Capítulo 1 - Falsos Reflexos

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Fora com o fim daquela tempestade que os gokianos puderam retornar às ruas de sua capital. Eram centenas saindo de prédios esculpidos pelo forte vento do planeta, e mais de milhares que procuravam sair do subterrâneo. Os mercadores e ambulantes, corajosos como sempre foram, se aventuraram contra as últimas ondas, as mais fracas, para salvar suas tendas e mercadorias que não puderam levar para os abrigos. Alguns já gritavam seus preços, enquanto outros sopravam seus instrumentos musicais, acompanhando cada passo das dançarinas lovanianas.

- São corajosos. – Price disse enquanto mastigava uma das frutas que trazia na sacola em sua mão. Ao seu lado, um inderiano mantia seu rosto fechado, ignorando a dor que sentia no braço escondido pelo manto que usava. – Ou eles simplesmente não temem a morte.

- Ou são idiotas. – Hughe replicou, lançando seu único olho bom na multidão que enchia a praça. – É fácil não temer a morte quando não a conhece.

Andre Price tirou seu capacete, permitindo que visse o que estava ao seu redor sem as informações que eram lançadas constantemente em seu visor. Seu rosto denunciava sua descendencia humana, mas seus olhos apenas denunciariam o fabricante se olhasse por muito tempo. A íris brilhava enquanto aquele homem buscava por traços de seus perseguidores.

- Não vejo nenhum deles. – Ele murmurou para seu colega azul. Deixou esboçar um sorriso antes de retornar a falar.- Pelo menos até onde eu posso ver.

- Não confio em um homem sem olhos. – Hughe murmurou de volta, franzindo o cenho ao sentir uma nova pontada de dor descendo-lhe o braço.

- Também nunca confiei em alguém que não conseguisse lhe cumprimentar, mas não fico jogando na tua cara. – Retrucou o humano com um riso.

- É de vital importância que os levemos em segurança, senão toda esse operação vai por água à baixo.

Andre apenas olhou para seu amigo, concordando com um aceno. Ambos precisaram caminhar por mais alguns minutos antes de chegarem ao hangar em que a Corvo foi atracada.

A nave negra permanecia imponente como sempre fora. Era o terror dos piratas e mercenários que cruzavam o caminho daquela ave, sempre carregando o melhor da tecnologia militar em seu interior. Era capaz de simular a velocidade da luz mais rápido do que muitos planetas sonhavam em alcançar.

- É essa aí? – Questionou o inderianou enquanto tentava massagear o braço para espantar a dor. – É nessa que vamos levá-los?

- Essa mesmo. – Price respondeu, dando um leve tapa no metal que cobria o bico da nave. – Cage não trouxe uma tripulação com ele para sua missão, apenas os membros do Conselho. É só esperar Lanier trazê-los à noite, e damos o pé daqui.

O inderiano deu mais um de seus longos olhares para o companheiro, desejando que este não se encontrasse errado em suas previsões. A guerra deixara de ser invísivel há muito tempo, não existia mais margens para erros. Se eles queriam trazer um fim para todo o sofrimento, a chave estava no Capitão Stuart Cage.

Sentaram-se próximos da nave, sobre algumas caixas de especiarias, e deixaram com que o sol daquele sistema se cobrisse com o horizonte de Go'k, aguardando à chegada de Lanier.

Andre permitiu-se apreciar as moças que passavam próximas da cerca que cobria o perímetro dos hangares e das pistas de pouso. Conseguiu imaginar uma vida nova para ele depois do conflito, com belas mulheres caminhando nas praias que só a Terra proporcionava, vivendo em uma casa extremamente simples, porém com tudo que ele necessitava para ser feliz. Não era um sonho tão impossível, pensava ele, era uma questão de tempo. Guerras nunca duram para sempre, muito menos essa. Havia alguém lutando para que esse fim chegasse logo, e tinha o poder de derrotar o líder das forças inimigas.

As Crônicas de Corenália - O Deus Entre Às Estrelas - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora