flipped ▷ muke (portuguese version)

cinco - mixtape.

FLIPPED

| LUKE |

Eu estava sentado em meu quintal, em um cobertor preto e branco com meu pai sentado ao meu lado e o violão colado ao seu corpo. Eu sempre admirei o talento musical de meu pai, e eu queria ser como ele.

Eu amava ver meu pai tocar violão. E também amava ver ele cantando enquanto tocava. Aprendi muito sobre meu pai dessa forma, ele sempre fazia suas próprias músicas e colocava toda sua felicidade, tristeza e/ou frustração nelas.

Ele cantava sobre qualquer tipo de coisa, como quando ele ganhou seu primeiro violão ou quando começou a cantar decentemente. E então em um dia, ele não começou a cantar, ele me fez uma pergunta, "O que está acontecendo entre você e, uh, Michael Clifford?"

Franzi o cenho, tentando esconder que corava furiosamente, "O que você quer dizer com isso? Nada."

Ele riu, "Oh, okay. Erro meu. É que você fala dele o tempo todo. Luke, eu quero que você saiba que eu e sua mãe conversamos, e nós apoiamos todas suas decisões. Quer você fique com uma garota ou um garoto, nós continuaremos te amando. E sempre vamos te amar."

Eu sorri, um sorriso de agradecimento, "Sobre Michael e eu, não sei. Acho que é algo em seus olhos, ou em seus lábios carnudos que admiro. Ou talvez seu sorriso. Ou a forma que ele me cumprimenta toda manhã com sua voz rouca. Eu apenas, é, eu não sei."

"Mas, e sobre ele?" Perguntou. Dei a ele um olhar interrogativo, não acabei de falar sobre Michael? "Você tem que olhar para a música inteira. Uma música é mais do que apenas algumas partes. Um violão sozinho é apenas um violão. Uma bateria sozinha é apenas uma coisa pra irritar seus vizinhos. E a voz, é apenas um som angelical. Mas se você colocar tudo isso junto, pode ser mágico."

Eu realmente não entendi o que ele queria dizer até que em uma tarde, quando eu estava naquele terraço com meus irmãos. Jack trouxe seu bongô e o Ben trouxe seu violão. Nós decidimos cantar outra música dessa vez, então cantamos Next To You do Chris Brown e Justin Bieber. Quanto mais eu escutava a música, mais maravilhado pelo som eu ficava. Comecei a perceber o quão maravilhoso é ser capaz de fazer isso.

Quando olhei para baixo, vi Michael andando com sua irmã mais velha, Larissa, "Hey, Michael! Você quer tocar uma música comigo e meus irmãos?"  Eu gritei, dando tapinhas no lugar disponível do meu lado.

"E-Eu não posso, me masturbei muito ontem. Acabei torcendo meu pulso." Meus olhos se arregalaram antes de eu soltar uma risada falsa, fechando os olhos em desgosto. Ouvi Ben e Jack rindo, porque aparentemente Larissa deu um tapa na cabeça de Michael. 

Eu não via o porquê dele não querer se juntar conosco, porque eu poderia ficar sentado ali por horas, apenas tocando meu violão enquanto vi as pessoas passando pela rua logo abaixo de mim. Foi durante dessas sessões com meus irmãos que a teoria de meu pai sobre a música subiu sobre meu mindinho do pé, para minha e cabeça e foi direto para o coração. E eu percebi como todas as peças do quebra-cabeça se encaixavam, era mágico.

Alguns dias eu acordava mais cedo apenas para aproveitar a vista da cidade enquanto a música tocava por meus fones de ouvido. Certa manhã, eu estava escutando Please Don't Go do Mike Posner quando ouvi um barulho ali embaixo.

"Com licença," eu gritei, "Licença, desculpe, mas você não pode estacionar aí, é uma parada de ônibus." O homem parecia perdido antes de olhar para cima e encontrar meu olhar fixo, "Hey, o que está fazendo aí? Você não pode ficar aí em cima, nós vamos destruir essa coisa velha. Agora desça."

Eu já sentia meus olhos marejado, "O quê? Não! Por quê? Você não pode destruí-la. Você apenas não pode."

"Ouça, criança, eu estou muito perto de chamar a polícia. Você está ultrapassando e obstruindo progresso em um trabalho contratado. Ou você desce, ou nós quebraremos isso com você junto," o homem com capacete amarelo disse nervosamente, obviamente irritado.

"Vá em frente! Destrua. Eu não vou descer, eu nunca irei descer," Para minha surpresa, eu vi Michael, e ele olhou para cima quase que imediatamente. "Meninos, subam aqui comigo. Eles não derrubarão se nós todos estivermos aqui," Eu implorei, "Michael, por favor," Eu me engasguei, lágrimas caiam por meu rosto, "Michael, por favor. Por favor."

O que aconteceu em seguida foi um borrão. Parecia como se toda a cidade estivesse ali. Mas mesmo assim, eu não iria me mover. Então Jack apareceu. Jack não era de se irritar, mas uma vez irritado, você não tinha outra escolha a não ser obedecer suas ordens. Ele conversou com o bombeiro sobre deixá-lo subir e ele subiu.

"Luke, está na hora de descer," Ele disse, estendendo sua mão para mim. "Jack, não deixe eles fazerem isso, por favor. Esse é o nosso lugar, não deixe que eles levem nosso lugar pra longe da gente."

"Eu sei, Luke, também me entristece mas precisamos descer agora."

Eu balancei a cabeça, minha visão ficando embaçada enquanto os segundos passavam, "Não posso."

"Luke," Ele disse severamente, "está na hora de descer." Eu continuei implorando e chorando, mas ele estava determinado a me tirar dali. "Está na hora," Ele continuava dizendo. E depois de algum tempo, eu desci.

E foi isso. Eu devo ter chorado por duas semanas inteiras. Ah, claro, eu fui pra escola e fiz o melhor que pude. Mas nada parecia importar.

"Luke?" Minha professora perguntou, me tirando de meus pensamentos. "Você sabe a resposta?"

Neguei com a cabeça, "Eu não ligo."

"Errado. A resposta que procurava era camisinha." De alguma forma, camisinhas, pênis e formas de ter sexo sem pegar herpes não pareciam muito importante naquele momento.

Eu não peguei mais o ônibus, usava minha bicicleta então eu não passaria na frente dos tijolos que um dia formaram o lugar mais magnífico do mundo, meu lugar.

Mas não importava o que eu fizesse, não conseguia parar de pensar nisso. Ouvi uma batida na minha porta e me virei, encarando Jack. "Você está bem?" Ele perguntou, mas claro que já sabia a resposta. Dei de ombros, "Era apenas uma casa."

Ele balançou a cabeça, "Não, não era apenas uma casa." Ele colocou um CD em cima de minha escrivaninha, apontando para ele. "Te fiz um CD. Tem músicas que te deixam feliz, e músicas que dão pra te identificar.
Eu não quero que você esqueça como se sentia quando estava lá em cima, cantando e tocando sua guitarra com Ben e eu."

Lágrimas escorriam por meu rosto enquanto eu levantava e o abraçava fortemente, "Obrigado, Jack." Era a primeira coisa que eu escutava pela manhã, e a última coisa que escutava antes de dormir. E uma vez que eu consegui ouvir sem chorar, eu comecei a me identificar com as músicas. E um dia me perguntei, eu ainda sentia as mesmas coisas pelo Michael?

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mixtape: compilação de músicas gravadas para cassete, CD ou outro meio.