Festa e cadáver

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Se arrumou, colocou seu vestido preto que ia ir no pub no outro dia, salto alto e maquiagem discreta. Não queria chamar atenção. Soltou o cabelo, viu seus cachos vermelhos se desenrolar nas pontas e sorrio sabendo que Lucas iria gostar.
Ouviu um carro parando. Devia ser ele. Mas ainda era 7:40, chegou mais cedo do que o combinado.
-Any querida? - disse sua mãe entrando no seu quarto.
-Oi mãe. Como estou? - disse sorrindo dando uma rodopiada.
-Está linda querida. - respondeu sua mãe beijando-lhe a testa. -Tem um amigo seu lá embaixo, disse que vai te levar para a festa.
-Desde quando você fala assim do Lucas mãe? - perguntou rindo das palavras de sua mãe.
-Não é o Lucas. Disse que se chama Richard. - respondeu ela confusa.
Richard? Não! Esse cara não ia parar de persegui-la? Qual era o problema dele?
"Richard está em casa, acho que vou com ele pra festa e esclarecer que não temos nada pra ele parar de me perseguir. Te encontro lá. Beijos, A."
-Avisa que já estou indo mãe.
Pelo menos seria uma oportunidade de resolver isso e fazer ele ente der que não tinham nada e não teriam.
Desceu as escadas. Ele estava muito bonito. A olhava dos pés a cabeça com um sorriso enigmático no rosto. Não podia deixar de admitir que ele era atraente, mas assustava um pouco. Parecia que estava sempre nas sombras olhando.
-Você está linda Any. - disse sorrindo.
-Muito obrigada Richard. Não me lembro de ter marcado algo com você hoje. - falou impassível.
Ele a olhou ainda sorridente.
-Eu sei, imaginei que estava sem companhia para a festa e resolvi vir fazer uma surpresa.
Ele não ia desistir, então ela entraria no seu jogo e esclareceria a situação.
-Mãe voltarei mais tarde, qualquer mudança de planos te ligo avisando. Tchau. - avisou saindo pela porta arrastando Richard junto.

Celular vibrou.
"Richard está em casa, acho que vou com ele pra festa e esclarecer que não temos nada pra ele parar de me perseguir. Te encontro lá. Beijos, A."
Esse cara não ia desistir. Que saco. Mas tudo bem, Any resolveria as coisas hoje a noite.
Celular tocou.
Detetive Patson.
-Alô.
-Fala meu querido, quanto tempo, recebi sua mensagem aquele dia sobre o tal Richard, não queria ligar antes de descobrir algo.
-E então? Sabe de alguma coisa? Ele é muito estranho.
-Na verdade eu descobri que Richard Sampaio morreu dois anos atrás.
Morreu? Como morreu? Então quem estava estudando com eles e perseguindo Any? Um fantasma? Não podia ser. Algo estava errado.
-Você tem certeza disso Pat? Não tem como ter havido algum engano.
-Não Lucas. O senhor Richard Sampaio foi dado como desaparecido a dois anos atrás, e seu corpo foi achado em um lago boiando no mesmo ano.
-Então quem é esse Richard Sampaio que está estudando comigo?
-Isso eu não sei Lucas. Ele deve estar usando o nome de Richard , mas isso não me envolve, você tem que chamar a polícia.
-Ok, muito obrigado Pat.
-Magina, fico feliz em ajudar, qualquer coisa só ligar.
Richard Sampaio morto? Então quem era esse cara? Agora sim isso ficou estranho. Precisava avisar Any.
Pegou o celular, mensagem de texto, digitou.
"Aonde você está? Me procura assim que chegar, tem algo que você precisa saber. Cuidado com Richard! Beijos, L."

-Olha Richard, sei que suas intenções são as melhores mas você não pode aparecer na minha casa assim sem avisar, eu já tinha combinado com o Lucas e tive que desmarcar. - falou irritada dentro do carro.
-Achei que vocês fossem só amigos.
-E somos, mas mesmo assim você ta errado. Nos dois só saímos uma vez, não temos nada, e provavelmente não vamos ter com essas suas atitudes. Está me sufocando.
-Me desculpa Any, só quis ser gentil.
-Eu entendo, e agradeço a gentileza, mas acho melhor parar de querer fazer surpresas e me avisar quando pensar em vir aqui.
Seus nervos fluíam, reparou que ele estava com o corpo tenso, mas em seu rosto nada denunciava o nervosismo.
Celular começou a tocar. Luísa.
-Alo?
-Aonde voce está Any? - perguntou Luísa parecendo assustada.
-Já estou chegando Luh, quase na esquina da sua casa. Aconteceu alguma coisa?
-Um cadáver. A festa está sendo cancelada. A polícia toda está aqui. Foi deixado o corpo de Beatriz na minha porta. - ela estava aos prantos no telefone e falava apressadamente.
-Pelo amor de Deus Luísa, isso é sério? Ela está morta? Como assim? Como isso aconteceu?
-Não sei Any, corre pra cá, eu te explico, por favor vem logo. - pediu chorosa ao telefone.
-Estou indo.
Meu Deus. Beatriz morta? Tudo bem que não gostava dela, mas não queria ver ela morta. Por que alguém deixaria o corpo dela na porta de Luísa? Sentiu lágrimas brotarem no rosto
-O que aconteceu querida? - perguntou Richard colocando sua mão me cima da dela.
-Beatriz. Está morta. Deixaram o corpo dela na porta de Luísa. A festa está cancelada. - respondeu sentindo as lágrimas quentes escorrerem por seu rosto.
-Eu achei que você não gostasse dela, não está feliz por ter morrido.? - disse com tom sério.
Os olhos dele não denunciava nenhum tipo de sentimento. Nem tristeza, sem espanto. Nada.
-Que horror Richard. Eu não gostava dela mas não queria ver ela morta. Isso é uma coisa horrível de se dizer. - disse chorando ainda mais forte.
Ele estacionou o carro, passou os braços pelo pescoço dela puxando-a para um abraço. Any aceitou, pois aquela situação era horrível. Como pode alguém morrer assim do nada?
-Não fique assim, vamos descer e ver o que aconteceu. Não chore. - falou carinhoso limpando suas lágrimas.
Desceram do carro, a casa estava cheia de policia, e gente chegando pra festa não entendendo o que estava acontecendo.
Luísa contou que estava saindo de casa pra arrumar a fachada da frente para os convidados quando tropeçou no corpo de Beatriz jogado na porta inrolado num saco preto. Ela chorava desesperada contando a história.
Sentiu as mãos de Richard em seu ombro em sinal de consolo.
Viu Lucas chegando, sentiu seu cheiro de perfume de longe. Quando seus olhos se encontraram correu ao encontro dele abraçando-o. Ele era amigo da Beatriz, gostava dela. Devia estar se sentindo mal.
-Como você esta? - ele perguntou alisando seus cabelos.
-Estou assustada só, Luísa está em pânico. E você? Ta bem?
-Estou preocupado Any. Você recebeu minha mensagem? Preciso falar com você.
-O que aconteceu? Eu vi que tinha uma mensagem sua mas estava tão preocupada que não deu tempo de ver.
-Depois te conto. Só fica longe de Richard por favor. - ele disse com um olhar sério.
Sentiu os olhos de Richard pesando em cima dela enquanto Lucas a abraçava e a acalmava.
Any ficou com a missão de mandar o povo que ia chegando embora. Luísa estava aos prantos e a casa estava cheio de polícias vistoriando tudo.
Os policiais disseram que ela foi enforcada, tinha marcas de mãos no pescoço dela. O legista informou minutos antes de que ela estava no meio de uma relação sexual quando foi assassinada. Acharam esperma ainda dentro dela. Iriam fazer os exames. Era tudo macabro demais, e completamente sem sentido. Por que alguém levaria Beatriz pra cama, a mataria e jogaria na porta de Luísa? Não fazia o menor sentido.
Estavam todos preocupados, com expressões sérias, apenas Richard que estava sentado observando Any não tinha reação nenhuma. Não demonstrava preocupação, nem susto, nem ao menos compaixão pelas pessoas que estavam ali sofrendo. Parecia que ele nem se importava com o que estava acontecendo.
-Olha a cara do Richard. Se eu não o conhecesse poderia dizer que ele foi o próprio assassino. - disse observando seus movimentos indo até a cozinha pra pegar água.
-Vamos lá fora, preciso conversar com você.
Acompanhou Lucas pro lado de fora longe dos policiais. Ele parecia muito mais preocupado com o que tinha pra dizer do que com o que estava acontecendo.
-O que aconteceu Lucas? - disse Any ficando preocupada.
-Aquele cara que está lá dentro não é Richard Sampaio. - falou sem rodeios.
-Como assim não é Richard? Um irmão gêmeo dele então? - disse fazendo piada. Não fazia sentido isso.
-Any me escute com atenção. Dois dias atrás mandei uma mensagem pra um amigo meu, ele é detetive, pedi pra ele verificar o histórico de Richard e ver se tinha algo errado com ele. - fez uma pausa esperando ela assentir pra continuar. -Hoje antes de vir pra cá ele me ligou dizendo que havia encontrado uma coisa. Richard Sampaio foi dado como desaparecido há dois anos atrás, e no mesmo ano o corpo dele foi encontrado boiando em um lago. Ele foi enforcado e jogado lá. Esse cara que está dentro da casa de Luísa não se chama Richard, ele está usando o nome do Richard por algum motivo que eu não conheço, mas vou descubrir.
Bomba. Richard não era Richard? Quem ele era então? Ele havia enganado ela todo esse tempo? Sentiu um tremor dentro de si, um medo. Olhou em direção a casa e viu Richard parado na janela olhando pra ela.
-Eu to com medo Lucky. - disse ela enchendo seus olhos de água apoiando sua cabeça em seu peito.
-Calma Any. Tudo vai ficar bem. Vou informar a polícia amanhã. - disse abraçando ela.

Contou a verdade sobre Richard pra Any, ela ficou completamente mortificada e com muito medo. Abraçou ela e viu por cima de seus ombros Richard olhando pela janela. Independente de quem fosse aquele cara ele iria mantê-lo longe de Any.
Voltaram para casa, Any parecia mais abatida do que antes da conversa. Não queria solta-lo por nada, o corpo inteiro dela tremia.
-Posso ir dormir na sua casa? Não quero ficar sozinha Lucky. - disse ela enfiando sua cabeça em seu peito de novo. Ela estava tão frágil, um lado gostava de vê-la assim, precisando dele.
-Claro que pode pequena. Diga a Richard que não precisa esperar por você, fale que vai ficar aqui, é melhor. - falou procurando Richard.
Ela se afastou dele parecendo ainda mais indefesa e foi até a janela aonde Richard a olhava chegar até ele.

Não queria ir até ele. Richard que não era Richard. Estava com medo. Quem era aquele cara?
-Oi. - disse nervosa
-Voce está melhor? Está parecendo pior do que quando chegamos. - falou passando a mão em seu rosto. Tentou se afastar sem dar na cara de que estava realmente com medo.
-Estou bem, só vim avisar que vou ficar aqui com a Luísa, ela precisa de mim, então não precisa me esperar. - disse tremendo de tanto medo. Esperava que ele não reparasse no medo transparente que ela estava dele. Não sabia nem com quem estava falando. E se ele fosse um psicopata? Um fugitivo.
-Tudo bem querida, te mando mensagem pra conversarmos mais tarde.
-Claro.
-Estou indo então. Fique bem.
Saiu dando um beijo em seu rosto. Assim que ele passou pela porta se jogou novamente nos braços de Lucas. Os pais de Luísa já haviam voltado e a polícia informou que não tinham mais nada pra fazer ali, iriam esperar o laudo do legista pra resolver a situação. Os pais de Luísa e ela não podiam sair da cidade por que era suspeitos. Não tinha mais nada a se fazer a não ser esperar.
-Vamos então pequena? - disse Lucky passando a mão por sua cintura.
-Vou dar tchau pra Luísa e avisar minha mãe, fiquei de ligar e ela nem sabe sobre essa confusão, acho melhor contar amanhã de manhã. - respondeu indo em direção a Luísa.

Estava preocupado com tudo aquilo. Algo dizia que aquele Richard tinha algo a ver com isso. Precisava ir a delegacia o mais rápido possível.
-Pronto, podemos ir. - disse Any se aproximando dele.
-Já ligou pra sua mãe?
-Já sim, ela disse "achei que voces eram só amigos" - disse ela rindo
-E você disse o que? - perguntou esperançoso.
-Eu disse "eu também achei que éramos só amigos" - respondeu com um sorriso lindo no rosto dando-lhe um beijo carinhoso. Pela primeira vez sem se esconder de ninguém.

Lei De MurphyOnde histórias criam vida. Descubra agora