Capítulo 5 - De volta ao Jogo

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Raiva era o único sentimento que passava através da veias e artérias de Stuart Cage ao ver Lance Kirby novamente. Esperou até que o lovaniano que acompanhava o golpista ruivo tirasse suas algemas para desferir ele mesmo um golpe no, já golpeado, estômago dele.

- É melhor pararem com isso, ou não completarei meu salvamento. – Lance disse enquanto buscava ar para se recuperar das boas-vindas que o casal o dera. – Não vale bater no herói da história.

- Você é um traidor, além de um ladrão. – Stuart disse, erguendo o capacete de Lance entre suas mãos. – Ainda tem coragem de se vestir com a armadura da Federação. Será que não conhece o limite do ridículo, Kirby?

- Já conheci. – Lance respondeu ao puxar o capacete de volta para si. – Mas ele era um cara muito chato de conviver, então o deixei em algum planeta fora da orla.

- Capitão, os Decifrados já sabem que estamos aqui. – Lamir então disse, mostrando para Lance o monitor em seu pulso. Diversos soldados de Thrunn avançavam pelas câmeras de segurança. – Precisamos descer até às naves.

- Capitão?! – Stuart exclamou. – Você tem mesmo o sangue de seu irmão. Nenhum Kirby pode ser um capitão. Não sem que um Cage permita.

- Se lhe agrada, foi Henry Cage quem me fez capitão da Punguista. – Lance retrucou enquanto vestia novamente seu capacete. Ele esperou até que seu visor estivesse totalmente operante antes de continuar sua fala. – Logo antes de morrer durante uma entrega de explosivos que falhou. Não que isso me importe.

Stuart tentou desferir um novo soco contra o capacete de Lance, mas Rendas segurou-o pelo pulso, evitando que o golpe acertasse Kirby.

- Henry não era um contrabandista! – Stuart disse logo após puxar seu braço para longe de Rendar, libertando seu pulso. – Ele morreu em um ataque terrestre em uma lua solitária.

- Se lhe faz bem pensar assim. – Lance disse, dando as costas para os prisioneiros de Thrunn. – O importante é que nós três somos as únicas pessoas armadas nessa nave que não desejam atirar em vocês. Quem quiser, é só nos seguir.

Os três criminosos seguiram na frente, seguidos pelo relutante Stuart, junto dos demais prisioneiros. Dorvar olhava para o coluriano careca que acompanhava Lance, lembrando-se de que já o conhecia.

- Parece que há mais de um traidor neste trio. – Dorvar disse ao encostar sua mão em Lamir. – Não é mesmo, patrulheiro?

- Não existe traição se minha convicção nunca foi para com a Patrulha, Senhor. – Lamir respondeu. – Eu fugi sem causar qualquer delito militar ou civil.

- Está tudo bem. – Dorvar disse após soltar uma longa risada. – Depois disso já tivemos casos muito piores. Indéria que o diga.

Lamir confirmou com um aceno, focando seu olhar para os Decifrados que entravam no corredor. Muitos eram lovanianos, mas conseguia ver alguns colurianos entre eles, alguns muito familiares para ele e seu Cônsul. O grupo continuou avançando até chegar ao elevador que procuravam. Rendar e Lamir suprimiram o avanço inimigo, enquanto Lance entrava junto com os demais. Ambos os criminosos esperaram suas armas pedirem para desaquecer antes de entrarem também.

Algumas dezenas de andares seriam necessárias antes de chegarem até onde a Corvo estava ancorada. Lance era o único que mantinha em si uma feição calma. Era como estivesse descendo o elevador de sua própria nave.

- Meu irmão era mesmo um contrabandista? – Cage perguntou para Lance. Era evidente que esta afirmação ainda perturbava sua mente.

- Ele desistiu da Federação junto com o Victor no momento em que decidiram arquivar o caso. – Lance respondeu enquanto mexia em alguns botões de sua RAAF. O cano do rifle começou a criar uma tonalidade mais rubra conforme o tempo passava. – Forjou a morte e fugiu com ele a bordo da Punguista. Quando eu o encontrei, meu irmão já havia morrido. Seguimos juntos até aquele maldito gokiano atirar nele pelas costas.

- E o gokiano? – Daria perguntou. – Você o matou?

Lance olhou para a consulesa, seus olhos escondidos atrás do longo visor que cobria seu rosto.

- Sim.

- Obrigada. – Respondeu Daria após um longo suspiro. – Ele era um bom homem. Uma pena que o destino nos levou para lados opostos.

- Ele também pensava assim. – Lamir disse.

Lance colocou sua mão sobre o ombro esquerdo de Daria, como um sinal de consolo. Conhecia a nobre lovaniana tão bem quanto conhecera Henry, ele devia isto para eles. Com a outra mão ele empunhava seu rifle em direção da porta, e, no momento em que ela finalmente se abriu, disparou um tiro extremamente concentrado contra quatro Decifrados que os aguardavam do outro lado, sem que tirasse seu olhar de Daria.

Stuart disparou em direção da Corvo, abaixando a rampa que havia atrás dela para que eles entrassem o mais rápido possível. Lance, Rendar, e Lamir foram os últimos a entrar, providenciando cobertura para os demais fugitivos.

Foi Lance quem percebeu o gigante azul que caminhava até eles. Thrunn erguera um de seus braços, como se chamasse por algo. Foi após alguns segundos que o significado de tal gesto foi explicado. Seu gigante martelo, que até então ainda flutuava na antiga órbita de Lovan, retornou para seu dono. O aço azulado brilhava como se centenas de fogueiras estivessem acesas ao seu redor.

- Stuart. – Lance disse pelo comunicador de seu capacete. A mensagem logo chegou na Ponte da Corvo, assim como aos ouvidos do Cage. – Tem um monstro azul com uns onze metros de altura olhando para mim com um cara brava e um martelo. Tem como sairmos daqui, tipo assim, agora?!

Stuart acionou todos os reatores ao mesmo tempo, iniciando-os em modo de alerta, permitindo assim que a energia se concentrasse com mais rapidez ao desativar sistemas secundários, como os armamentos.

Lance correu para dentro da nave antes da rampa começar a levantar. Olhou para trás apenas para ver Thrunn caminhando até eles. Era como se o tirano não tivesse pressa.

- Simule a velocidade da luz! – Lance gritou para Cage.

- Garoto. – Disse então Stuart pelo comunicador da Cadeira de Controle. – Não venha querer ensinar o padre a rezar a missa.

E a Corvo sumiu, irrompendo contra o espaço e criando distância do Mais Sábio dos Tiranos. Stuart esperou até que todos estivessem na Ponte antes de dizer qualquer outra coisa.

- Estamos na estrada novamente. – Ele disse enquanto voltava seu olhar para Diara. – Mas para onde devemos ir?

Diara sentou-se em um dos assentos vazios próximos da Cadeira, deixando que sua mente elaborasse os próximos passos.

- Thrunn nos deixou fugir por não nos temer mais, se é que temeu alguma vez.

- E se Gabriel realmente está vivo, ele estará protegendo a Terra. – Daria completou o raciocínio de sua irmã.

- Então vamos para a Terra? – Dorvar questionou.

- A Federação inteira está lá junto com ele. – Fora Braax quem respondera o coluriano, ainda fraco sem sua máscara. – Devemos proteger o último grande reduto lovaniano. Corenália é o único posto avançado que a Terra tem nesta região.

- Corenália é o único porto seguro para nós e Gabriel. – Stuart disse enquanto traçava uma rota até o planeta púrpura. – Precisamos garantir esta vantagem para nós e a Terra.

E assim eles foram, sem saber que Corenália não era mais um porto seguro.



As Crônicas de Corenália - O Deus Entre Às Estrelas - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora