Capítulo 1 Domingo - Primeira Vez

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E em uma noite de domingo, os passos firmes se aproximavam, a tosse rouca era sentida e logo a figura alta se fazia presente no beco escuro iluminado apenas por um único poste de luz, apagou o cigarro quase extinto naquela parede e pousou seus olhos naquela figura que tanto conhecia, se negou a acreditar que ele estivesse ali, balançou as mãos apressadamente e se abaixou ao lado do corpo encolhido no meio do lixo naquele beco.

Prendeu a respiração, o cheiro era uma mistura insana a qualquer um, podia ver claramente os lábios sendo mordidos e as gotas de vômito ainda descendo, o corpo tremia, sua mão foi até a testa alheia, deu um pequeno murmuro ''DROGA'', estava com febre, muita febre, instintivamente sua mão esquerda se colocou embaixo das pernas e a direita em suas costas.

O tomou em seu colo com tamanha facilidade, sentiu as calças em seus braços molhadas, deveria ter urinado nelas, a fraca luz o deixava reparar em como o corpo em seu colo estava fragilizado, os machucados que se estendiam por todo tronco, estava mais magro dês da última vez, os cabelos costumeiramente desalinhados caiam sobre os olhos, as mãos agarravam seu casaco e escondia o rosto em seu peito, agora o sujando também.

Seguiu com ele até o carro, estacionado na outra esquina, o deitou no banco do carona e contornou o carro até o banco de motorista, as ruas movimentadas em nada facilitavam sua vida, os olhares velados que se estendiam ao que estava em seu colo o fez andar apressadamente o apertando mais firmemente em seus braços.

Não deu boa noite ao porteiro, apenas meneou a cabeça, havia reparado nos olhares desse também, dispôs a figura em seus braços no chão apoiando-o na parede de seu apartamento enquanto buscava apressadamente a chave do apartamento. Finalmente as encontrou e abriu a porta, correu com ele para o banheiro e retirou os trajes irreconhecíveis que o outro vestia, mas uma vez se sentiu culpado quando viu as manchas naquele corpo, abriu o chuveiro e segurou o outro firmemente em seus braços enquanto a água caia, o sentiu se mexer, mas continuou o segurando, as mãos calmamente acarinhavam as costas magras enquanto ouvia-se o choro mudo seguido de pequenos soluços abafados em seu pescoço.

As mãos permaneceram ali até que se acalmasse, fechou o registro e pegou o shampoo terminando por ensaboar os fios negros, as mãos tracejavam cada parte daquele corpo com tamanha intimidade, não era nada voraz ou agressivo, era cuidadoso, um toque amigo, que arrancava lágrimas de vergonha e constrangimento.

Abriu novamente o registro retirando todo o sabão, quando iria se preparar para passar o creme de novo o corpo que se segurava em si, murmurava um quase imperceptível não, ele entendeu, então apenas pegou a toalha e o enrolou nela, quente, ele se sentiu quente ali naquele pano, mas nem por isso seu corpo deixou de tremer, teve-se arrastado até o quarto e viu já que estava um pouco mais desperto revirou seu armário procurando por alguma roupa que o servisse, acabando por jogar em cima de si uma calça de flanela e um casaco do mesmo material.

_Se troque ai, eu vou me trocar no banheiro, tem remédio no criado-mudo. - ele se virava deixando um rapaz confuso e choroso agarrado a sua toalha, ele não olhou para trás mas teve certeza que os olhos alheios não saiam de cima de si, deu um leve sorriso e continuou rumando até o banheiro. Deixou que a água morna caísse sobre seu corpo e lembrou do calor do outro e de como aqueles olhos diziam muito mais do que a própria boca.

O banheiro ficou quente demais, sequer percebeu quando suas mãos alcançaram seu sexo e iniciaram um movimento de vai e vem em total sincronia com seu coração, abriu os dedos e deixou que seu gozo se misture a água, trocou abruptamente a temperatura do chuveiro, ele não queria e nem podia sentir aquilo, sua mão desligou o chuveiro e alcançou a toalha, terminou de se vestir ainda pensando no tanto que aqueles olhos azuis tinham a lhe falar.

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