Volta as aulas

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Ele a chamou.
-Any espera por favor, você tem que me ouvir.
-Não posso, isso é loucura Lucas. - responde ela dando passos largos para se afastar.
-Última vez, prometo, me escute. - implorou com os olhos tristes.
Ela não conseguia resistir aqueles olhos. Sempre eles implorando por atenção, e aquele sorriso, aquela boca implorando pra ceder aos beijos.
-Tudo bem. - parou e esperou que ele a alcançasse.
Ele chegou perto, colocou a mão em seu rosto, seu cabelo molhado escorria pela testa, ele tirou os fios despenteados alinhando, e olhou bem nos olhos dela.
-Me deixa te fazer feliz Any, você sabe que eu consigo. Você não pode deixar a noite de ontem passar como se nada tivesse acontecido. - os olhos dele pareciam implorar para um sim.
Ela não se mecheu, não respondeu, só o encarou. Ele a olhou nos olhos, e cortou aquela mínima distância que os separava beijando o nariz dela. Depois desceu, e beijou o queixo.
-Lu-cas você não... Não pode fazer isso. - disse caguejando, tentando se afastar.
-Eu posso sim. - disse puxando pra mais perto e encarando.
-Então me prometa que quando voltarmos tudo volta ao seu lugar. - implorou ela.
-Eu prometo Any, prometo. - disse sussurrando em seu ouvido e se abaixando pra um beijo apaixonado.
A boca dele se uniu a dela, e ela se entregou como se não fosse existir amanhã, como se nada no mundo pudesse tira-los dali...
Despertador tocou. Parecia que a noite tinha passado tão rápido, não foi tempo suficiente pra dormir.
-Anyca levanta logo, vai se atrasar. - gritou sua mãe lá da cozinha.
-Já to descendo. - respondeu se arrastando pra fora da cama.
Aquele sonho ainda passava em sua cabeça. Não era certo ficar sonhando com aquele dia, ela não queria mais, mas aquele sonho não deixava de aparecer, era como se alguém lá em cima fizesse questão de lembrar que ela fez uma burrada no verão passado.
Levantou, olhou de relance para o espelho e correu para o banheiro pra se arrumar. Olhou para o relógio e percebeu que me pouco tempo Lucas estaria lá em baixo esperando ela.

Parecia loucura, nem que ele realmente quisesse não ia conseguir se afastar de Any, as coisas estavam difíceis. Sentado na mesa tomando seu café estava reformulando o discurso em sua cabeça, aquele que dizia que era melhor os dois se afastarem.
-Ta com a cabeça aonde meu filho? - perguntou sua mãe notando a testa franzida e a cara de preocupado.
-Estou lembrando que tenho que buscar Any e estou atrasado. E ela disse que vem te ver hoje depois da escola. - respondeu já se levantando e indo em direção ao banheiro.
Conseguiu chegar até a porta e esbarrou em Julie, sua gata.
-Ei meninona, olha por onde anda. - brincou.
Pegou seu casaco, e já ia saindo quando sua mãe o puxou para uma beijo de despedida.
-Any é uma garota de sorte por ter você sempre ao lado dela. Diga que mandei um beijo. - beijou.
-Tchau mãe, te vejo mais tarde. - saiu antes que ela começasse a falar o quanto queria Any como nora.

-Anyca você vai se atrasar. Toma isso logo ou vai chegar pra segunda aula. - resmungou sua mãe já sabendo como a filha andava devagar.
Pão, requeijão, café, como amava aquilo. Patrick brincava com o queijo enquanto sua mãe repetia que estavam atrasados.
-Lucas vem me buscar, não vou me atrasar. - avisou Any antes que a mãe tirasse a comida dela.
Logo que chegou a cozinha naquela manhã notou que a mãe estava muito irritada, algo estava incomodando ela, e Any não suportava ficar sem informação.
Lucas já estava atrasado, será que havia acontecido algo?
Seu celular tocou e ela correu a mão pelo bolso procurando o aparelho. Olhou pra tela "Lucky", sorriu de imediato, parecia que estava lendo os pensamentos dela.
-Bom dia senhor atrasado. Estava me perguntando aonde você estava mesmo. - disse em tom brincalhão.
-Estou aqui na porta, vamos logo pra não atrasar. - fez voz seria mas ela sabia que ele estava sorrindo.
A conversa de ontem a noite ainda mechia com ela, sabia que precisava fazer alguma coisa mas não queria se afastar dele.
-To indo. - disse, desligando o telefone.
Levantou num pulo, correu para pegar sua bolsa e gritou de longe -To indo mãe, até mais tarde.
Suzane revirou os olhos e respondeu -Nem terminou o café.
-Como na escola. Beijos. - respondeu e saiu apressada.
Correu pra fora, viu o carro estacionado do outro lado da calçada. O dia estava com carinha de chuva, e sentiu a brisa gelada pelo braço, notou que esqueceu a blusa. Olhou pra dentro do carro e viu ele sorrindo quando o vento bateu empurrando o cabelo dela por todas as partes. Abriu a porta e se jogou no banco.
-Nossa acho que vai chover. Qual o problema de São Pedro? Hoje era pra ser um dia bonito. - reclamou deixando a cabeça cair pra trás.
Ele sorriu, aquele sorriso sempre confundia tudo.
-Trouxe uma coisa pra você. - disse, colocando o cabelo dela pra trás da orelha e prendendo uma flor entre a orelha e aquele monte de cabelo.
Ela olhou pelo retrovisor do carro, uma margarida, sua preferida, tinha na casa dele, ela o olhou, seus olhos brilhavam e refletiam ela mesma. Ele sorria, quente, estava ficando quente, o sorriso dele sempre despertava isso nela.
-Obrigada, acho que o dia estava precisando de cor mesmo. - os dois sorriram. -Agora vamos antes que tomemos chuva, Lusia me mata se chegar lá molhada.
-Luísa me mata se eu entregar os tecidos dela molhado. - respondeu ele virando os olhos.
-Que tecidos? Não me diga que ela vai dar outra festa.
Luísa amava dar festas, em todos os momentos, qualquer data era coisa importante, até mesmo a volta as aulas. E ela pirava se tudo não estivesse do jeito que ela queria.
No ano passado Gregory derramou vinho no vestido de ano novo dela, ela simplesmente tirou a roupa e inaugurou a piscina.
-Na verdade ela vai sim, parece que esse sábado, e acho que vai ser na casa do Gregory. - disse ligando o carro.
-Do Gregory? Como assim? Eles são amigos agora? - riu sem achar graça.
Lucas parecia meio distraído, distante e agitado.
-Não sei, ela não me disse detalhes. - respondeu cortando o assunto.
O comportamento dele era por causa da conversa na noite anterior.
Celular vibrou, mensagem de texto, estava demorando, "Aonde você está? Estou na porta te esperando." Luísa já estava nervosa.
Fizeram o caminho até a escola em silêncio, as vezes ele a olhava de canto, e sorria. Só os olhos dele sorriam por si só. Se impressionava consigo mesma por ainda não ter se apaixonado. As garotas morreriam por uma carona dele. E isso a incomodava. A maioria das meninas que queriam fazer amizade com ela na escola era pra ficar mais perto de Lucas.
Chegaram, os portões estava cheio de gente, garotas trocando números de telefone, grupinhos rindo, as escadas parecia um formigueiro. Era estranho olhar pra toda aquela gente e perceber que ia ser seu último ano. Sentiria saudade daquilo tudo.
Logo achou Luísa no meio das meninas rindo e contando sobre a festa, Lucas foi na frente pra entregar os tecidos.
Passou por ela roçando o ombro, aquele simples toque lhe causou arrepio. Tinha gente por toda parte. E tinha um cara encostado no muro, olhando a movimentação sozinho. Moreno, alto, bem arrumado, parceria um ser jogado em um ambiente que não era dele. Provavelmente não era da cidade.
Os olhares se encontraram, ele a olhou com interesse e deu um meio sorriso, sentiu suas buxexas queimarem e desviou o olhar.
-Vou entrar pra ver qual sala ficamos. - disse Lucas chamando atenção dela.
-Estamos na 8, já fui dar uma olhada. - respondeu apressadamente Penny.
-Ok, mas vou entrar mesmo assim.
-Me espera, vou junto, quero escolher meu lugar. - sugeriu Any. -Vamos entrar Luh? Ou vai ficar aí escolhendo as próximas vítimas.
-Na verdade já escolhi, tem umas garotas bem interessantes ali, vou aproveitar bem esse ano. - respondeu com um sorriso malicioso no rosto.
Entraram, os corredores estava cheio assim como o resto da escola, estavam todos animado pelo que parecia. Entrou na sua sala e viu suas antigas colegas por lá. Era estranho admitir que estava com saudades daquilo tudo.
Escolheu a carteira do meio, gostava de ter uma boa visão de tudo. Lucas quis se sentar no canto totalmente oposto e bem longe. Estranhou, sempre sentaram perto um do outro.
-Qual o problema dele? Vocês brigaram? - perguntou Luísa.
-Acho que ta querendo dar uma boa impressão para as meninas nova da sala. - mentiu.
Sabia que esse ano as coisas mudariam, só não imaginava que seria assim.
-Ei Anyca vamos dar uma volta, deixa as coisas aí, preciso ver quem será meu futuro par pro baile de boas vindas. - disse Luísa animada.
-Ah claro, vamos. - respondeu Any demonstrando total preguiça.
Luísa sempre teve esse jeito totalmente animada, sempre pronta para as festas e otimista. Isso de certa forma sempre inspirou Any a seguir em frente, afinal a vida não era assim tão ruim né.
Atravessou a porta e sentiu os olhos de Lucas atrás dela, se recusou a olhar, não podia dar esse gostinho a ele. Se ele queria brincar de se afastar então entraria nesse jogo, e ele perderia.
Entraram no banheiro, estava cheio de garotas rindo, falando sobre os rapazes e se maquiando. A turma era nova mas as ações eram as mesmas. Quis fugir daquilo, enquanto Luísa puxava assunto com todas as meninas sobre os garotos, Any pensava em como não fazia o tipo dela aquela social.

"Decidi que não vou ficar correndo atrás dela feito um cachorrinho. Logo vou conhecer as garotas novas e tenho certeza que vou conhecer gente melhor, vou me afastar, para o bem dos dois."
Viu ela saindo, sabia que ela queria olhar pra trás e chama-lo pra ir junto, só ele sabia o quanto ela odiava o porre da social que Luísa amava fazer todo ano pelos corredores. Ela estava linda, completamente linda, e reparou que os outros rapazes também pensavam como ele. Viu os olhos de um cara novo grudado nela no portão da escola. Queria abraçar ela e mostrar que não era pro bico dele. Mas talvez fosse. Essa coisa estava ficando meio louca. Ele precisava de paz.
-Eaí Don Ruan, cade sua musa? - perguntou Gregory se sentando atrás dele.
-Não tenho musa nenhuma. - respondeu irritado.
Gregory sabia de suas intenções com Any, sabia da noite no acampamento, sabia tudo e abusava da sabedoria.
-Então cade Any? - perguntou com tom sarcástico.
-Foi andar pelos corredores com a Luísa, deve estar de olho nos meninos novos. - respondeu demonstrando irritação.
-Tem um cara novo que vai vir aqui pra nossa sala, peguei ele perguntando da Anyca no corredor pro time de hand.
Sabia que Any chamava atenção, mesmo ela não sabendo disso e sempre achando que era Luísa que atraía olhares ele sabia que era ela que estava sempre nas listas dos rapazes. Precisava saber quem era esse aluno novo e manter ele longe de Any.

Sinal tocou, todos entravam na sala apressadamente indo para os seus lugares, primeira aula era de história como estava no cronograma, professor Stuart, um de seus preferidos. A sala não tinha nenhum aluno novo, a galera inteira já se conhecia e não tinha nada de novo, só os assuntos das férias reverberando por todos os lados.
O professor começou a falar sobre a matéria do ano, e Any se perdeu nos seus desenhos no caderno. Abriu uma das páginas cheias de rabiscos e nomes "Eric te amo, Lucas gostoso, Gregory o mais lindo, saudades Anyca de seu Lucky" , tantas frases atravessadas. Lucky era o apelidinho carinhoso que Lucas gostava que ela o chamasse as vezes, agora as coisas estavam tão distantes entre eles que ela nem sabia se poderia ir até a casa dele hoje mais tarde, precisava de uma carona até o shopping pelo menos, seu carro tinha ficado lá na tarde passada.
-Com licença professor, estava acertando a matrícula na sala da coordenadora, posso entrar? - uma voz masculina surgiu despertando-a de seus pensamentos.
Correu os olhos até a porta e percebeu o cara dos olhos verdes parado com a sua bolsa, seus olhos parados nela e um sorriso convidativo.
Se sentiu enrubecer logo de cara e percebeu que ele estava entrando e indo em direção a ela. Quando ele passou por ela se sentando na carteira de trás se deu conta de que estava segurando a respiração, então suspirou aliviada.
As aulas passaram vagarosamente, parecia uma eternidade. Quando finalmente bateu o sinal pra última aula, Any se apressou para falar com Lucas.

-É esse o cara que te falei que estava perguntando da Anyca no corredor. - disse Gregory por cima de seus ombros assim que o garoto apareceu na porta.
O mesmo cara que perguntou sobre a Any no corredor estava encarando ela na porta da classe. Todo mundo percebeu, inclusive Any que ficou vermelha e abaixou a cabeça. Só podia ser mais um pesadelo. Já estava difícil sem galã nenhum por perto, mais um na jogada era demais.
Bateu o sinal da última aula, e sentiu o alivio percorrendo todo o seu corpo, tinha se esquecido de como era tediante voltar pra escola, principalmente longe de Any.
Estava saindo de sua carteira quando viu ela se aproximando, aqueles cachos pretos sempre despertando lembranças e sensações. Estava com um sorriso incerto no rosto como se estivesse com medo de ir falar com ele. Deu dois passos pra frente e desviou o olhar, não queria que ela percebesse que ele estava olhando todos os ângulos possíveis do seu corpo.
-Você pode me dar uma carona? Preciso pegar meu carro que ficou no shopping ontem a tarde. - pediu ela olhando ele nos olhos.
-Será que a Luísa não pode fazer esse papel? Preciso passar num lugar antes. - mentiu tentando se livrar dela.
Viu o cara novo olhando de longe, e teve a impressão de que ele estava se esforçando pra ouvir tudo. Derepente ele caminhou em direção aos dois.
-Acho que posso dar uma carona pra você se quiser, estou precisando comprar o material pedido, estou indo pra lá. - disse com um sorriso no rosto.
-Ah pode....
-Não. Não precisa, acho que posso te fazer esse favor Any. - interrompeu antes que as coisas piorassem.
Não poderia perder pra concorrência sem nem tentar, ele enlouqueceria por ela antes.
Any olhou pro garoto, olhou pra Lucas e sorriu.
-Tudo bem então. Obrigada, fica pra próxima a carona. - disse sorrindo para o cara.
Ela realmente tava dando mole pra ele?? Deus diga que ele só estava vendo coisas, não podia ser, era demais.
-Tudo bem então, quando precisar só chamar. - sorriu, já ia saindo, quando se virou derepente e disse. -Sou Richard, prazer.
-Any, o prazer é meu. - respondeu.
Parecia que estava derretendo. Qual era o problema dela? Isso o estava enlouquecendo, não conseguiria agir como amigo pra sempre.
-Vamos então Any.
Os dois fizeram o caminho até o shopping totalmente silêncio. Quando ela desceu avisou que estaria na casa dele em alguns minutos e saiu.
Ficou lá por uns 15 minutos até decidir dirigir de volta pra casa, aonde certamente Any já deveria estar conversando com sua mãe.

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