Disseram que eu era nada mais que uma cadela

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Meu pai me deu o nome de Laika porque quando nasci, meu avô disse para ele me tratar como um cadela malcriada. Para meu pai, Laika era sinônimo de cadela. Usou o nome para que eu sempre me lembrasse do meu lugar na hierarquia: Insignificante. Abaixo. Inferior.

Nada mais que uma cadela.

Meu pai tinha intenção de meu humilhar e degradar com tal nome, mas ao invés disso, me honrou.

Veja bem, Laika era uma cadela de rua de Moscou. No dia 3 de Novembro de 1957, a União Soviética colocaram-na no Sputnik 2 e a lançaram para o espaço. Foi o primeiro animal a orbitar a Terra.

Os Soviéticos sabiam como colocar um foguete no espaço, mas não sabiam como fazê-lo retornar. Isso tornou a missão de Laika uma sentença de morte. Pouco depois de chegar na órbita, o interior do Sputnik 2 ficou absurdamente quente - muito mais quente do que mamíferos conseguem aguentar. Poucas horas depois do lançamento, Laika morreu uma morte agonizante. Pereceu do mesmo jeito que viveu: Insignificante, baixo, inferior. Abandonada. Não amada.

Nada mais que uma cadela.

Passei muitas horas imaginando o terror, dor e solidão que ela passou. Como seria, passar minhas últimas horas de vida sofrendo, atravessando a divina escuridão, dentro de um balde de metal?

Como deve ter sido não entender o que estava vendo, ou o motivo para que tudo tenha ficado tão quente e tão barulhento de repente?

Como deve ter sido não entender o porquê - depois de ter sido arrancada das ruas cruéis e apresentada a um mundo de bondade - de agora estar sozinha? Provavelmente pensaria que tinha sido uma cadela malcriada. Provavelmente pensaria que aquela era minha punição.

Punição era minha língua materna. Eu sabia muito bem o que era ser punida por transgressões que não lembrava ou entendia, ser tão machucada que meus batimentos cardíacos triplicavam e minha mente voava pela janela até as estrelas, retraçando o voo amaldiçoado de Laika enquanto minha casca exterior se contorcia e gemia no chão sujo da casa, cem quilômetros abaixo.

Mesmo assim, me adaptei a receber punições. Como já disse, eventualmente se tornou minha língua. Com um certo tempo, qualquer um pode aprender uma linguagem.

A única coisa que eu não conseguia me adaptar era ao medo.

Quando criança, eu temia tudo. Veja bem, nas partes mais profundas e esquecidas do mundo, existem coisas que a maioria das pessoas não acreditam e muito menos entenderiam. Maneiras antigas, coisas antigas, verdades antigas.

E monstros antigos.

Monstros como meu pai e meu avô.

Como posso descrever de um jeito que você acreditaria? Talvez não consiga. Talvez nem devesse tentar. Então, ao invés disso, irei descrever meu avô.

Seu nome era Paval. Quando fiz nove anos, ele já havia passado por seis corpos. Por isso, quero dizer habitado seis corpos. Usando uma variante de magia de sangue aperfeiçoada pelos ancestrais durante muitos séculos, saltava de um corpo para outro corpo.

Não era um espírito; tinha um corpo físico próprio, uma coisa monstruosa e contorcida, coberta de cicatrizes e de uma pele dura e cintilante, um corpo que podia se encolher ao tamanho de uma cobra pequena ou se expandir e ficar do tamanho de uma casa.

Embora toda suas maravilhas, aquele corpo era fraco; a luz do sol queimava seus olhos e fazia bolhas em sua pele. Então entrava em outros corpos, como uma mão dentro de um fantoche, e os usava até apodrecer. Jamais esquecerei a visão dele - de tantos eles - em corpos diferentes enquanto sua pele se degenerava e caia em pedaços molhados e descoloridos pelo chão. Ou o jeito que seus olhos - olhos duros, redondos e amarelos - brilhavam profundamente dentro de suas órbitas oculares roubadas.

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