Vaga-lumes

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Julia encarou a tela do computador por um tempo, sem esboçar qualquer reação e mesmo que Anitta gritasse do outro lado — e balançasse os braços para que a ruiva a olhasse — demorou um pouco para que ela voltasse a si.

— Ele falou comigo — sussurrou ao telefone. — O que eu faço?

— Fala "oi" — respondeu Anitta. — Agora eu tenho que te ensinar a paquerar? Fala sério, July.

— Não estou paquerando. Eu só quero saber o que está acontecendo e nada mais além disso. Não confunda as coisas — retrucou emburrada.

— Sei! Então vai direto ao ponto.

— Excelente ideia — Julia pigarreou. Anitta sabia que vinha uma interpretação digna de Oscar por aí. — "Oi, como você está? Estive sonhando com você nessas últimas semanas, o que não é nada estranho, e recentemente descobri que você e meu pai se conhecem e brigaram feio por algo misterioso e que me dá medo. Poderia me dizer o que está acontecendo, por favor? Não esquece de me explicar o porquê do terremoto".

— Olha, parece bom para mim.

— Vai te lascar, Anitta — A jovem respondeu enquanto a outra gargalhava. Até que Julia ouviu a voz da mãe da amiga chamar.

— Julia, eu preciso ir. Mamãe precisa de mim — se explicou como quem se desculpa.

— Está tudo bem. Boa noite e obrigada.

— Por nada — ela sorriu. — E me conta tudo pela manhã, quero saber de todos os detalhes.

— Eu conto.

— E quando eu digo: "todos os detalhes", eu quero dizer: "todos os detalhes mesmo". Se ele mandar fotos sem camisa, me envia pelo celular.

— Boa noite, Anitta. Tchau — Julia apertou o botão de desligar e colocou o celular em cima do criado mudo. Pegou o notebook e deitou-se na cama com ele. Respirou fundo, olhando para a saudação do jovem.

Antes que pudesse sequer pensar no que digitar, o celular vibrou na cabeceira da cama. Uma nova mensagem havia chegado.

Anitta
Não acredito que você desligou na minha cara, dona Julia Adams, mas eu entendo sua reação. Não é todo dia que um Dylan Norton nos chama no facebook. Não esquece de me manter atualizada sobre o que conversarem.
19:37

Julia respirou fundo e colocou o celular, novamente, onde estava. Voltou a encarar o notebook.

Julia
Oi, Dylan!
19:39

Escreveu, letra após letra. Perguntava se deveria responder ou apenas ignorar. Estava quebrando sua própria promessa de não confundir os relacionamentos. Dylan deveria ser apenas o parceiro de laboratório e só. Estava tudo errado ali.

Dylan
Não tive tempo de me despedir hoje cedo. Desculpe. Eu tinha algumas coisas urgentes para resolver.
19:39

Julia
O que poderia ser tão urgente? Um prédio em chamas? — brincou, mas se arrependeu em seguida e enviou outra mensagem.
19:40

Julia
Desculpe, não é da minha conta. Foi mal.
19:40

Dylan
Tudo bem, não se preocupe. Foram coisas antigas. Problemas não resolvidos, mas está tudo bem agora.
19:41

Julia
É sobre meu pai?
19:42

Esperou a resposta, mas ela não veio. Demorou alguns longos minutos antes que ele pudesse sequer se pronunciar. A verdade era que ele escrevia, mas não sabia mesmo o que falar e então apagava a mensagem enquanto buscava as palavras certas.

Guardião - (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora