O salvador

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Robert encostou a arma no rosto de Any e ela instintivamente parou de respirar. Sentiu o metal frio em sua pele. O terror a dominava completamente. Ele parecia ter perdido todo o senso da realidade e do auto controle.
-Eu te amo. - disse ele. -Sempre te amei.
Não podia se mexer, um passo errado e ele a mataria, podia sentir isso.
-Mas você não está me dando uma chance de demonstrar isso. - continuou ele.
Ele a puxou pelos cabelos, levando seu ouvido a boca.
-Diga. Diga que me ama.
Any não disse nada.
-Diga! - gritou ele a sacudindo com força.
Any se encolheu diante à fúria em sua voz, ele parecia brutal, quase feroz. Ela sentiu o calor de sua respiração em seu rosto. Sua perna fraquejava e seu corpo inteiro tremia.
-Eu lhe dei uma chance e até a perdoei pelo que você me fez! Por me fazer perder tanto tempo correndo atrás de você, me esforçando pra te manter perto dos meus olhos. Pelo que você me fez fazer. Agora diga! - gritou novamente.
Any estava com a garganta e o peito tomados pelo medo.
-Eu te amo. - sussurrou ela, à beira das lagrimas.
-Diga de nodo que eu possa ouvir. Claramente, em alto e bom som. Pra que eu não tenha nenhuma dúvida do nosso amor querida.
Começando a chorar, ela disse:
-Eu te amo.
-De novo.
Chorando ainda mais.
-Eu te amo.
-Diga que quer vir comigo.
-Quero ir com você.
-Por que você me ama.
-Por que eu te amo. - repetia ela, com o medo expandindo-se dentro dela.
E, como num sonho, pelo canto do olho Any viu um vulto surgindo sobre a duna, seu guardião correndo no escuro.
Quando o vulto diante de seus olhos tomou forma, Any viu o corpo ensanguentado de Lucas se lançar sobre Richard, o jogando no chão.
Lucas começou o socar, tanto Robert quanto Any caíram para o lado. Robert lutava contra Lucas, não parecia real. Ele estava sangrando muito, e a força que havia adquirido parecia sobrenatural. Os dois lutavam na areia, rolando de um lado para o outro, a essa altura o sangue se espalhava por toda a parte e não dava pra saber de onde estava vindo.
Lucas acertou um soco no olho de Robert, e foi direto pra sua garganta. Agora Robert estava de barriga pra cima lutando pra manter Lucas longe de sua garganta. O mesmo parecia estar fora de si.
Com o rosto contorcido de dor, afastou Lucas com uma das mãos e tentou pegar a arma com a outra. Lucas não parava de socar, mas Any gritou, e foi o som do próprio grito que lhe deu forças pra levantar e correr. Subiu a duna com dificuldade sabendo que não tinha muito tempo.
Foi o som do tiro que fez Any novamente ficar paralisada. Lucas deu um grito doloroso e distante.
-Lucas! - gritou Any. -Ah, Deus... Nããããoooooo!
Olhando desesperada para baixo Any viu Robert tirando o corpo de Lucas de cima de si e se levantar. Any começou a tremer incontrolavelmente.
Lucas estava deitado de lado, tentando se erguer, ao mesmo tempo gemendo e se contorcendo de dor, com o sangue escorrendo para a areia.
Ouviu o som das sirenes ao longe.
-Agora temos que ir. - disse Robert. -Estamos ficando sem tempo.
Mas tudo o que Any conseguia fazer era olhar para Lucas.
-Agora! - berrou Robert. Agorrou-a novamente pelos cabelos e a puxou. Any estava lutando com ele, chutando e gritando, quando uma voz gritou de baixo da duna.
-Parado!
Robert e Any viram a policial Jenifer ao mesmo tempo. Robert apontou a arma pra ela e disparou loucamente. Um momento depois, deixou escapar um suspiro sufocado. A arma em sua mão pareceu estar tão pesada que ele não tinha forças pra segurar. Disparou de novo, errou o alvo, e Any pôde ouvir um gemido de dor. Seria Lucas? Então viu Robert lutando para respirar, parecia estar perdendo as forças. Tentava cuspir algo, e começou a cair. Any quis se soltar, mas ele a segurava pelo pulso, caindo de joelhos no chão.

Richard
Sentiu uma dor aguda no peito e ouviu um som como o de um trem de carga. A arma em sua mão estava ridiculamente pesada. Disparou novamente, errou, teve uma sensação de ardência na garganta que o forçou a recuar. Sentiu o sangue entrando em seus pulmões e tossia enquanto tentava respirar. O líquido viscoso não lhe permitia engolir. Quis tossir e cuspi-lo na direção da policial, mas estava perdendo as forças. A arma escorregou de suas mãos e caiu de joelhos se agarrando ao pulso de Any. Só queria a felicidade de Any, a felicidade deles dois. As formas ao seu redor estavam se tornando escuras e desfocadas. Virou-se na direção de Any e tentou falar.
-Me perdoe... Amo você... - as palavras eram fracas e indistintas.
Ainda assim se agarrou ao seu sonho, seu sonho de uma vida com Any, a mulher que amava. Any. Minha doce Any...
Robert caiu para a frente de cara na areia.

Any olhou para o corpo de Robert e então se virou na direção de Lucas. Ele estava deitado de lado, respirando com muita dificuldade. Any foi até ele e se abaixou, esforçando-se para vê-lo através de suas lágrimas.
Quando pôs a mão em sua cabeça, ele gemeu tentando levantar a mão para alcança-la.
-Ah.. Meu amor. - choramingou ela.
Ele sangrava por dois ferimentos profundos, seu sangue empapado na areia. Tremendo, Any pôs a cabeça dele em seu colo e ele gemeu de novo. Estava com os olhos arregalados e assustados, e quando tentou mover a cabeça gemeu, aquilo partia o coração de Any.
-Não se mexa meu amor... Vou levá-lo para o médico ta bom?
Podia sentir a respiração dele em sua pele, rápida e rasa. Viu uma lágrima escorrendo em seus olhos e ela o beijou.
-Você foi tão bom comigo meu amor. Tão corajoso.. Fica comigo, por favor, não me deixe, eu preciso de você, fique firme. Eu te amo Lucas, por favor fica comigo. Temos o próximo verão pra planejar, e uma casa na árvore pra reformar. Eu juro que todos os dias depois de ver sua mãe eu tomo um sorvete com você. Apenas fique comigo.
Sentia suas lágrimas quentes escorrendo pelo rosto. O desespero chegando.

Lei De MurphyOnde histórias criam vida. Descubra agora