Eu procurei e procurei, os livros eram todos muito grandes. No fim e no início deles, sempre havia uma página em branco, começo a achar que aquela era uma página de fim de capítulo. Procurar por todos os capítulos demoraria uma eternidade.
Acabei me sentando no carpete bege com vários livros empilhados ao meu redor. A prateleira começava a ficar vazia.
- Senhorita Rafaela?- ouço uma voz fina vinda de fora do quarto. Meu coração acelerou. Olhei toda aquela bagunça, me levantei e corri pra porta. - quem é?- perguntei com a mão na maçaneta, caso a moça forçasse, eu poderia reagir. - a camareira. Vim trazer toalhas. - ela disse. Na sua voz, eu percebi que ela notou meu nervosismo. Abri a porta pela metade e olhei a moça magra e delicada de cabelos negros e pele queimada do sol, segurando uma pilha de toalhas brancas. - ahnn... Oi!- falei sem saber o que fazer. Ela andou até mim me fazendo recuar, andou até a porta do guarda roupa e demorou uns minutos. Ela voltou sem segurar nada e saiu apenas me lançando um sorriso. Eu ainda está paralisada na porta, a olhando ir embora. - tudo bem...- murmurei e fechei a porta, voltando aos livros. Comecei de onde tinha parado. Isso levaria muito tempo. Meus olhos já estavam embaçando e se fechando quando outra vez batem na porta. -Senhorita? A rainha te convida para comer!- dessa vez era uma voz masculina. Me levantei e fui a porta. Antes de abrir-la, me certifiquei de que tinha guardado o bilhete, e então abri. Dei de cara com um guarda, ele era lindo. - Senhorita? Algum problema?- ele perguntou, acho que fiquei tempo demais o olhando. - ahn... não, desculpe. - a rainha me pediu que a acompanha-se até a sala de refeições.- ele me olhava nos olhos. Seus olhos azuis mexiam até com minha alma. - claro! Podemos ir?- falei baixando a cabeça e me focando nos meus pés. - por favor, me acompanhe!
Começamos a caminhar pelo corredor, lado a lado e em silêncio, e eu só pensava no quão idiota eu tinha sido. - então, você veio de fora da barreira?- perguntou quebrando o silêncio. Até sua voz era linda. - vim. Por que pergunta?- arrisquei olha-lo e ele olhava para frente, com a postura impecável, como todos no reino. - é raro ver isso acontecer!- ele disse com um breve sorriso. - você nasceu aqui?- perguntei. - sim, minha família toda viveu e morreu neste reino. - ele alternou o olhar entre mim e a sua frente. - ah, me desculpe. Me chamo Rafaela, como se chama?- falei ganhando uma pontada de confiança. - me chamo Daniel. - ele disse rindo.- todos sabem quem é você, não precisa ser tão cordial.
Certeza que estou como uma pimenta agora.
- é um guarda da rainha?- perguntei quando viramos outro corredor. Eu devia estar prestando atenção no caminho, assim não precisaria pedir ajuda pelos cantos. Ele parou diante uma porta alta e branca. Se virou para mim, quando parei a seu lado. - sou seu guarda agora.- ele disse sorrindo e fiquei um pouco sem reação.
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Ele abriu a porta e fez um sinal com a cabeça para que eu entrasse. E eu entrei, sem retribuir nem um sorriso ou falar algo. Nunca tinha me sentido assim, meu coração pulsava rápido e cada piscar de olhos, era como se demorasse horas.
- Rafaela! Que bom que veio!- a rainha disse alto. So então que percebi a mesa enorme, cheia de vários tipos de comidas. - Venha! Sente-se!- ela disse sentada em uma cadeira na ponta da mesa.
Seria um longo dia.
[Xxx]
- está quase anoitecendo- falei. Estamos no vilarejo. O cheiro de enxofre e coisa podre rodeava as pessoas pobres e esfarrapadas do lugar. - não vai se despedir de sua mãe?- meu amigo e quase irmão falou. -Puf! Ela nunca será minha mãe. Era pra mim morar naquele castelo, e não nesse buraco no esgoto! - certo. Só quis ser gentil.- ele disse novamente. Eu olhava todas aquelas pessoas, pobres, maltratadas. Isso vai acabar! - a única coisa que merece minha despedida, é você, Jhoe. O único que me deu um lar. - o olhei, sua expressão cansada e surrada era tipica- eu estou fazendo isso por todos nós, vamos por um fim nessa podridão. - se você passar, já estou feliz. Não vamos cantar vitória antes da hora. - deixa de ser pessimista! É claro que vou passar. Meu plano é perfeito! - tudo bem, sangue-suga! Temos que nos preparar. Logo que o sol se por, as almas vão atacar. Temos que estar prontos para a brecha perfeita.
[Dominique]
-Que droga!- resmunguei batendo a cabeça no parapeito da porta. - olha a boca!- pulei ao ouvir a voz de Bruna. A vi sorrindo, na escuridão da casa, sentada no sofá. - vai assustar outro!- reclamei passando pela casa e indo ao meu quarto. - ui, está sensível hoje!- ela disse rindo. Ignorei e abri meu guarda-roupa. Tinha que trocar de roupa para hoje à noite. - o que está fazendo?- ela perguntou, quando olhei, ela estava na porta. - me preparando. Por que não faz o mesmo?- falei nervosa. Não é meu dia. - tudo bem. Só vim me limpar, estava comendo. - seria normal, se não fosse estranho!- falei achando minha roupa. - tem razão. Hoje tive que perseguir um alce. Sabe o quanto eu os odeio, então não tive o trabalho de enterra-lo apenas joguei do lado de fora da divisa. - que deselegante- falei, a olhei, por que esse sorriso psicopata sempre me assusta? - quer que eu saia, é só pedir, não precisa me ofender. Dada sua última risada, ela sumiu e me deixou livre, me troquei finalmente.
Como eu odeio isso tudo, por mim tudo acabaria sem discussão. Depois de proteger pessoas que me chamam de escória durante 400 anos, não teria como ser diferente. Todo o reino tem esse ar de harmonia, mas nada é perfeito. Para os magos, bruxas, fadas, entre outros, sentinelas são brutos, são escória sem utilidade nenhuma a não ser passear o dia todo sobre uma linha imaginária.
A linha imaginária em que todos depositam sua fé. A linha poderosa que não precisa de proteção, mas é protegida.
A grande pergunta é, se não precisa ser protegida, por que a rainha colocaria proteção?
Olaaaaa! Espero q estejam gostando! Comentem o q acham q vai acontecer!
