Capítulo 8 - Os Deuses em Meus Punhos

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A tripulação que ocupava a Ponte já conseguia enxergar o planeta. O mundo azul dos humanos estava prestes a sucumbir ao poderio da mais incrível frota que o Universo jamais vira. Milhares de milhares de espaçonaves seguiam seu líder até o próximo alvo do que chamavam entre si de "A Purgação".

- Atenção para todos os capitães. – Disse uma voz feminina pelo comunicador de cada uma das naves dos Decifrados. – Iniciem as devidas manobras em prol nos alinharmos para o Casulo. Todos os soldados devem se apresentar nos hangares de suas respectivas naves.

Cada capitão ainda vestia o uniforme de sua antiga filiação, seja a Federação, seja qualquer outra. A única diferença era o martelo de Thrunn pintado sobre o peito. Eles afastavam suas naves umas das outras, até que cada uma estive a uma distância precisamente perfeita. O plano era simples, e suas naves foram concebidas para concretizá-lo: Envolver o planeta invadido com suas quilométricas estruturas, criando um bloqueio para qualquer avanço interno ou externo. Era como capturar um peixe, e o rapidamente matar ao privá-lo de tudo que precisa para sobreviver.

- Você consegue sentir, não é mesmo? – Disse o velho inderiano, observando-o com seu único bom. O antigo cônsul caminhava pela cela, admirando o novariano preso pelos punhos por uma forte corda. A ironia residia no fato dela ser feita com o aço de Novar. – Nós não habitamos mais o universo que conhecíamos. Tudo está diferente, já somos seres diferentes.

Hanger Lummx tentou replicar, mas já não tinha forças para revidar. Ele deixara sua máscara com Diara, e não tinha outra forma para inalar o vapor d'água de que tanto necessitava. O novariano apenas fechou os olhos, ignorando o velho de pele azulada.

- Novar realmente criou uma raça forte, isso não há que negue. – Lyr retornou a falar, o inderiano observava agora vários relatórios através do seu monitor. – A única raça que não consegui decifrar. Será que seu cérebro não consegue compreender a verdade oriunda da luz que ofereço? Ou ela foi feita apenas para escrever histórias com o sangue alheio?

Lyr soltou uma longa risada ao perceber que Lummx não tinha forças para responder seu insulto. Ele ergueu um de seus punhos fechado, admirando-o antes de proferir qualquer coisa.

- Você consegue sentir, eu sei que consegue. – Ele então disse, seu olho bom brilhava mais e mais a cada palavra. – Sente a força do General inundando cada centímetro desta nossa dimensão, traçando caminhos novos para nós, guiando-nos por veredas jamais vistas!

A porta atrás de Lyr então se abriu, permitindo a entrada do gigante azul. Thrunn não sorria, e o redemoinhos brancos que eram seus olhos encaravam os de Lummx, que revidava com o inferno escarlate que eram os seus.

- A única coisa que eu sinto é que alguém nesta sala falhou, Lyr. – Disse o tirano, sua voz era como trombetas anunciando o cair das mais fortes muralhas. – Eu não fui, e muito menos o nosso convidado, já que este se encontra amarrado por uma corda novariana.

- Eu falhei? – Lyr perguntou atônito. Lummx conseguia enxergar uma faísca de medo nascendo no inderiano. – Todas as colônias humanas foram conquistadas, apenas deixamos Corenália, assim como havia perdido, General.

- Eu estou sentindo a presença do Terceiro, Lyr. – Thrunn então disse ao bater com a base de seu enorme martelo na superfície do chão, provocando um leve tremor. – Perdemos a chance de aliá-lo, e agora aquele garoto vive graças à ele. E eu só posso culpar aquele que deveria encontra-lo antes de todos. Falhe comigo novamente e eu lhe prometo um final pior que a morte.

O inderiano ficou olhando para o tirano sem saber o que dizer. Thrunn se aproximou de Lummx, elevando o novariano pelos punhos até que seus olhos se encontrassem. O tirano fitou seu olhar no mar de sangue que habitava os globos oculares de Hanger, divertindo-se com o que eles lhe contavam. O gigante azul abriu um longo sorriso no canto de seu rosto, intensificando o caos que habitava a tempestade de seus olhos.

- Algo em sua espécie lhes confere resistência contra as técnicas empregadas em meus Decifrados. – Thrunn então disse, mantendo Lummx erguido pelos punhos usando apenas uma de suas mãos. – Mas são apenas técnicas, nunca serão tão fortes quanto a fonte de que alimentam.

O tirano ergueu sua mão livre, pousando-a sobre a face de Hanger Lummx. O novariano tentou se desvencilhar do gigante, mas seria impossível sem sua máscara. A manopla de Thrunn cobriu o rosto inteiro do pálido gigante, impendindo de enxergar o General ou qualquer outra coisa.

- Sua mente pode não desejar me seguir, mas seu corpo deseja a carnificina que teu povo tanto anseia. Faz parte de vocês, foram feitos pelo Universo para este fim. – A mão de Thrunn brilhava em um forte tom púrpura, iluminando as paredes com uma intensa e pulsante luz. – Seu corpo sabe a quem deve obedecer para obter o que deseja. Ele já decidiu a quem seguir, Hanger Lummx.

O novariano deixou que seus lábios libertassem a personificação de sua dor na forma de gritos e rugidos, os quais ecoaram por toda a nave e pelas demais que formavam a frota do tirano. Ele conseguia sentir seus músculos traindo-o, negando suas ordens enquanto se retraíam, causando um sofrimento imensurável. Hanger não tinha mais controle de nenhum deles, seu corpo agora não o responderia mais.

- Coloque as manoplas nele, Lyr. – Thrunn ordenou enquanto observava o novariano ajoelhado. – Lhe providencie as ferramentas de seu verdadeiro labor.

Lyr apenas concordou com a cabeça, não seria sábio proferir qualquer que fosse a sua opinião sobre o acontecimento. O inderiano precisava de seus dois braços para levar uma única manopla de aço novariano, a mesma que Lummx usava no momento de sua captura em Go'k. Um novo gerador foi instalado para suprir a arma com a energia necessária, assim como uma nova máscara para que pudesse respirar.

Ambas as manoplas foram vestidas em Lummx por Lyr, assim como o cinto que levava em si o gerador. A máscara foi plugada ao longo tubo metálico que corria por suas costas, e a centena de fios coloridos religados às manoplas.

- Consegue sentir o alívio de uma nova vida ao meu lado, Hanger Lummx? – Thrunn perguntou ao se ajoelhar, apoiando seu peso em uma perna. – Nenhum dos meus irmãos teve em seus exércitos um novariano, hoje tenho dois comigo, e isso muda guerras. No seu caso, mudará universos.

O vapor de água trouxe alívio imediato ao corpo de Lummx assim que o gerador em sua cintura começou a funcionar. Ele se ergueu, mas seus punhos cerrados não o obedeciam, eles não tentavam ir de encontro ao tirano. Ele tentou se fazer falar, mas os músculos de sua boca, assim como suas cordas vocais, não ansiavam por aquelas palavras.

- Há deuses vivendo em meus punhos, General. – Hanger disse, mesmo que não quisesse. Não era mais ele no controle. – Suas ambições são as minhas. Seus sonhos são os meus.

- Eu acredito em você. – Respondeu o General, pousando suas mãos no rosto de Lummx. – É bom ter o aço novariano do lado certo desta guerra. Porém, eu ainda preciso fazer algo com aquele conspirador que ainda habita sua mente.

As Crônicas de Corenália - O Deus Entre Às Estrelas - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora