O Sabor Das Dores... Dissabores Agridoces

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A vida sempre seguiu assim até mesmo quando eu estava parado sem fazer nada e constantemente eu me via deprimido com o mundo. O mundo ficou mais velho e rabugento. Não se pode mais ser criança, praticamente. Onde estão as crianças? Eu sempre me perguntava. Hoje as crianças são obrigadas a crescerem rápido. E eu ando... Ando e nunca saio do lugar. Já tentei parar de beber e fumar, mas não por causa da minha saúde e sim somente pra mudar. Tentei mudar os tipos favoritos de mulheres, mas tudo que tentei foi tão eficaz como conseguir excluir o Nokia Tune do celular. Continuo chegando às cinco na casa da minha mãe bêbado porque não tive coragem de enfrentar as paradas da minha. Se existisse algum céu, chegaria da mesma forma. Eu não consigo mudar e me convenci que sou do mundo; de domínio publico. Da selvageria. Assim como Woody Allen disse num filme que não lembro o nome "Sou poeta e não um soldado". É algo que deva rimar com genética ou seja lá o que for.

Num dia utópico da minha vida eu pensei num mundo onde punks ajudavam velhinhas; não havia carros fortes e o dinheiro era entregue de bicicleta; bombados liam e poetas riam. Não havia policia, nem armas e nem bandidos. Eu não gostei porque eu vi que não teria lugar para mim. E percebi que estava tão imerso no meu samsara pessimista que não quis mais pensar nisso e também que uma utopia é pura falta do que fazer e não pode ser quando é aplicada. Mas é utopia e utopia não pode ser alcançada - por isso que continuo de esquerda.

E por falar em estar imerso no samsara pessimista, eu ando instável. Tanto que não sei responder quem sou se não tiver por perto um espelho que eu possa apontar e dizer "sou ele, acho". Como diz um dos Fernandos "não sei na verdade quem sou". Mas com certeza se alguém pode dar uma ideia disso melhor que eu - o que não quer dizer que é verdade - são as mulheres que já passaram pela minha vida; se quiser pode ir pergunta-las. Por falar nisso (já percebeu que eu sempre falo isso? E vou mudando e mudando de assunto, só não se perca.) sou um cara que costuma pensar muito nas mulheres que já tive. Isso não é necessariamente um sinal de resíduo de amor ou coisa parecida, exceto pela primeira verdadeira, e sim de amizade mesmo - eu acho. No máximo um misto de luxuria e carência. Adorávamos foder numa quinta-feira chuvosa como essa e me pergunto se elas persistem na tradição até hoje enquanto eu queimo um cigarro na janela da mesma forma quando terminávamos da tradição. Queria ser um tipo de mosquito paparazzi e investigar sobre isso. Fosse a mosca na sopa, o zumbido chato no ouvido ou a música brega no rádio; contanto que desse pra saber se sim ou não. Penso principalmente na ruiva. Eu e ela falávamos, mas não só falávamos, safadezas todas as noites. Eu incrementava meu vocabulário mundano para excitá-la mais e dava certo. Ela era a pantera de Bukowski. Eu sumia do mapa e ela me encontrava incisiva e aguda; adulta em sua única intenção. Careless Whispers sempre tocava na AM e ela me cantava suas mirabolâncias no ouvido. Minhas emoções faziam hora extra com ela por perto. Ela sabia o ponto certo, era uma perfeita amante sabia como acalentar o meu peito só rindo. Lembro-me dela andando com minhas camisas de bandas e de calcinha, pedindo um cigarro ou servindo mais uma dose. Com ela próxima meu rádio nunca parou de tocar e ela, nunca parou de dançar, de cantar. Era um amor diferente que tínhamos, ela transava com outros. Ela não escondia. Mas me jurava que só se sentia bem ali, comigo. Eu acreditava, não tinha nada a perder. Eu também comia uma galera mundo a fora, mas também não me sentia bem como com ela. Ficávamos bêbados, caiamos por ali mesmo. Ela foi meu amor mais sacana e mais sujo. Todos me perguntavam por que ainda estava com ela eu não sabia, só sabia que gostava de ficar com ela. Foi o melhor. Jogávamos um com o outro, mas jogávamos limpo. Sem cheats. Mas um motoqueiro imundo apareceu com uma Harley e sua jaqueta de couro. A levou de mim. E ela levou um pedaço do meu peito E meus últimos cigarros. Tive que pedir a um bêbado deitado na calçada.

Peguei, olhei e li - "US".

"Puta que pariu" pensei "não bastasse aquela vadia me deixar, ainda tenho que fumar US?".

Já faz tempo que isso me aconteceu e nem sei se ainda lembro as curvas do rosto dela. Mas lembro do gosto da boca - seria imperdoável se não. O foda é que ela me pediu um poema e eu a prometi, mas foi embora ao conhecer ele. Agora ele repousa na estadia das músicas que ouvíamos e fiz outro em sua homenagem:

Entre o Jazz

O soul

O rock

E o bluegrass

É onde estou

Imóvel

Bêbado

Onde você me deixou.

Até que ecoa

"Carry on"

Nas horas

Intermináveis

Dessa cidade manhosa,

Olinda.

No vigésimo terceiro

Dia chuvoso

De agosto.

Está dia

E entre o Jazz

O soul

O rock

E o bluegrass

Faço

Minha estadia.

Mas a melhor poesia que sobre ela é uma fotografia. Considero este um dos meus melhores romances. Só não melhor que a primeira verdadeira que tem todos os poemas - é só prestar atenção nos easter eggs. E se dizem que sofro por que quero eu digo que é verdade - hoje eu quero. Escancarar os dentes sem querer chorar é perigoso.

Hoje não encontro nada mais confortável do que ser o vestido vermelho que não é mais usado esquecido no guarda-roupa entregue às traças; ser o sapato 36 fedendo a naftalina. Os livros empoeirados da prateleira que não perdeu o verniz. Prefiro ser a história e é uma troca justa me cativar para que eu dê amor; me deixar para eu escrever poesias; me esquecer e eu imortalizar. Ninguém morre e o amanhã sempre vem da mesma forma.


E ela disse: "Nunca Apague a Luz".Onde histórias criam vida. Descubra agora