《Part 12》

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A sensação de ter perdido minha mãe pela segunda vez. Mesmo sendo só um sonho a sensação foi real. Real demais. Aquilo martelava minha cabeça e pensamentos ruins eram incontroláveis. A casa da Bruna ficava ainda mais na floresta, a da Mariana era mais arrumada por fora e o chão da floresta era de flores. Aqui, parece tudo morto.

- Alguém quer comer?- Bruna riu em quanto andava. Estávamos em fila, passando por entre as árvores, Eu seguia a Bruna e a Mari me seguia.
- sem piadas, por favor! - Mariana falou mal humorada. Não entendi. Foi só uma pergunta.
- São muitas horas em silêncio pra mim! - a loira retrucou.
- por que eu tenho que ir até a rainha?- perguntei. Não vejo o porque desde começaram a falar disso.
- porque ela ordenou, e se cumpre as suas ordens!- Bruna falou e olhei pra Mariana, ela estava com a cabeça baixa. Que clima pesado. O que houve? Fiz mal em perguntar?
- vai demorar?- perguntei tentando mudar de assunto.
- não. Logo estaremos no vila próxima do castelo, então vamos de carroça. - Mariana falou. 

Quando elas conversaram e armaram tudo?

- ah, é! Esqueci!- Bruna falou e deu um tapa na própria testa. - a rainha falou que pode pegar roupas novas na vila, já que passou o que? 3 dias sem tomar banho? - ela disse e pude ver seu sorriso.
- não a insulte!- Mariana falou. Continuei olhando pra frente e prestando atenção nasa raízes das árvores. Não quero começar brigas.
- você também não está tomando banho!- o ser alto a minha frente riu. Como ela sabe?
- para com isso!
- é impossível não sentir o cheiro! Não que estejam fedendo, é só que... é um cheiro...diferente!

Comecei a me desligar cada vez mais da conversa sem noção delas. Os flashes do pesadelo apanharam minha visão e tive que parar. Coloquei as mãos na minha cabeça. Minha cabeça latejou e senti uma tortura repentina.

- filha.... saia!- era a voz da minha mãe. Parecia tão real que eu tive a impressão que ela estava ao meu lado.
-mãe?- perguntei e levantei a cabeça. Meus olhos abertos, porém eu só via sua imagem no escuro, longe de mim.
- corra... se esconda....- ela dizia, eu queria alcança-lá. A angústia me consumiu quando minha visão voltou. Olhei pros lados e 2 pares de olhos me observavam. A floresta voltou. Tudo voltou. Menos minha mãe. 

- o que foi? - Mariana perguntou. Suas expressões eram de espanto.
- minha mãe... ela estava falando comigo.- tentei explicar mas falhou.
- será que ela ainda está drogada?- Bruna perguntou. Tive raiva dela. Eu vi, eu sei que foi real. Eu não estou dormindo. E não estou drogada. 

- cala a boca! Vamos, temos que ir mais rápido!- Mariana falou. E começou a puxar meu braço com força, andando rápido.
- eu vi, foi real. Minha mãe precisa de mim, me solta! - tentei me soltar, mas as mãos da morena eram firmes. Por que eu não fugi antes?! Burra!
- não foi um delírio, foi uma visão. A mãe dela estava se comunicando!- Bruna falou logo atrás de nós. Como ela sabe o que eu vi?
- temos que ir logo, a rainha vai saber o que fazer! - Mariana parecia estar cega, apenas continuava andando, eu queria tanto acordar agora.
- de novo, Mariana! Não acredita em mim? Acha que eu não posso ler sua mente? Eu sei o que pensa! Eu sei o que ela viu! Foi apenas uma visão, não precisa sair correndo para a rainha! - Bruna brotou, na frente de Mariana a fazendo parar e me soltar. Massageei meu pulso. Aí!
Quando olhei pra elas, vi os olhos cheios de raiva de Mariana e os desafiadores olhos de Bruna.
- pare de ler minha mente! Pare de tentar resolver tudo, pare de tentar fazer tudo sozinha, pare de achar que tem sempre razão!- Mariana falou e pude sentir que ela se segurou pra não gritar. Mas as duas mantinham a postura.
- eu não estou tentando resolver tudo, não estou fazendo tudo sozinha, e eu NÃO SEI DE TUDO! Mas, pelo menos uma vez, queria que você escutasse! Ela não está doente, ela não está drogada, e você não pode a proteger de tudo!
- EU POSSO TENTAR!
- ACHA QUE EU NÃO SOFRI? ACHA QUE EU NÃO QUIS CHORAR? TODOS SOFREMOS! Todos a amavam.

Os gritos saíram, eu não pude entender direito sobre o que falavam, mas parecia que as duas tinham mágoas pela perda de alguém.

- acho! Você nunca ligou pra nada! Sempre fazendo piadas! Quando ela sumiu... todos ficaram tristes! Você se isolou, cada um foi para o seu canto. Ela se foi, por que eu decidi te ouvir, eu achei que você sabia o que fazia!- Mariana falou e até eu fiquei sentida.
- eu tentei a salvar, eu fui até ela, mas ela não... - Não vi só lágrima sair dos olhos da loira, ela apenas abaixou a cabeça e então sumiu. Eu estava paralisada sem saber o que fazer ou dizer. Ouvi ela chorar de costas pra mim.
- eu...sinto muito seja lá pelo o que....- falei.
- temos que ir. - ela falou rápido, e voltou a me puxar. Apenas a segui sem dizer uma palavra, agora eram apenas nós duas. O único som que se ouvia era a dos animais da floresta, e nossos passos.

[Bruna]

Sai correndo. Eu não acredito que discutimos novamente. Não acredito que falamos sobre ela de novo. Corri até o precipício. Fiquei na Beira, a sensação de adrenalina me tomou. Nenhum som a não ser os pássaros e pequenos insetos. As memórias lutaram contra mim e venceram, me vi presa em meus próprios pensamentos. Odeio voltar a lembrar. Olhei fixamente o horizonte azul e me senti livre.

-ola? - perguntei vendo uma menina ruiva sentada na ponta do precipício. Ela vai pular?
- é ótimo aqui. - ela disse com uma voz doce. Me aproximei pronta para a pegar se ela pulasse.
- quem é você?
- sou aquela que todos procuram, sou aquela que passará a vida trancada pelo bem dos outros.

Que papo depressivo.

- por que está aqui?
- eu previ você me perguntando isso. Então deu tempo de planejar uma boa resposta. Porém não tem muito tempo.- ela falou ainda olhando fixamente o horizonte. Me aproximei ao ponto de ficar ao seu lado. Ela previu? Como? - é incrível ver que você não sabe da maioria das coisas! Mas vamos melhorar isso, não se preocupe!
- o que quer dizer?- aquele papo já estava me deixando confusa. Ela sorriu e me olhou. Seus olhos totalmente brancos me assustaram.
- seus pais saíram para proteger a divisa, não é? -ela perguntou e seu sorriso sumiu.
- sim.
- o rei Adaagar está planejando um novo ataque, e seus pais estão no seu caminho. Sinto muito, mas... eles morrem hoje. Não há nada que possa fazer. Não podemos alterar o futuro, tudo já está planejado.- ela falava me olhando e seus olhos me assustaram cada vez mais.
- mentira! Só pode ser mentira!- falei não acreditando no seu papo furado.
- desculpe, mas era o seu caminho, é a hora de seus pais.

Como ela pode ter tanta calma, se tratando de meus pais?

Não esperei ela dizer mais nada, apenas corri e corri. O som de armas já podia ser ouvido ao fundo. Não pode ser. Não. Não. Não!
Está perto. Cheguei perto da divisa e pude ver o corpo da minha mãe caído no chão e meu pai fora da divisa lutando contra 2 outros vampiros. Me aproximei da minha mãe e pude sentir a raiva me consumir. Sua pele estava cinzenta.
- mãe?- perguntei. Ela já não respondia. Levantei o olhar e vi meu pai caído igualmente a minha mãe. Dos 2 vampiros, apenas um continuava vivo e me olhava sorrindo.
- será a próxima! - ele proferiu e saiu correndo. Uma angústia e uma dor no peito me fizeram querer ter o mesmo destino que o deles. Corri até meu pai e o puxei para o lugar seguro. Eu os tocava mas era como já não fossem eles ali.



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