palavra "ataque".

Caio e Nathan se divertiam assistindo a um vídeo no YouTube, Amanda e Sabrina não paravam de tagarelar sobre uma garota que antes costumava ser amiga deles e que naquele momento ela havia se bandeado para o time do desprezível Rafael.

- Por que Caleb veio sozinho com o tio hoje? – Rodrigo perguntou se aproximando. – Vocês dois são como ímãs, o que aconteceu?

Engoli em seco, eu ainda não tinha pensado sobre o que falar com os meus amigos caso eles percebessem o meu afastamento de Caleb, nós havíamos combinado de nos vermos somente quando não houvesse minha mãe ou Victor por perto.

- Eles... Tiveram que chegar mais cedo – menti.

Rodrigo assentiu e deu de ombros. Respirei aliviado quando percebi que ele não tocaria mais naquele assunto. O sinal tocou e todos os alunos começaram a se mover indo para suas salas. Logo, o corredor ficara vazio e silencioso.

***

Depois das primeiras aulas eu me senti meio deslocado, ver Caleb e não poder me aproximar dele estava sendo bem difícil. Parecia que eu estava sendo testado pelo universo para ver até onde eu iria. Não tive vontade de comer nada durante o intervalo, 1) porque eu não tinha apetite de comer mais nada, 2) porque o rosto debochado de Rafael com os amigos me dava vontade de vomitar minhas entranhas, e, 3) porque eu sentia falta de Caleb.

- Escuta isso – Rodrigo chegara de repente me assustando. – Estou sabendo que Daiane está bem a fim de você.

Eu ainda estava com a cabeça em outro lugar quando Rodrigo começou a estalar os dedos frente ao meu rosto

- O que? – Perguntei olhando para ele.

Ele sorriu.

- Daiane está a fim de você.

Olhos AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora