"Eles não têm medo de nada juntos, desafiaram satanás e todas as legiões".
- O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë)
A cada dia que passava tudo parecia piorar em um oceano de angústia e desilusões sem fim.
Meu rendimento no colégio parecia estar caindo, minhas notas só baixavam durante as semanas que sucederam a festa. Eu mal conseguia encarar Daiane e Rafael, pois eu tinha certeza que de alguma forma Rafael estava envolvido com o que acontecera comigo em sua casa.
Quando meus amigos descobriram o que acontecera comigo, eles ficaram boquiabertos, e até mesmo as meninas queriam dar uma lição em Daiane. Rodrigo e Gustavo foram os que pareceram ficar mais perplexos com tudo aquilo, eles se sentiam culpados de alguma forma, pois logo depois que eu me afastara do grupo, eles resolveram curtir a festa com uma fogueira que fizeram na floresta perto da casa de Rodrigo.
Eu estava quebrado.
Eu não via mais Caleb, ele não estava indo mais para escola, e enquanto isso, Victor parecia se afastar cada vez mais, suas aulas ficavam monótonas a cada dia que passava. A única pessoa que parecia estar estranhamente bem e animada, era Vanessa. A vaca de salto.
Lembro que quando eu mencionei esse apelido, Gustavo riu até chorar, pois como eu, ele também parecia odiar muito a Vaca de Salto.
Minha bolsa estava sempre carregada de remédios.
Eu sentia dores pelo meu corpo o tempo inteiro, minha cabeça doía durante 70% do meu dia. Fora as náuseas que só me faziam querer ficar na cama quando eu chegava da escola.
Caio e Nathan ainda estavam com a ideia de invasão, eles não a tiravam da cabeça, mas sempre adiávamos o máximo que pudéssemos. Mas eu tinha que confessar que eu precisava de algo assim para poder tirar os problemas da minha cabeça.
Minha convivência com minha própria mãe só fazia piorar cada dia mais.
Se antes era difícil de nós obtermos contato, naqueles dias então era quase impossível. Eu não suportava ficar no mesmo lugar que ela por mais de dez minutos. Gustavo estava ali sempre ao nosso lado, ele se revezava em dar atenção para mim e para a minha mãe, mas mais para mim. Afinal, era eu quem sofria com terrores noturnos todas as noites.
Depois de um tempo, quando as crises chegavam, minha mãe nem aparecia mais na porta do meu quarto para me dar algum tipo de apoio, isso ficava por conta de Gustavo. Parecia que ele havia assumido a responsabilidade de cuidar de mim.
Teve uma noite em que Gustavo fora convidado para dormir na casa de Caio, pois os dois tinham que fazer uma maquete para aula sobre sustentabilidade. Eu fiquei sozinho no meu quarto aquela noite.
Então como sempre acontecia, eles chegavam se arrastando de dentro de mim, eles eram impiedosos e cruéis. Os gritos.
Depois de dois segundos gritando, eu abri os meus olhos. Minha garganta doía, os gritos eram excruciantes, agonizantes, eles eram a verdadeira personificação do desespero.
E ninguém estava lá por mim.
Nem mesmo ela.
***
Eu estava no estacionamento esperando por Gustavo. Praticamente todo mundo já tinha ido embora da escola, apenas alguns poucos professores caminhavam em direção aos seus carros. Gustavo tinha ficado na biblioteca esperando o resto do grupo, ao que parecia, eles estavam tramando mais um de seus planos infalíveis que sempre falhavam na hora H. Eu não estava esperando quando uma onda de tontura me deixara momentaneamente incapacitado, para não cair, eu me apoiei no Jeep de Gustavo até aquela sensação passar.
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Olhos Azuis
Teen FictionSeus olhos brilhavam intensa e vividamente após cada palavra que eu dizia. Suas mãos buscavam pelo calor das minhas mãos, seus dedos se entrelaçaram aos meus dedos e uma onda elétrica percorreu de seu corpo para o meu. Éramos como ímãs, atraído...