Como dito antes, acordou-me o meu irmão e lá me fui ser um homem integro e responsável, aos pedaços. Nesse dia o meu primeiro conflito apareceu muito mais cedo que o de costume, visto que, eu só começa a me envolver com qualquer pessoa tardiamente após o meu despertar e levantar da cama; foi um ser que, para mim, parece ser tão imbecil e caga regra que eu o apelidei escarniosamente de Capitão América, por o ser e ser também o representante de classe do meu terceiro ano. E ele me diz, querendo ser engraçado, para que eu não fosse trabalhar naquele dia e que fizesse como ele: ir para a praia e encontrar alguma mulher. Segundo ele, a mulher "dele" naquele dia era Sofia, que havia sido um love affair meu no mesmo maldito terceiro ano.
Infelizmente minha viagem ao trabalho pareceu-me longa demais e nem vi, necessariamente, o ônibus sair do lugar; ouvia minhas músicas e pensava. Neste dia os pensamentos me fizeram lembrar dos tempos passados. Principalmente de Sofia e primeiramente quis me lembrar de seu rosto e encontrei certa dificuldade; mas consegui e lembrei também que eu sempre sentava propositalmente ao seu lado; que ela sempre estava escrevendo rabiscos em seu caderno. Rabiscos estes que nunca soube do que se tratava. Lembrei também que eu já rabisquei poemas sobre o meu "amor" para Sofia e que havia se mostrado - seria para ajudar minha intenção à ela, mostrei para que servisse como indireta mas ela limitou-se somente a rir e agradecer a dedicação.
Involuntariamente mudou-se meus pensamentos por causa dos enfeites de Natal, que se aproximava, pela cidade e pensei que "papai Noel se perderia e morreria o cinza de Recife e Olinda". Depois coloquei a fazer um breve estudo sociológico para com os passageiros do ônibus; defini-os como Amebas e quis ser aquele que conseguiria fazer algum tipo de vírus para extinguir uma única Ameba e que todas, por fim, morressem também. Se uma morrer, todas morrem; por serem todas cópia da cópia. Deu para ouvir também a conversa das meninas que estavam atrás de mim que conversavam sobre seus "amores" e uma falava constantemente que tinha medo de amar e tudo mais; deu vontade de mandar ela parar de frescura e amar logo - assim ela se estabacaria e pararia de falar besteiras e ter medo do que realmente dá medo.
Volto à pensar em Sofia e lembro um pouco mais do terceiro ano; até que ponho a me lembrar especificamente de uma ideia que havia tido naquele tempo; um roteiro para um curta que idealizei para concorrer a um concurso de curtas na cidade que eu provim antes de morar em Olinda, Tracunhaém, a cidade do artesanato de barro. A ideia era bem simples.
"Um velho artesão apaixonado pelo barro ensina para seu filho como e o que fazer com o barro; seu filho aprende. Cresce, vira homem de negócios. Muda-se para a capital e esquece de fazer os bonecos de barro; não esquece como se faz, só não exerce. Um dia faliu perdeu tudo; não tinha nada mais e não sabia como iria sustentar sua mulher e o filho há pouco nascido. Visita a casa agora só de sua mãe. Na calçada coloca a mão no barro e fez um dos bonecos para refletir sobre o que fará; passa um gringo e lhe pergunta quanto custa aquele boneco. E então ele viu no boneco de barro do seu avô uma saída e o faz e consegue. Não tem agora todo o dinheiro que tinha mas o que agora tinha dava pra comprar feijão. E ainda no fim de sua vida ensina a seus netos a fazer bonecos e diz
"vocês vão precisar do barro para viver"."Continua sendo uma boa ideia, não a abandonei; só havia esquecido.
"Perca mais o seu tempo pelo que valerá a pena e não pelas coisas que valeram no passado".
Diz uma das garotas atrás de mim e gosto da frase, até de ter soado "tão de plástico" falado por ela; tanto que temo já ter dono, ou não ter mas ser daquelas que circulam incansavelmente no facebook, "entretanto, vou procurar saber." eu disse para mim mesmo."Enfim, vamo tirar foto!"
Diz a outra e eu entendo porque soou "tão de plástico". As pessoas hoje em dia, se não sabem mais sofrer sem tirar foto, menos ainda sabem se divertir sem que também. Nesse momento tive a súbita certeza que a frase da outra provia do facebook, ou tinha mesmo dono - chutei com certeza Caio Fernando de Abreu. Em casa me surpreendi por não ter encontrado nenhum dono.As pessoas realmente estão vivendo de uma forma que eu não entendo; parecem viver um só dia. Parecem viver apenas aquele dia. Não lembram do passado delas; agem por agir e não sabem o que fazem. E eu queria poder dizer à elas que se perguntassem "De onde vim e para onde vou?" toda vez que elas, ou esquecessem-se, ou não soubessem das respostas. Mas acho que essa condição de viver apenas um dia e no dia que se vive ou num outro que se passou é fruto da objetividade exacerbada que existe hoje em dia. Tudo tem que ser prático, rápido e pró-ativo e compreender, entender e saber já está obsoleto e não põe feijão na mesa. Me pergunto se eu tentasse ensinar as pessoas que produzem o "feijão", não as que vendem-o, algo sobre como elas poderiam viver melhor sem se submeter à certas coisas relevantes prol vida social, elas me dariam a porra do feijão. Algo mais humano e social que essa doutrinação do "conhecimento técnico" para fim de mão de obra bruta e barata.
"Na minha realidade não existe saudade, estamos juntos ainda!"
Interrompe-me a tal desgraça da menina que fala atrás de mim falando em voz alta a legenda da foto que tirara há pouco com a amiga. "Se sentindo o quê?" ela pergunta à outra para que ponha como atividade no status do facebook. "Confiante" ela responde."Quando sobra realidade só resta saudade."
Quero dizê-la e mandar parar de frescura e dizer que fosse amar para se foder e e aprender coisas com vivências; que, no fim, escrevesse algo de relevante. Que olhasse menos se tem sinal de wi-fi e mais as pessoas; diria que o que elas compartilham é melhor, não precisa-se de senha e é de graça. Pensei em desenhar um tutorial e indicar algumas músicas. Mas preferi me abster pois eu não seria amigável.Por fim, quis dizer que "você vai sempre amar quem você não pode ter de volta".
Mas mais me preocupou levantar-me e pedir parada.
Quando eu, frente à porta de desembarque, vi algo escrito na parte de cima."Uma gentileza não custa: dê bom dia."
Indiferente só fiz descer.E igualmente à viagem que demorou mais que o de costume, demorou o dia à passar. Mas passou e, depois de algumas eternidades, me vi livre de novo das réplicas do meu nada querido Capitão América.
Na parada, testemunhei algo interessante. Um homem branco ativista contra o preconceito racial, sempre lutou pela igualdade. Certo dia, conseguiu namorar com o amor de sua vida no dia que ele ia conhecer a família dela se arrumou queria conquistar todos inclusive o pai que era carrancudo pôs seu melhor perfume e comprou uma roupa não tinha dinheiro para táxi então teve de ir de ônibus mesmo. E lá na parada um mendigo que fedia muito, todo maltratado, foi lhe pedir um trocado então o homem que, também tinha mania de limpeza e ansiedade pelo evento do dia, se afastou um pouco quando o mendigo foi lhe tocar; o mendigo não gostou, se alterou e começou a criticar o homem. Mais outros que estavam na parada, que não viram e nem sabiam do caso ocorrido, foram persuadidos pelo mendigo. Estes mais o mendigo lixaram o homem e quase o mataram; ele não foi conhecer a família da menina pois teve de ir ao hospital. E ele, o homem branco, então entendeu a situação de um forma e dias mais tarde postou a seguinte frase em seu facebook: Às vezes os oprimidos interpretam errado o que chamam de opressão. Eu presenciei o acontecido e não interferi porque não sabia do ocorrido e não entraria no meio daquele rebuliço, nem para ajudar aqueles à matar o homem, tampouco para apanhar daqueles que quase o mataram. Só vim entender a situação depois com a postagem do cara que apareceu em meu feed.
Claramente este dia foi movido por várias reflexões que fiz neste dia, e nos que se sucederam. Culpa de Sofia. E quando cheguei em casa estava absorto em reflexões mais pessoais e, como sempre, terminou em poema para Ela.
"volta e meia
tô de volta
volto toda noite
de onde estiver
crente que um dia você volta."
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E ela disse: "Nunca Apague a Luz".
RomanceRomance ou ficção? Não sei lhe responder, ao certo. Trata de uma nada épica odisseia ambientada nos cantos mais decrépitos de Olinda e Recife de um personagem que passeia por vários de mim contando a saga de alguém que não é nenhum herói, tampouco v...