Capítulo 9 - Honra

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Centenas de oficiais corriam pelo corredor em que Lanier se encontrava. A gigante novariana apoiava suas costas contra a negra parede que seguia contínua por centenas de metros, contrastando com a tonalidade branca de sua pele. Poucos militares que passavam por ela conseguiam alcançar sua cintura. Era, com toda certeza, a mais marcante característica de sua raça, assim como os massacres promovidos por eles.

- Alguma novidade? – Hughes perguntou. O Inderiano também encostou suas costas contra a parede do corredor. – Já acabou?

- Eles já terminaram com ele. – Ela respondeu após inalar do vapor d'água que saía do gerador em sua cintura, chegando até a máscara que lhe cobria metade do rosto. – O próprio General utilizou de seu poder para convertê-lo.

Hughes levou sua mão até o curativo em seu braço, focando sua mente para expelir a dor criada pelo tiro levado em Go'k.

- Podemos confiar em Lummx? – O inderiano perguntou.

- Nenhum novariano pode ter sua mente controlada, mesmo que seja pelo General. – Lanier respondeu, diminuindo o fluxo de vapor com sua longa mão de finos dedos. – Thrunn controla o corpo inteiro de Hanger Lummx, e isto é irreversível, não há quem possa quebrar. Então, sim, podemos confiar.

- Mentes são perigosas. – Replicou o inderiano. – É mais que o necessário para nos causar problemas.

- Deixe isso comigo.

Lanier sentiu as engrenagens dentro da parede começarem a funcionar, erguendo a porta ao seu lado. De dentro saiu um Lyr receoso, que observou com um olhar conturbado para ambos os voluntários encostados na parede.

- Nós precisamos impedir que o Terceiro chegue à Terra antes que a tenhamos por neutralizada. – Lyr disse, levando sua azulada mão até o braço bom de Hughes, seu patrício. – Leve seu grupo até Sybil. Precisamos derrubar a Federação antes de qualquer outra coisa.

Hughes concordou com um leve aceno de sua cabeça, fixando seu olhar no único olho bom de seu superior.

- Assim faremos. – O inderiano respondeu. – Avisarei o Capitão Andre Price para que prepare sua nave.

- Precisamos que isto ocorra nas próximas duas horas. O General acredita que este Terceiro apareça no planeta em cerca de seis horas. – Lyr ergueu sua cabeça para que seu olho fixasse o seu olhar nos rubros olhos de Lanier. – Lummx irá com vocês, isto deve ser mais que o suficiente para o sucesso da missão. Assim que conquistarem Sybil, avancem rapidamente para as bases avançadas e fortalezas federativas mais próximas. Conquistem uma a uma.

- Prisioneiros para converter? – Lanier perguntou, emitindo uma espessa nuvem para cada palavra proferida.

- Não. – Respondeu o antigo Cônsul de Indéria. – Esvaziem cada base, cada fortaleza, e preencham com os nossos.

- Assim será feito. – Respondeu em uníssono Lanier e Hughes, assim como uma terceira voz vinda da sala em que Lyr saíra a pouco.

Hanger Lummx se pôs entre Lyr e Lanier, focando seu olhar escarlate no horizonte. Suas enormes manoplas rangiam conforme abria e fechava seus dedos. Vestia uma armadura feita especialmente para seu longo corpo novariano, forjada com a mais alta tecnologia lovaniana, aprimorada na Jaula de Thrunn na última década. O martelo-de-guerra do General brilhava em dourado sobre o negro da armadura espacial.

- Ponham-se em movimento – Disse então o estrategista inderiana. – Centena de milhares de naves nossas avançam por todos os continentes, o que não chega à vinte por cento de nosso potencial atual. Avancem e destruam Sybil, e assim que limparem os arredores enviaremos o resto.

Lyr virou suas costas para o trio, seguindo com passos firmes e largos pelo longo corredor, perdendo-se de vista entre os oficiais que transitavam ali. Lanier virou-se para encarar o novariano ao seu lado. Ambos tinham a mesma altura, nivelando seus olhares.

- Eu sei que pode me ouvir ai dentro. – Lanier disse, colocando seu longo dedo indicador sobre o martelo dourado em seu peito. – Suas manoplas fazem parte do legado de nosso povo, e eu sei que o Lâmina Escarlate e a Família Cage são as únicas coisas que lhe permite posicionar-se contra seus iguais e seus instintos. Mas agora sou eu, Lanier, quem lhe pede que mude suas prioridades. Você continua conectado a cada novariano do Universo, e o General sabe disso. Nos traia, e todos sofrerão, principalmente eu.

Hughes conseguiu ver o receio dentro dos rubros olhos do novariano. Hanger confirmou com um aceno de cabeça para Lanier antes de se pôr a andar em direção aos hangares.

- O que você quis dizer com tudo aquilo? – Perguntou o inderiano para Lanier. – Vocês não são irmãos, ou coisa parecida?

- Somos guiados pela honra e pelo anseio de guerrear. – Ela respondeu, dirigindo-se para os hangares ao lado de Hughes. – Ele apenas se lembrou que sua dívida comigo é muito maior que a que tem com Braax e com o Cage.

- E eu posso saber que tipo de dívida é essa?

- Não.

Hughes permitiu que uma risada saísse por entre seus lábios azulados. Pôs-se a seguir a novariana por dezenas de corredores até que encontrassem um imenso elevador que os levaria aos andares após centenas de metros.

Já não era mais possível contar o número de naves que se preparavam para decolar. O horizonte era preenchido pelas mais diferentes espaçonaves, rodeadas por milhares de voluntários e Decifrados que Thrunn conquistou ou converteu nos últimos anos.

- Parece que conseguiu um namorado. – Disse então Price ao sair de dentro da Dois Gumes. Usava sua antiga armadura espacial federativa, assim como o mesmo capacete que usara em Go'k, fazendo com que sua voz saísse modulada pelo microfone interno. – Isso é bom, ninguém é uma ilha.

- Nós precisamos chagar em Sybil o mais rápido que conseguirmos. – Ela respondeu, seguindo pela rampa da nave sem dignar seu olhar para Andre Price.

- Esse é o seu problema, minha querida. Você compartimentabiliza seus sentimos, ignora-os. Precisamos libertar aquela pequena Lanier que corria pelas ruas de Novar!

Lanier olhou para trás, e, sem conseguir resistir, deixou um sorriso nascer em seu pálido rosto antes de sumir dentro da nave.

- Eu sabia que ela iria sorrir! – Price disse ao erguer ambos os braços em comemoração. – Ela disse algo sobre Sybil?

- Sim. – Hughes respondeu, ambos os braços cruzados sobre sua armadura azul.

- Mas nenhuma equipe foi mandada para lá!

- Sim.

- Não era para esperarmos uma equipe especial antes de invadirmos a capital?

- Sim.

- Nós?

- Exato.

- O grandão também?

- Isso aí.

Hughes não conseguia enxergar o rosto de Price, apenas o longo visor negro que lhe cobria toda a face, com aço coluriano esmeralda cobrindo o resto do capacete. Foram necessários alguns segundos antes que Andre abaixasse os braços.

- Tá. – Ele então disse, ajustando o disco que havia na lateral do capacete, o que fez que algumas luzes surgissem e sumissem nas laterais do visor. – Tranquilo. Vamos lá, eu acho.

As Crônicas de Corenália - O Deus Entre Às Estrelas - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora