pela noite, o inferno é sempre frio e aqui

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No mais, sempre foi isso: rir da desgraça porquê é piada; e amar pelo mesmo motivo. Mas nem sempre tem graça esse tipo de coisa para quem vive numa corda bamba com o seu próprio ser; pior ainda é quando todos, até os que não deveriam, descobrem que nunca houve, de todo, personagens. Que se há ficção, é aqui e ali. Chamar coisas autobiográficas de ficção, ou romance, é, de certa forma, medo de algo. Mais engraçado é quando me perguntam coisas; eu apenas faço poemas por não saber de nada; não sei se sou poeta nem se faço mesmo poemas. Só sei que sou o tipo mais corajoso de covarde; cheio de espirito de escada que não volta e fala vai pra casa e escreve. Não me perguntem, sou muito abstrato.

Tudo que mais desejaria era adormecer sob papeis para psicografar meu sonhos como desejam - e realizam - fazer formas as estrelas além do céu nublado que tenho a disposição dos meus olhos. Como desejam meus olhos ser Forrest e correr pra além da barra do horizonte para buscar meu sonho que fazem tão pouco dele. Meus sonhos que alimentem a fome da minha alma que morre de fome. Minha alma que não deseja outro corpo mas gostaria de estar em outro lugar. Que queria estar entre as estrelas além desse céu nublado que tenho a disposição dos meus olhos que querem correr. E veja só, até quando eu consigo "psicografar" meus sonhos, dou-me mal; visto que, se tenho inimigos são frutos de sonhos frequentes que tenho, inanimado, e neles estes regojizam no bar que acima da porta lê-se "meu fracasso" ao que brindam e gozam, quero saber; mas da rua à porta eu corro e não chego e todos os olhos me encontram e brindam e gozam até que eu, enfim, entendo qual é a do nome do estabelecimento. Num jogo de erro e tentativa e erro de novo à soleira, que ora me parece perto e agora é horizonte e volta a mim tão rápido que incerto não sei mais e me deixo atropelar por que, se morro, acordo e, então, estou bem. Mas quando um assopro ainda em sonho me abre os olhos tropeço e entro e encontro chão e caio num escuro mergulho e volto à realidade. Acordo. Será que eu poderia sonhar sobre algo novo? O que mais há de ser dito sobre mim, afinal?

Entrou pra cigano, meu coração que mais é, num "porra" gritado, bicho que qualquer algum escorpião, quando apontado o peito, se perguntado por terceiro o que se passa por dentro quando por fora, ninguém entende como dar-se-á o fim do livro se alguém perdeu algum capítulo. Não sou turista, sim viajante qual é um Melquíades em alguns Macondos do mundo que na ânsia pelo desaforo do amor; de poder dizer tudo a todos e que alguém me diga porcarias nos ouvidos sob a luz, onde nos veremos bem, onde deverei nenhuma explicação a ninguém e chegue à porta e receba um beijo de quem parece não ter ficado fora sequer uma hora. Lúgubres incertezas fazem-me questionar a veracidade da cidade que vejo e não me encontro lá e se eu sair, por sumir a procurar "o que?" não sei! Ir por fugir daqui à algum lugar que só me faça ficar por ficar por alguém do "porque?" nem eu saber senão, somente pelo amor? Deve existir esse lugar; esse alguém. Mas só se eu for. E eu vou! Vou ver a vida passar e a morte chegar tão Garcia Marquez. E no fim saber que, enfim, não morro no fim. Que vivo pra deixar de viver e deixar historia para quem depois de mim. Então, isso é utopia demais? Não. Apenas mais do que mais do mesmo e abissais poréns como em Minutos Atrás. Cinzas do tempo e artifícios mais que levam a esmo o que já trouxe paz. Já sei que há mais do que vários que também se chamam "otário"; também o sou. Por mim, quisera poder fazer assim, tão bem. Ter quixotes pra enlouquecer em léguas rocinantes de quilômetros a andar antes de dormir e que tudo virasse cigarro durante música na madrugada. Até que a tragedia acontece e amanhece. O brilho do sol não é bom anuncio de nada da mesma forma que Dulcineias são melhores que Jennifers. Toboso é longe e Olinda é aqui e, por falar em "música durante a madrugada", Tarantino sabe mesmo escolher uma trilha sonora decente para os seus filmes - eu sou um?

"Ancora qui
Ancora tu
Ora però io so chi sei
Chi sempre sarai
E quando mi vedrai
Ricorderai."

Então fui perceber que ando deveras abstrato; que o concreto das paredes não transpassa aos sorrisos suspensos em pregos nas fotos das paredes que eu imagino ter aqui. Tristes são os felizes que roubam os risos dos tristes, que riem sem motivos; sem nada a esconder. Amagarei a que palavras doces que me falarão coisas que desacredito? Uma felicidade que eu nunca quis. Para quê ser feliz? Os sorrisos que me são favoritos são os que choram as mesmas lágrimas dos livros; aqueles que seus donos, quando os fazem, só querem ironizar a obrigação de deixar o sofá e sair ao verão. Senão, para que então serviria o rímel? Ou o pulmão? Se cigarros queimam por lágrimas, para quê ser feliz? Quem foi o louco que disse que eram moinhos os dragões? Deixo que os felizes falem, já não me importo, que se não for por: fatos isolados, preconceitos e boatos, eles não sabem quem sou; se sou algo que sobrou depois que algo aconteceu, se é que algo aconteceu, se é minha a culpa, ou não. Se num sentido subjetivo: não me interessa ser a caça e muito menos caçar, mas sim em ser o caçador que faz o que faz para dar de comer às bocas que esperam em sua casa. Mas, se no campo, outro exemplo, mada me interessa ser o agricultor e sim o tipo raro de filho que sente prazer em aguar a terra e vê-la dando luz ao comer a morte necessária que é destino certo ou o que chamam de milagre natural duas medidas para o mesmo peso; apenas eu. Podem dizer o quão merda sou eu, mas devem reconhecer que tipo de merda eu não sou que eles queriam que eu fosse. Simplesmente, eu não vejo diferença, se eles, assim como eu, não sabem, de verdade, quanto tempo faz da data que nasci até aqui; se tenho vinte anos e só vim ser real quando disseram que o era em mensagem automática num papel impresso dando fé. Sem nota de rodapé apenas outro igual com mais 9 meses no ventre da minha mãe; qual a minha idade se há muito sou notívago e minha cara envelheceu 9 anos há mais ? se já não corro rápido ou se nunca corri; se não tenho fome ou se engordei demais; se não sei quantos pecados fazem o perfeito homem mal que nunca me tornei e se enceno a risada final da novela que escrevi e não publiquei; se choro e não valho a lágrima e que bebo o sorriso no gargalho do leite derramado; e se devo ser o sonho social mesmo desejando o outro extremo. Qual a minha idade, afinal, se no fim, velho ou novo, volto ao pó? Meus sorrisos fracos de domingo são baladas tristes de auto-retrato em foto 3x4 num RG com meu nome e que não é meu; e das risadas do outro lado da porta, das mãos dadas janela abaixo, lá na rua. Sou eles e eles não me são se, são e salvo, volto pra casa é porque não fui salvo - do quê? - do meu espelho manchado onde eu não sou isômero.

Todo dia, pela noite, o inferno é frio e aqui. Tanto frio que queima que a cerveja não refresca e o cigarro queima devagar; longe demais das capitais dos países mais frios e nem parece o mesmo lugar que a chuva não chega que se imagina quando se ouve o disco de Luiz. Em cartaz um sci-fi desde que veio à vida seca até a morte fria de Severina a mãe, que não se chama Maria, do filho do dono do mundo. Viajando por boleias do destino canto o forró triste do frio que quando chegou, coincidiu do mesmo tempo em que ela partiu e a lua, malandrinha, não teve mais como me fotografar em meu cenário de amor. Também não vejo Assum Preto do céu o azul ou o sol pois estes se fecharam e mares desabam sobre mim - faz frio. Se arrancaram, Assum Preto, teu olhos para cantares melhor de mim
também meus sorrisos para que escrever pois foi o fim quando ela partiu. Parece ficção? Quisera. E o que diz esse tal forró? A história que não é mais escondida a ninguém. O forró que é cantado e escutado ao mesmo tempo por quem está só, num baile a dois, com canções sobre saudade. Só então que se vem perceber que não existe depois. Só após perder que se percebe que nunca teve. Eu não sei dançar e olhando esse lugar parece que ao amor, pouca gente se atreve - apenas dois ou três casais. Parecem com você, Primeira,que foi, de longe, a que chegou mais perto de dizer que não sabe o que falar, parando pra dizer que não dá pra se despedir. Que um dia volta e fica aqui mas por hoje vai continuar andando por aí. De fato é certeza que vou esperar mas considerando o fato de que nunca volte; já que parou pra dizer que não dá pra se despedir e que há um mundo a dispor; que certezas
são mutáveis demais - mesmo tendo certeza de ir. Sabe eu não faria diferente se soubesse, mas, certamente estaria ciente de que certas chuvas sempre vão cair. "Não se vai, de todo, embora quem fica numa saudade" eu ainda estou certo ao dizer esta frase - que vi num livro sobre poética Olindense?


E ela disse: "Nunca Apague a Luz".Onde histórias criam vida. Descubra agora