Aqui estão dois fatos que você provavelmente deveria saber:
Primeiro fato: Quando um ser humano é encurralado, você nunca deveria subestimar os níveis de imbecilidade e perigo que ele pode chegar para fugir.
Segundo fato: Se um acordo parece ser bom demais para ser verdade, provavelmente é.
Normalmente, eu não seria o tipo de cara de quem você segue conselhos. Se eu escrevesse uma autobiografia, o título seria "Jesus Chorou". Mas nesse caso em específico, tenho uma experiência valiosa. Como a maioria das histórias trágicas, começou com uma série de pequenos erros.
Cerca de uma década atrás, eu tinha saído a pouco tempo da faculdade e estava tentando construir uma vida para mim. Era solteiro, formado e determinado - todas as qualidades que alguém precisa para ser bem sucedido na vida. Bem, não a parte do "solteiro", mas você entendeu. Eu tinha perspectivas, um grande potencial - mas, como Oscar Wilde disse uma vez, posso resistir a tudo, exceto à tentação.
É. Eu era formado em Inglês.
Não fiquei viciado em metanfetamina ou pornografia, nada desse tipo. Não, meu vício era a emoção do acaso. Apostar era a melhor sensação que eu já tivera - desistir do controle, deixar que os deuses da probabilidade e da aleatoriedade decidissem meu destino. Fiquei obcecado, continuava voltando para esses malditos cassinos, noite após noite. Olhando agora, eu era ingênuo, era burro. Tinha que ser um idiota, cego pela luxúria da sensação, para mão perceber outro fato crucial: a casa sempre - e repito, sempre - ganha.
Para encurtar uma história longa e dolorosa, aos 24 anos os chefões de todos os buracos locais tinham pego tudo de valor que eu tinha e mais um pouco. Como resultado, estava devendo para alguns personagens desagradáveis que não estavam nem um pouco interessados em negociar perante o dinheiro que eu os devia. Consegui juntar míseros milhares de dólares fazendo alguns trabalhos bem estranhos, mas isso era apenas uma fração da fração de onde estava me metendo.
Na época, parecia uma ideia melhor gastar o pouco do dinheiro que tinha em um bar local do que seguir em frente com meu triste exercício de futilidade. Então, foi exatamente o que fiz, e por causa de alguns litros da coisa mais barata que você possa imaginar, não me lembro muito do que aconteceu depois disso.
O que lembro a seguir, é de estar acordando em uma poça atrás do bar, tendo sido expulso por ter me comportado ridiculamente. O zumbido do letreiro de neon acima da minha cabeça parecia como uma furadeira no meu lóbulo frontal, enquanto a água gelada e suja debaixo do meu rosto fazia eu ficar um pouquinho mais sóbrio. Só o suficiente para me conscientizar.
Foi bem ali, no meu momento mais infame possível, que eu o conheci.
"E aí, parceiro," falou, usa voz agradavelmente alegre e melódica, "Você parece que está precisando de uma mãozinha, e para sua sorte, tenho duas."
Houve uma leve pressão em meus dois ombros, me levantando. Me encostou sentado contra uma parede; finalmente pude olhá-lo melhor.
Para começar, fiquei me questionando se não estava alucinando. Parecia tão estranho, tão fora do lugar.
Meu Bom Samaritano tinha cerca dois metros de altura, mas parecia uma vara de bambu. Um homem magro e comprido como um pau de virar-tripa. Dito isso, o terno preto e branco de risca de giz que usava servia perfeitamente, quase como se tivesse sido pintando sobre seu corpo sem curvas. Acima do colarinho - apertado até o último botão e enfeitado com uma enorme e horrorosa gravata-borboleta - estava um rosto pálido e sorridente com um cabelo preto dividido no meio.
Verdade seja dita, meu pensamento inicial depois de dar uma boa olhada no sujeito foi o seguinte: puta merda, eu morri naquela poça, e aqui está a Morte em pessoa recolhendo minha alma patética. Infelizmente, esse não era o caso, na verdade, ainda estava vivo.