Capítulo 7 - As Luzes da Nossa Ribalta

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Mesmo após tudo que passara naquele planeta, era o cansaço seu maior inimigo agora. Lutava frequentemente para manter os olhos abertos e a mente atenta para qualquer acontecimento. Nem ao menos tirara sua armadura ao entrar na Coração Corenaliano, preferindo correr o mais rápido possível com Gabriel para a enfermaria em que estavam agora. Cage mantinha-se em algo parecido com um coma induzido, enquanto seu corpo rapidamente se recuperava da experiência que sofrera para leva-lo até o Entre Mundos.

- Você sabia que um lovaniano saudável dorme em média nove horas por dia? – Ste disse. A jovem, de cabelos loiros e curtos, cortados na altura dos ombros em um formato triangular e de franja reta, mantinha-se deitada na maca ao lado de Gabriel e Morga. Seu longo vestido negro, assim como suas botas plataforma, estavam sujas de areia e detritos de Dolórias, um planeta que não existia mais. – Deita em alguma dessas macas, não são tão ruins assim.

Morga Mi'ra apenas olhou para a Filha da Duna, imaginando como tanto poder e sabedoria se mantinham em uma mulher cuja estatura não permitia que seus pés tocassem o chão se estivesse sentada naquela mesma maca. A lovaniana tirou a manopla direita, permitindo que sua mão esfregasse um de seus grandes olhos arredondados, tentando assim espantar o sono.

- Eu durmo quando ele acordar. – Ela então respondeu, tentando manter uma feição séria e decidida em seu rubro rosto. – Germa disse que este coma não durará muito. Precisamos estar prontos assim que ele retornar.

- Mas eu quero que ele acorde agora! – Ste disse ao se debater como uma criança brava na cama. – Eu quero saber como é o Entre Mundos.

- É um lugar bem chato. – Cage então disse, sem abrir os olhou ou mudar a feição de seu rosto. – Muita areia, e uns tiranos de mentira te desafiando para duelos.

- Então a sua mente é bem chata, Gabe. – Ste respondeu, sem dar importância para o despertar em si de Gabriel. – Germa me disse que lá parecia um grande parque de diversões, com uma roda gigante enorme.

- Gabriel! – Morga disse ao se levantar da cadeira em que estava, aproximando seu rosto do de Cage. – Graças aos deuses, você acordou!

- É bom estar de volta. – Cage respondeu ao levar sua mão esquerda até o rosto da lovaniana. – Finalmente estou em lugar em que as coisas realmente existem. Já estava cansado de andar em lugares escuros e abstratos.

- Nós precisamos avisar o Kirby. – Mi'ra disse ao tentar correr até o comunicador da nave, mas acabou por ser impedida por Gabriel, que a segurou pela mão sem a manopla.

- Eu preciso falar com você antes. - Ele disse, olhando-a com uma feição séria impressa em seu rosto. – Eu preciso agradece-la por tudo.

- Isso não é hora, Cage. – Morga replicou. – Eu não fiz nada que não fosse parte da nossa missão.

- Eu sei sobre a sua profecia, Morga. – Cage continuou a falar, ignorando o que a lovaniana acabara de lhe dizer. – Eu não queria este destino para ti, você não merece sofrer um único segundo a mais nesta vida. Thrunn a fez sofrer, e hoje eu a fiz sentir dor durante o ritual das Filhas.

- Eu escolhi sentir esta dor, Gabriel. – Morga respondeu, sentando-se novamente para encarar o humano nos olhos. – Sofrimento sem arrependimento é uma promessa de alegria, não de tristeza. O que eu sinto por você faz parte de mim, e protege-lo me soa mais que natural.

- Eu pude sentir o mau que estava provocando em vocês. – Gabriel então disse após uma longa pausa em que se pôs a observá-la. – E consigo sentir a dor que você tenta esconder de mim. Eu lhe prometo, Morga Mi'ra, em nome deste sentimento novo e inesperado que eu sinto por você, que farei de tudo para que nunca mais sofra. O poder do Tirano Mais Nobre reside em meu ser, e se, por algum motivo, não me for possível cumprir esta promessa que faço hoje a você, então não há motivos para me confiarem tal poder.

As Crônicas de Corenália - O Deus Entre Às Estrelas - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora