Bem-Vindo ao Escuro

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Postado por Gustavo de Souza

Eu estou preso num pesadelo.

Tudo em minha volta está escuro. Apesar de haver uma lâmpada perto de mim, ainda estou sufocando na escuridão completa. Nunca me senti tão sozinho em toda a minha vida. Sei, porém, de uma coisa...

Sei que não estou sozinho.

Do lado de fora, o sol brilha. Está me provocando. Me incomodando. Eu o vejo brilhando no céu, mas de alguma forma aqui ainda está escuro. Eu posso ver tão pouco, provavelmente não mais que 1 metro e meio à minha frente. É tanto uma benção quanto é uma maldição. Luzes brilham, mas não iluminam nada. Mal posso ver um pequeno movimento de algo andando de quatro com minha visão periférica.

Não sei pra onde correr. Eu não tenho mais senso de direção. Estou perdido. Um sentimento de solidão e desamparo me engole por completo. Queria não ter acordado nessa manhã miserável.

Preso no esquecimento. Ouço garras arranhando o pavimento não muito longe de mim. Estou andando por aí Deus sabe quanto tempo, praticamente dando as boas vindas à morte. Minha única esperança é a de que essa coisa que me segue faça seu trabalho bem rapidamente, de forma indolor.

Parece que encontrei um caminho sem saída. Sons de passos ecoam atrás de mim. Ao me virar, tudo o que enxergo são dois olhos vermelhos brilhantes. Eu pensava que não poderia ficar com mais medo do que já estava. Meu coração bate tão rápido que me faz ficar com calor.

Mais perto. Aquilo está chegando mais perto, rosnando pra mim, exibindo o que tenho certeza que são dentes. Alguma coisa está pingando da boca da coisa. Finalmente isso chega perto o suficiente de mim para que eu perceba que esse inferno está prestes a acabar.

A besta pula em mim e me agarra fortemente. Sangue gelado corre pelo meu pescoço, esfriando meu corpo superaquecido. A dor é indescritível, mas creio que acabará logo. Fecho meus olhos com a maior força que posso e meus dentes arranham uns aos outros enquanto eu tento ignorar o som da minha carne sendo arrancada do meu corpo.

De repente eu levanto, com meus olhos ainda fechados. Só uma pequena parte da dor ainda resta, e sinto um tecido bem familiar em minhas mãos. É meu cobertor. Finalmente consigo abrir os olhos. Ainda é de noite, e eu me sinto bem comigo mesmo sabendo que aquilo foi tudo coisa da minha cabeça. Aperto o interruptor do meu abajur, ao lado da minha cama, com uma certa vontade de receber o banho de luz que ele me forneceria.

Meu coração começa a afundar nele mesmo. A lâmpada está acesa e meu quarto escuro.

Estou preso num pesadelo.

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