A caça

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Robert
Robert ficou em pé acima de Lucas, os olhos arregalados, ofegante, energizado com nunca. Parecia que seus sentidos estavam todos ampliados.
Era totalmente diferente do que sentiu com Pete, ou seus pais, ou até mesmo Julie e não saía do seu pé. Com Lucas foi como se tivesse acabado de vencer uma guerra. A sensação de vitória era magnífica, quase embriagante.
Ignorando a dor que sentia nas costas pelo tombo, começou a caminhar pela praia procurando Any, com todos fora do seu caminho podia finalmente ficar a sós com Any, podia explicar a ela o por que teve que agir daquela maneira, ela entenderia, no momento em que o visse talvez ficasse assustada e com medo, mas entenderia depois.
Começou a andar mais rápido, excitado com a idéia de encontrá-la. Trataria Any com toda a paciência do mundo, lhe daria carinho e seu ombro pra chorar pela morte dos seus amigos, confortaria ela e diria que não teve escolhas. Ela iria entender.
Ó querida Any!
Gostaria de levá-la para o quarto depois, mas sabia que não teriam tempo pra isso. Então levaria ela pra longe, e quando estivesse fora de alcance pararia em um motel com ela e faria amor com ela. Eles teriam toda uma vida juntos, um futuro pra construir.

As lágrimas em seus olhos mal a deixavam ver a garota. Ela piorava a cada segundo. Sua respiração estava mais pesada, ela se tremia inteira, e Any temia que ela não fosse aguentar mais muito tempo.
Julie tentou gritar, Any pôde perceber o pânico em sua voz.
Estava prestes a gritar para Pete e Lucas se apressarem, quando as palavras ficaram presas na garganta.
Não podia acreditar no que estava vendo. No início se recusou a acreditar, balançou a cabeça algumas vezes tentando afastar a imagem. Mas, quando olhou de novo, viu que não estava errada. Era ele.
-Oi, Any. - disse Robert.
Any olhou para Robert sem respirar enquanto tudo se encaixava. Ele estava ali o tempo todo. Havia feito algo com aquela garota. Havia feito algo com Pete e Lucas.
Ah meu Deus....
Lucas...
E agora ele estava ali atrás dela.
Sentiu as lágrimas brotarem no canto dos olhos. Parecia o seu pior pesadelo. Ele vinha lentamente em sua direção. Parecia não ter pressa nenhuma.
-Você.. - foi a única coisa que conseguiu dizer.
Ele a olhou com um breve sorriso no rosto. Devia estar se sentindo vitorioso, realmente conseguira o que queria. Continuou caminhando em sua direção, parou a alguns metros de distância analisando ela. Sustentou o olhar dela por alguns minutos antes de se virar para Julie que ainda tremia.
-Sinto muito por ela, não queria que presenciasse essa cena. - disse, com voz baixa. -Era necessário.
Robert falava como se nada daquilo fosse culpa sua, como se realmente sentisse muito. Nojo, sentia nojo dele. Deu um passo a frente, ela recuou se afastando um pouco da garota. O rosto de Robert assumiu um tom de tristeza, como se ele estivesse assistindo ao funeral de um amigo íntimo. Um ótimo ator. Queria saber o que ele fizera com Lucas.
Ah, Deus, Lucas...
-Onde está Lucas? - perguntou, querendo saber, mas com um medo súbito de descobrir. Tudo o que pôde fazer foi manter a voz firme.
Robert ergueu os olhos, com a mesma expressão triste nos olhos.
-Agora isso terminou. - respondeu sem rodeios.
Aquelas palavras tiveram um impacto quase físico em Any, que sentiu imediatamente as mãos começarem a tremer.
-O que você fez com ele? - conseguiu articular. As lágrimas se recusavam a ficar ali, insistiam em cair. E o medo a estava dominando.
-Isso não importa.
-O que você fez? - gritou, incapaz de se conter. -Onde ele está?
Robert deu outro passo em direção a ela, a voz ainda suave.
-Não tive escolha querida, você sabe disso. Ele a estava controlando e eu não podia deixar isso continuar. Mas agora você está segura. Cuidarei de você meu amor.
Ele deu outro passo, e Any recuou ainda mais.
-Ele não a amava, Anyca. - disse Robert. -Não como eu amo.
Ele vai me matar, pensou Any. Matou Lucas, matou Pete, matou Beatriz, matou Julie e agora vai me matar. Começou a se levantar quando ele se aproximou, com o medo aumentando a cada passo que ele dava. Podia ver nos olhos dele, podia sentir exatamente o que ele iria fazer.
Ele vai me matar, mas antes vai me estuprar...
Algo dentro dela gritava "FUJA", e Any sem pensar duas vezes reagiu.
Começou a correr, sem se dar ao trabalho de olhar pra trás, seus pés deslizando pela areia enquanto disparava pela praia.

Robert
Observou Any lutando contra si mesma pra manter a calma. Então ela se levantou e começou a correr. Não tentou fazê-la parar. Em vez disse sorriu, sabendo que ela não tinha pra onde ir. Sabia que ficaria cansada, o pânico a dominaria. Então pôs a arma no cinto e começou a correr atrás dela, o suficiente pra não perdê-la de vista e alcançá-la no momento certo.

Lucas recobrava e perdia a consciência. Aprisionado em algum lugar entre a realidade e seus sonhos, sua mente por fim conseguiu assimilar o que havia acabado de acontecer.
E de que Any precisava dele.
Tremendo, começou a se levantar lentamente.

Lei De MurphyOnde histórias criam vida. Descubra agora