Capítulo 2 - Juramentos

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Era possível ouvir os gritos e sentir o crescente medo que nascera na pequena avenida daquela cidade portuária. Viaturas desciam das mais diferentes localizações para cercar o estabelecimento em que os reféns se encontravam. Os vetagenos eram um povo com poucos avanços tecnológicos, focando seus esforços nos estudos da agricultura. Era como "uma cidadezinha rural do tamanho de um planeta".

Duas explosões afastaram os mais curiosos para longe do bloqueio policial, buscando por abrigo dos detritos que voavam para todas as direções e da nuvem de escombros que subira.

Uma delas foi para abrir caminho até o cofre do banco, a outra obliterou o grande relógio que habitara o topo do prédio por séculos. O ponteiro dos minutos se encontrava fincado à uma das viaturas, trespassando-a.

- Isto é uma loucura. – Gritou um dos policiais, agachado atrás de sua própria viatura. Tentava afastar rapidamente o zunido preso em seus ouvidos, obra das explosões tão próximas dele. – Este planeta não vê sequer um batedor de carteiras em décadas, e agora temos um maníaco explodindo tudo que toca!

- Eu vou tirar aquele condenado lá de dentro, mesmo que eu perca um braço pra isso! – Replicou um segundo policial que se recompunha da onda de impacto, o mesmo que o lançara contra à fachada da velha cafeteria da Klonna. Mas o tiro que se seguiu o fez retornar ao chão, ferido agora também em seu ombro.

- Não seja dramático. – Exclamou a voz de um homem. Vinha do exato local em que o relógio antes repousava. – Eu teria que explodir seu braço para isso, e só tenho este rifle comigo.

Um homem se apoiava entre os escombros e as telhas restantes do antigo telhado púrpura do estabelecimento. Vestia-se com uma antiga armadura federativa azul, com casaco de gigarino branco cobrindo o peitoral. Era alto, e seu lombo expunha algumas cicatrizes rasas, muitas se escondia na curta barba que protegia seu maxilar, além de acentuar o sorriso em seu rosto.

- Aquele ruivo está morto! – Gritou o policial ferido enquanto passava o um spray sobre a ferida, acelerando o processo de cura na região de seu ombro. – MORTO!

Um segundo tiro se seguiu: um novo grito de dor e outro ombro ferido. O rifle RAAF-15 nas mãos do assaltante, ainda soltava um pouco de fumaça e estática quando o criminoso voltou a falar.

- Eu disse para não ser dramático, cara. – O ruivo tinha seu cabelo curto, arrepiado. Seus olhos brilhavam como os de uma criança, parecia que acabara de ouvir uma boa piada ou de contar uma. – Neste exato momento, um daqueles para entrar na história, meus mais caros companheiros estão retirando nossas aposentadorias de dentro deste belíssimo prédio público. Peço perdão pela destruição do relógio, mas eu não via a hora de bater um papo com vocês.

O assaltante então sentou-se na beirada do telhado, balançando suas pernas enquanto olhava para os policiais e para os prédios ao seu redor. Deixou um leve riso tomar seus lábios por alguns segundos.

- Sabem. – Retornou ele à falar, apontando para a drogaria vizinha da cafeteria em que o policial fora lançado. – Quando eu era pequeno, com uns doze anos, eu e o meu irmão mais velho sempre íamos até uma doceria que ficava no centro da cidade, do lado de uma drogaria como esta. Eram os mais diversos doces e ele sempre comprava o suficiente para comermos na volta para casa. Mamãe não apoiava, temia pelos meus dentes. Um dia, nós não fomos comprar doce. Meu irmão fora atacado no hangar em que servia como engenheiro. O melhor amigo dele morreu dias depois, mas ele saiu quase que ileso. Quem quer que tenha entrado na oficina naquela noite, passou facilmente pelas cercas e soldados que deveriam protegê-lo.

As Crônicas de Corenália - O Deus Entre Às Estrelas - Volume 2Onde histórias criam vida. Descubra agora