Fiquei esperando minha mãe chegar, mas o sono me venceu. Coloquei minha camisola, e fui me deitar. Minha vó disse que ficaria esperando, não discuti, na verdade não falei muito depois que ela me disse aquilo. É sempre mesma coisa, a mesma frase, e sempre fico triste. Inevitavelmente triste.
Se eu fugisse, pra onde iria? Será que todos são pervertidos como diz minha vó? Não pode ser, eu não acredito. Queria poder ver o nascer do sol, sentir a brisa fresca de campinas, subir em uma árvores, correr pela grama...
Sonhos, sonhos distantes e quase impossíveis.
Eu seria uma péssima filha, uma péssima neta. Elas ficariam tristes e minha consciência pesada. Mas a vontade de ver novos lugares me consome sempre que acordo todas as manhãs. Não é justo. Não quero ficar trancada aqui. Do que elas tem tanto medo? É só uma viagem. Duraria no máximo 5 dias. Depois voltaríamos. Queria poder conversar com alguém que não fosse minha mãe ou minha vó. Ter amigos. Rir um pouco. Faz tempo que não rio de nada. As vezes me obrigo a sorrir para não martirizar minha família. As poucas vezes que me sinto bem, acontecem fora de casa, na horta da floresta ou vendo o por do sol. Aprender novas coisas.
- Laura! O que houve?- ouvi minha vó falar espantada. Abri os olhos na hora. Ouvi passos apressados, e um gemido de dor. Minha respiração parou, meu coração acelerou.
- Cuidado...- a voz da minha vó se fez novamente só que mais baixa. O que está acontecendo? Estou com medo. Coloquei os pés pra fora da cama e me levantei com cuidado para a madeira não rangir.
- foi ele?
Será que devo escutar a conversa ou ir ver como mamãe está?
- o que ele fez? Ele sabe de algo?
Vovó fazia perguntas e suponho que mamãe as respondia balançando a cabeça, pois ela não disse nada. Me aproximei da porta e vi uma vela acesa, vovó de joelhos a beira do sofá e mamãe deitada. Ela parecia estar suja de lama e molhada.
- Não vou conseguir protege-la pra sempre, mãe.- essas foram as palavras de minha mãe. Ela parecia derrotada, decepcionada.
- durma um pouco, filha. Amanhã conversamos mais. - vovó falou se levantando. Voltei rapidamente pra cama. Me deitei e virei pro lado contrário da porta. Tentei normalizar minha respiração, fingir dormir, mas não dava. Quem era ele? E o que fez com mamãe? Bateu nela? E o que ele tem haver com minha proteção.
