Descobertas

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Richard / Robert
Sabiam que o procurariam na área do hospital, Richard havia dirigido duas horas na direção nordeste e se registrado em um motel decadente na beira da estrada, o tipo de lugar que não se pedia identificação.
Agora estava deitado na cama olhando para o teto, pensando: por mais que me procurem, não vão me achar.
Gostaria de saber se a polícia já descobrira que ele não era o verdadeiro Richard Sampaio. Mesmo que tivesse descoberto isso não importava, não iriam conseguir ligá-lo a morte de Richard ou chegar a sua verdadeira identidade. O único que sabia de tudo era o maldito Bob. Ele devia estar morto.
Desde que assumira a identidade de Richard tinha se treinado para não responder ao nome verdadeiro, ou se virar quando o ouvisse, e agora, até quando ele mesmo o pronunciava lhe soava estranho.
Livrara-se do verdadeiro Richard Sampaio como se livrara da mãe e do pai. E de Beatriz. E de todos os outros que entraram no seu caminho. E agora estava na hora de se livrar de Lucas.

Acordou no banco de trás de um carro. Uma moça bonita, loira dirigia em silêncio, olhou para o lado e viu Lucas dormindo ainda.
-Quem é você? Pra onde está nos levando? - falou soando desesperada.
-Calma garota. Seu pai me pediu pra que te levasse em um lugar seguro, você e o seu namorado, Robert está a sua procura, mas a polícia já está atrás dele. - explicou ela.
-Quem é Robert? - perguntou confusa. Quanto tempo havia dormido?
-Richard é o nome falso de Robert. Não me pergunte mais do que isso por que na verdade não sei. Estou apenas seguindo ordens, e ele te deixou isso. - falou entregando-lhe um caderno.
Era grosso, abriu, era a letra do seu pai. Um diário?
Sentiu Lucas se mecher, estava acordando.
-Olá meu amor. - falou delicadamente beijando-lhe o rosto.
-Any, você está bem. Estava tão preocupado. - falou animado. Olhou em sua volta e franziu a testa. -Aonde estamos indo?
-Meu pai pediu pra que a ..... - parou de falar pensando, ela não havia dito seu nome. -Qual o seu nome?
-Sara. - disse focada na estrada.
-Sara, isso, meu pai pediu pra Sara nos levar pra um lugar seguro. Parece que Richard está atrás da gente. A polícia não conseguiu pegar ele. - despejou antes que ele interrompesse.
Lucas estava com uma cara de assustado, parecia estar tentando anexar todas as informações.
-Uau, quanto tempo eu dormi? - falou confuso.
-Eu me perguntei a mesma coisa quando acordei. - confessou rindo.
Celular vibrou.
"Querida aonde você está? Preciso te ver. Do seu R."
Ah meu Deus. Não.
-Lucky olha isso. - disse chorosa.
-O que foi Anyca? Algo aconteceu? - perguntou Sara diminuindo a velocidade do carro.
-Richard, ou Robert, sei lá, mandou mensagem. Perguntando aonde estou e dizendo que precisa falar comigo. O que eu faço?
-Tira o chip e joga na pista. - falou sendo sincera.
Talvez fosse realmente a melhor ideia. Não iria aguentar mensagens dele durante essa caça.
-Alguma notícia da polícia? - perguntou Lucas.
-Na verdade sim, o sargento Pete está indo agora pra casa do Richard ver o que encontra por lá. E a garota que morreu esses dias, a tal Beatriz, encontraram o dna do esperma, é de Richard. Encontraram tambem impressões digitais dele no seu carro. Mais e mais motivos pra polícia ir atrás dele.
-Meu Deus. Por que ele fez tudo isso? - disse Any afundando sua cabeça em suas mãos.
Como poderia alguém ser tão cruel?

Pete
Assim que entrou na casa de Richard, Pete se surpreendeu com a normalidade do ambiente. A casa estava impecavelmente limpa, os cômodos eram surpreendentemente claros, não havia nada de pessoal na casa, nem uma foto, uma revista, um quadro na parede ou uma plantinha. Nada.
Pete ergueu os olhos para a escada, Jenifer vinha atrás.
-Isto está um pouco vazio não acha? - perguntou.
-Vou subir. - disse ele.
Observaram um grande corredor escuro antes de entrar no primeiro quarto. Abriram a porta, o quarto era totalmente escuro, acenderam luz. Banhado pela luz vermelha, Pete subitamente sentiu as pernas pesarem ao perceber o que Richard havia feito no seu tempo livre.
-Que Deus nos ajude. - foi tudo o que conseguiu dizer.
Em pé na porta do quarto escuro, Pete virou a cabeça de um lado para o outro enquanto tentava entender tudo aquilo.
Presas nas paredes haviam centenas de fotos de Any: Any tomando café, Any na escola, Any entrando no carro, Any no shopping, Any com os amigo. Any na sorveteria. Any na rua. Any no quarto. Havia fotos dela em todos os lugares em que ela havia estado nos últimos dias.
No segundo quarto encontraram um equipamento de ginástica, um espelho e mais fotografias de Any.
Quarenta minutos depois a casa de Richard estava cheia de polícias.

A casa de praia de Sara ficava em Ubatuba, uma faixa de terra a cerca de dois quilometros da costa e duas horas de São Paulo.
Any estava na janela olhando para o movimento incessante das ondas quebrando.
Mesmo ali, era impossível relaxar. Ou se sentir segura.
Atrás dela Lucas estava guardando as compras do mercado, e Any ouvia o som das portas do armário sendo abertas e fechada.
-Talvez já tenham pego ele. - disse Lucas notando a preocupação em seus olhos. Any não respondeu nada, ele se aproximou colocando as mãos em volta dela. -Você está bem?
-Não. - confessou. -Não mesmo.
Lucas fez um sinal afirmativo com a cabeça.

Que pergunta estúpida, é claro que ela não estava bem.
Any estava sentada no sofá, Lucas ligou a televisão e sentou ao seu lado. Andou pela casa, verificou se estava tudo trancado. Olhou para fora. Silêncio total.
-Acho que vou telefonar para Luísa. - disse finalmente. -Só pra dizer que estamos bem.
Any assentiu.
Podia ver a preocupação em cada traço do seu rosto, sentou ao seu lado no sofá e a puxou pra perto, ela apoiou sua cabeça em seu peito.
-Está tudo bem pequena, não tem ninguém lá fora, aqui é um completo silêncio, se houvesse alguém nos ouviriamos. - disse tentando confortá-la.
Passou a mão em seu rosto e sentiu as lágrimas quentes caindo. Ficou ali acariciando seus cabelos até ela pegar no sono.

Lei De MurphyOnde histórias criam vida. Descubra agora