O bom da solidão é que você endurece. E quando deixei de aparentar a dor da perda do excedente ela veio me falar. "Não entendo a sua volta" assim como disse Nenhum de Nós eu disse a ela. Ela enrolou com palavras soltas juntas em frases desnorteadas e eu a escrevi ...
"Oi, quero me desculpar. Desculpar por não fazer como manda o oficio do pós-termino. De correr atrás, de enviar mensagens, de ligar (mesmo tendo ligado algumas vezes) e outras coisas mais.
É que tenho andado muito ocupado e não tive tempo de fazê-lo. E também que não é a primeira vez que perco alguém. Lembro-me bem de todas as garotas que, assim como você, me deixaram e outras que, assim como você, deixei de fazer o que deveria. E também outras pessoas quais perdi que não foram minhas.
Sua partida não foi menos dolorosa, pelo contrário, se não pareceu isso, peço desculpas por não fazer como manda o oficio, mas foi a que mais doeu.
Eu lutei muito por tu, e tu partiu. Doeu muito, mas enfim, como falei antes, ando muito ocupado, tenho muitas coisas pra me preocupar. Mas, quando puder, se der, eu irei reservar qualquer dez minutos dia desses pra chorar e lamentar. "Pra cumprir o contrato."
Tudo é como uma dança a dois que um guia e outro segue. O guia tira pra dançar e faz do seu jeito. Até o guiado pegar o embalo e antecipar os passos e quando isso acontece tudo melhora. Dança-se por horas e horas. Ambos se conhecem ali mesmo e a música para e já parecem estar casados, mas ainda não o são mesmo ambos ainda que prematuramente queiram isso. Mas ninguém diz mais nada e a música volta a tocar e ele quer dizer algo mas outro solta à ela um sorriso e ela vai dançar com ele. E ele dança.
Então sabendo eu toda a coreografia decorada como um trauma de infância que não me deixa eu tive que responde-la dessa forma. É verdade que eu pensei em tentar novamente, mas preferi não, afinal, eu encontro ela e outra mais e melhores no papel e os poemas que fiz destinados à ela dei-os ao mar que foi a segunda melhor mulher que já passou em minha vida pois me escuta tanto quase quanto a solidão, a primeira. A vida segue assim: "deixo que vá quem quiser ir, deixo lá quem quis ir." Sem cão, sem pulgas!
Lembro de ter repetido isso com uma outra que passou em minha vida depois dela - Todas qual eu citar serão depois dela, pois foi a primeira verdadeira mesmo sendo a terceira na realidade, mas foi a primeira verdadeira. Com essa que veio depois dela foi algo bem estranho. Ela era casada e eu sempre pensava ler/ouvir "cansada" quando ela falava sobre isso. Eu passava com meus fardos e ela me olhava distante dos metros que nos separavam com seus olhos azuis de dilúvio. Ela flertava e eu não sabia o que ela queria conseguir me olhando assim. Começava a me achar uma ameaça ao homem dela. Como eu tenho certa queda por certas mulheres cansadas e por arruaças eu me interessei, mas também queria saber por que ela me olhava e o que ela não tinha e queria de mim. Como para mim não importava o que fosse pedi que me desse um sinal. E ela me deu. Foram umas duas semanas de amantes. Antes de ir pra terceira ela queria de mim o mesmo que dela pra mim e eu não tinha nada disso para ela. Não consegui o fazer. Antes de ir pra terceira não houve mais semanas de amantes e ela me demonizou aos ventos e me chamou de insensível.
Eu disse a ela que minhas melhores músicas saem da tristeza de algumas pessoas e muitas saíram quando eu estava triste.
Só que ainda hoje, como foi nessa época, não tinha mais condições de ficar triste e que compor era, e ainda é, algo quase que impulsivo de mim. Pedi perdão a ela se havia arrancado lágrimas e soluço ou se quebrei promessas - que não fiz, mas ela citou Vanilla Sky e a teoria das quatro fodas numa noite em que se dorme junto.
Não foi por querer mais dei a ela um pouco de dor, um pouco de tristeza assim como me foi dado. Disse que ela poderia me chamar do que quiser - Canalha, idiota, hipócrita. Chegou o ponto que eu comecei a ser um tanto rude para me livrar daquela situação
- Se quiser me chame do que vier à cabeça. Grite suas lágrimas e enfatize seu drama que irei combinar isso a uma melodia e farei uma música. Chore, pode chorar. Se quiser também ligue o rádio daqui a algum tempo e escute suas próprias lágrimas cantadas por mim e compreenda que a dor de um pseudo amor perdido não é nada mais que costume. Se acostume com isso. Você vai perder coisas mais importantes que eu por tanto chore agora e a partir de amanhã guarde-as para essas coisas.
E ela me ouviu se derramando pelos olhos e foi embora. Não me orgulho de ter agido assim, mas tive que fazer. Ela me lembrou duma puta que conheci tempos depois dela que a chamei carinhosamente de Odette. Odette era da mesma forma como se conta a história da que tinha como seu nome de batismo o mesmo como passei a lhe chamar, Odete. Era a mais cobiçada e tinha filas de homens para atender. Todos sabem que praticamente nenhuma puta gosta do seu trabalho mas Odette, a minha, era um pouco mais pisciana no sentido de sua quimera ser apenas um novo melhor amigo que lhe ouvisse confessar qualquer porcaria e que deitasse com ela mas somente para ficar ali deitados.
Conheci Odette quando gostava de chamar a mim e meus felás mais próximos de Boêmios de Preto - que era o nome de uma banda qual fiz parte e tocava músicas especialmente para se beber e fazíamos versões de músicas que tinham letras para esses fins e só não tinham um instrumental que ajudasse a isso. E andávamos pelas ruas de "Recifedendo a mijo", era como eu chamava essa cidade, percebíamos a ironia que era falar de amor aqui. Percebíamos o frevo que trás as letras mais tristes e ritmo tão animado e o contraste nos fascinava. Cifrávamos poemas de Kerouac, Bukowski e Ginsberg e cantávamos por ai pelas ruas. Sentávamos nas mesas e bebíamos quanto o dinheiro desse e não sabíamos o porquê daquilo tudo. De beber, de escrever. De dormir quase de manhã e acordar quase de noite. Só sabíamos que queríamos virar verbo - Vou Nagarizar. Sabíamos também que estávamos no fundo e qualquer coisa que disséssemos seria profundo, por isso fazíamos o que fazíamos. Escrevemos canções de maldizer e de sobre a vida o amor. Perdíamos porque começamos a jogar para perder. Era intencional e eficiente - "Não se vai, de todo, embora quem fica numa saudade" Era o nosso lema e o show tinha que continuar. Voltávamos no bacurau e tudo estava certo. Nossos ideais éramos nós. Nossos verbos e nossas canções ideais para se beber. Tudo em respeito ao vicio e pela falta do excedente e para tentar explicar (ou não, só confundir mesmo) o amor. Nossos amores não haviam virado um tipo de "bom dia" e sabíamos disso e por isso nos demos tão bem com Odette, para quem fazíamos serenatas, e não com a mulher cansada que surgiu naquelas duas semanas de amantes.
Mas é e verdade que Ela, a primeira verdadeira, nunca saiu dos meus pensamentos. Quando eu estava cantando só cantava músicas feitas pra ela; as que eu não tinha dito às ondas, todas afetuosamente com pesar. Mas isso era um segredo que todos sabiam e eu achava que não, era tão explicito como eu era só um cara perdido que fazia poesias e músicas de maldizer e amor. Tudo fluía assim. Estava tudo bem. Pois não dizem que o poeta (que não sei se sou) só é bom se sofrer? Então viva a porra da poesia. Era como pedíamos socorro.
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E ela disse: "Nunca Apague a Luz".
RomanceRomance ou ficção? Não sei lhe responder, ao certo. Trata de uma nada épica odisseia ambientada nos cantos mais decrépitos de Olinda e Recife de um personagem que passeia por vários de mim contando a saga de alguém que não é nenhum herói, tampouco v...