Julia acordou em um sobressalto, enquanto o suor escorria por sua testa. Aquele pesadelo havia sido tão real quanto ela sabia ser possível. Suas mãos ainda tremiam bastante e o coração acompanhava a respiração acelerada. Cada batida como se fosse a última.
Havia se tornado rotina ter sonhos como aquele, mas sempre em lugares diferentes. Por causa disso, passou a anotar seus pesadelos assim que acordava. Acendeu o abajur e pegou o bloco e uma caneta que ficava ao lado de sua cama. Escreveu, com detalhes, o que aconteceu em seu sonho.
O desespero do jovem ao tê-la morta em seus braços, os pais o acusando de ter causado aquilo, a promessa que ele fez: "— Eu prometo que tentarei chegar mais cedo da próxima vez, Lizzie. Eu prometo". Anotou absolutamente tudo.
Quando percebeu que não havia esquecido nada, passou as páginas para ler os outros sonhos escritos. Na semana anterior, ela era uma judia presa em Auschwitz e o rapaz que a amparava nos braços era um soldado alemão.
Ela sabia que era apenas um infiltrado e que realmente não era um nazista, até porque as suas feições não eram aceitas por eles. Possuía incríveis olhos castanhos e cabelos escuros, coisa que fugia ao padrão imposto na época, na raça ariana. Julia chegou a se admirar pelo fato dele ter total acesso ao campo de concentração, sendo claramente que não fazia parte daquilo.
A única coisa que não via, em seus sonhos vividos, era a sua morte. Sempre era antes ou depois dela, mas nunca a via acontecer. De certa forma agradecia por aquilo, mas ao mesmo tempo sentia-se incompleta. Precisava ver o que acontecia.
— O que houve, Julia? — Tina perguntou. Os cabelos longos e escuros caindo por sobre o busto coberto, escondendo metade de um pijama com a cara do Garfield estampada na camisa.
— Não foi nada. Pode voltar a dormir — respondeu colocando o bloco e a caneta na cabeceira da cama e desligando o abajur. Voltou-se a deitar nos macios lençóis, antes que sentisse alguém ao seu lado.
— Eu sou sua irmã e isso que aconteceu não parece "não ser nada" — a jovem comentou, religando o abajur e encolhendo-se na cama de Julia.
— Tive outro pesadelo — deu-se por vencida, dividindo seu cobertor com Tina.
— O mesmo rapaz?
— Sim, exatamente o mesmo rapaz — suspirou pesadamente. Acomodou a cabeça no travesseiro que a jovem, de cabelos castanhos, prontamente tomou metade para si —, mas não era o mesmo sonho. Foi algo diferente agora.
— O que você viu? — a irmã apoiou a cabeça na mão, de forma que pudesse ter total visão de Julia. A ruiva fez o mesmo.
— Era em Londres. Fazia frio e eu me vi morta novamente — respondeu. — Ele chorava e prometia chegar mais cedo, da próxima vez.
— Ai que horror — Tina tremeu como se tivesse frio. — Chego a passar mal com isso.
— Acredite quando digo que é pior para mim. É uma dor imensa reviver isso sempre — comentou permitindo que seus cabelos vermelhos se espalhassem pelo travesseiro, deixando o aroma de recém lavado invadir o local. — Sabe o que é pior?
— O que pode ser pior do que ter sempre o mesmo sonho?
— É saber que ele sempre está ali. O jovem de expressão triste — fechou os olhos na tentativa de formar uma imagem mental do sujeito. — Ele sempre a ama e sempre a perde. Parece ser um destino cruel — respondeu suspirando ao proferir as palavras. — Eu sinto a dor dele e isso me machuca imensamente.
— Julia, esse cara deve ser algum ator que você viu em uma propaganda de margarina e, de alguma maneira, sua mente está recriando a imagem dele.
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Guardião - (Hiatus)
Mystery / ThrillerATENÇÃO: Esse livro é protegido pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Que assegura a punição caso haja o plágio. Não queira se meter em encrenca e não faça essa besteira sem tamanho. História registrada também na Creative Commons - Atribu...