quatro - o terraço

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FLIPPED

| MICHAEL |

O ano seguinte trouxe mudanças. Mas a maior delas não aconteceu na escola, e sim em minha casa. Meu avô veio morar conosco.

Ele sempre encarava algo pra fora da janela, não importava que horas eram. Minha mãe dizia que ele encarava desse jeito pois sentia falta de vovó. Isso não era algo que meu avô conversaria comigo.

Na verdade, ele nunca conversou sobre nada comigo. Era assim, até que Luke apareceu no jornal local, "Oh, Michael. Posso falar com você?" Ele perguntou, apontando para o assento ao seu lado. Eu assenti, me sentando no banco próximo dele.

"Me conte mais sobre seu amigo Luke Hemmings."

"Luke. Ele não é exatamente meu amigo," eu debochei, tentando não parecer muito babaca para ele. Ele franziu o cenho, "Oh. Por que isso?"

Dei de ombros, "Por que você quer saber?" Ele sentou, colocando uma mão sobre meu joelho. Luke Hemmings não tinha aparecido no jornal por ter um p.enis grande demais pra sua idade. Não, ele apareceu na primeira página por ter recusado sair do terraço de uma casa abandonada.

Luke Hemmings e aquela casa estúpida. Toda manhã, ele levava uma escada para subir no telhado, sentava, suspirava e tocava a mesma música em seu violão velho e bolorento. Normalmente se a pessoa fosse ótima tocando violão, estaria tudo bem. Mas não, Luke Hemmings tinha criado um interesse por música Punk Rock durante os anos e tentava tocar uma música Punk Rock com seu violão desafinado.

E se a casa abandonada com o telhado plano fosse do outro lado da cidade, eu não seria capaz de escutá-lo e estaria totalmente bem com ele cantando o tempo todo até estourar seus pulmões. Mas não, a casa abandonada era do lado da parada de ônibus, onde eu estava, toda manhã.

Luke sempre disse que aquele era um presente de Deus para nosso pequeno cantinho no universo. "Hey Michael! Você quer tocar uma música comigo e meus irmãos?" Ele sempre perguntava e eu tinha que inventar alguma desculpa esfarrapada sobre não poder tocar com a família Hemmings, como na semana passada, "E-Eu não posso, me masturbei muito ontem. Acabei torcendo meu pulso." Ele fez alguns barulhos como se fosse rir e eu saí andando, satisfeito.

Ele sempre cantava a mesma música estúpida. Depois de duas vezes ouvindo seus miados eu já sabia a letra da música de A a Z. Era I Miss You de Blink alguma coisa e já estava irritando eu, Calum e todas as outras crianças que esperavam o ônibus pra ir pra escola.

Calum resmungou, "Eu odeio quando ele faz isso," Sempre pensei que Calum odiava Luke mais do que eu, o que nem ao menos era possível. Eu apenas estava feliz que era capaz de conversar sobre minhas frustrações com alguém que concordava comigo, ao contrário de meu avô.

"Eu acho que essa música é linda, você não?" Luke perguntou, ofegando um pouco por ter descido a longa escada muito rapidamente. "Bom, se por linda você quer dizer tão horrível que faz meus ouvidos sangrarem então sim, Luke, eu concordo," Respondi, dando a ele um sorriso falso. Ele revirou os olhos, adentrando o ônibus amarelo. Ele virou, "Você apenas não tem um bom gosto pra música, ou pra qualquer outra coisa na verdade. Eu tenho pena de você."

Isso estava vindo do menino que não tinha nenhum gosto musical. Se ele realmente tivesse um bom gosto musical, não me faria querer comer a pimenta mais ardida do mundo pelo resto da vida ao invés de ouvi-lo cantando.

Toda a família Hemmings era musical, e eles sempre tocavam música alta quando e onde pudessem, e a vizinhança inteira era forçada a ouvir. Irritou meu pai por muito tempo.

Mas o quanto meu pai estava irritado não era nada comparado com quanto Luke Hemmings era irritante naquele terraço estúpido, "where are you? And I'm so sorry...," ele já estava cantando. Esfreguei minhas têmporas em sinal de frustração enquanto eu tentava não jogar um tijolo em sua cabeça.

Toda manhã, toda droga de manhã eu tinha que escutar os miados de Luke. Mas um dia, quando Calum e eu andávamos até a parada de ônibus, nós ouvimos o barulho de tijolos se quebrando.

"Ouça, criança, eu estou muito perto de chamar a polícia. Você está ultrapassando e obstruindo progresso em um trabalho contratado. Ou você desce, ou nós destruiremos isso com você junto," um homem com um capacete amarelo, que aparentemente tinha o trabalho de derrubar a casa onde Luke sentava, disse.

"Meninos, subam aqui comigo. Eles não derrubarão se nós todos estivermos aqui," Luke implorou. Luke estava mais que frenético, eles queriam destruir seu lugar preferido no planeta. Eu não entendi porque essa casa, que podia facilmente ser o cenário de um filme de terror, significava tanto para ele. "Michael, por favor," Luke soluçou, lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Me senti mal por ele, mas não estava prestes a perde aula por isso.

"Por que ele não é seu amigo, Michael?" Meu avô perguntou, me tirando de meus pensamentos. Eu balancei minha cabeça. "V-Você teria que conhecer Luke."

Ele sorriu, "Bom, eu gostaria de conhecê-lo." Eu dei a ele um olhar interrogativo. "O garoto tem um peito de ferro. Por que você não convida ele pra vir aqui algum dia?"

Eu revirei meus olhos dramaticamente. "Um peito de ferro? Sério?" Ele assentiu entusiasmadamente. "Ele apenas é teimoso e insistente além da conta. E ele esteve me seguindo desde o dia em que nos mudamos."

Ele deu de ombros, "Bom, um garoto desses não vive na porta ao lado de qualquer um. Você é sortudo."

Meus olhos se arregalaram, debochando, "Um viado gosta de mim. Realmente tenho muita sorte."
A expressão facial do meu avô foram de feliz para furioso em 0.1 segundo, "Você não pode dizer essa palavra nunca mais, Michael". Eu me desculpei, mesmo que a desculpa não tenha sido sincera.

Ele me passou o jornal, pedindo para eu ler sem preconceito. Eu suspirei, levantando da banqueta e indo em direção ao meu quarto. Como se eu precisasse saber mais sobre Luke Hemmings, e instantaneamente joguei o jornal em um canto qualquer do meu quarto.

Luke não estava na parada de ônibus na manhã seguinte, ou na manhã depois disso. A casa estava totalmente destruída, e a parada de ônibus automaticamente já parecia bem melhor, e não um lugar para sequestrar alguém.

Ele estava na escola, mas você nunca saberia. Eu disse a mim mesmo que deveria ficar feliz por isso. Quero dizer, não era isso que eu sempre quis? Mas mesmo assim, me senti mal por ele. Eu iria dizer a ele que sentia muito, mas então pensei, não, essa era a última coisa de que precisava: Luke Hemmings achando que eu me importava.

Porque eu não me importava.

flipped ▷ muke (portuguese version)Onde histórias criam vida. Descubra agora