Se foi, então, que boas lonjuras ande; enquanto aqui ainda paira a ultima baforada que não se desfaz nunca. Ainda mancha o tapete vinho derramado. Ainda não derramei na pia o leite que venceu. Ainda outra dose mais, ainda que menos que o ultimo porre. Ainda no sofá e confortável te vejo; ou na cama seminua ou completamente ou com minha camisa de banda sem nada sagrado na mente. Ainda tudo do mesmo jeito como fotografia. Tudo ainda aqui como filme em pareidolia. Ainda a lúdica e maliciosa inocência de que nada vai embora. E, de fato, de todo, não foi; se quem, em saudade fica, é porque também na saudade se vai. É o que digo e ainda que fosse verdade saudade, só, nunca trouxe quem se foi. Ainda o perfume. Ainda aqui. A fala e o silêncio também. O grito e a música. Tudo ainda aqui. O que fode é que tudo ainda aqui tu ainda lá. Que boas lonjuras ande e, voltando ou não, eu, que não traio a mim, ainda estarei aqui. Mas, se foi, então, que boas lonjuras ande. É, Primeira, como sempre foi: um eterno Feitiço de Aquila. Eu só, rio, mas, choro. Tu, mares pelo mundo com vários Infantes infames à deriva. Cá, só, eu não derivo coisa alguma. Um noir sem conflito e eu não posso te salvar.
Tudo um eterno jogo de conversas a fora entre cervejas que não me tiram daqui. Que não me salvam das pessoas outras que estão alheias demais a mim para me ouvirem. Se só, em casa, e olho a janela me olham nocivos lá de baixo, quase todos. Os que não, não me veem. Que fiz? "Não fume" me diz alguém. As vezes, me diz minha mãe. "Que posso fazer, mãe?" Não teria coragem de o fazer com uma arma; não digo para que não comece a ouvir conselhos. Mais seguro assim: dado aos poucos; no sofá, no quarto, na rua. Em qualquer lugar. Bom que me dá mais tempo para fazer coisas pendentes que para ver se concluo sem ter que terminar antes do fim, começo de novo, mais uma vez; tudo que não terminei quando pus-me a realizar tudo que sonhei quando não dormi. Mas paro frente a quem quando frente ao espelho e o rascunho de outro alguém? Quem? Kaczynski seria, demais, presunçoso. Senão, Zenão de Citio tentando libertando-se como o anônimo e Tyler sendo livres em porões de bar.
"Ao fim chegardo poço mais fundo
(Vou...)
Só mais um
Gregor no mundo
(...me soltar)"
Se é fundo o poço, se sou de peixes; acho que sei nadar. Se no fundo, qualquer coisa eu fale será profundo assim como foi na Boêmios de Preto. Se dentre, ainda que poucos, estes todos, e Kafka também comigo, de quem mais preciso além de mim? Sei que Olinda prega peças, mas, nada que impeça de se jogar. Peças duplicadas no quebra-cabeça despercebidas pela pressa. Ainda o garoto sobrevive quatro paradas após a algoz integração e, sozinho sinto, a sensação que dá o Rio Doce/Circular de andar em círculos. O que urge fazer? Mais cigarro aceso para celebrar a vida! A melhor lembrança é na hora da partida quando o tempo não para e ninguém sabe a hora exata da próxima chegada. Se o "Do it yourself" virou slogan de moda, "Carpe Diem" desculpa pra beber e o "Faz o que tu queres" é lema de inconsequentes é porquê nada existe sem um pouco de contradição; então, porquê não preferir chorar? A vida, para mim, é como filme, mas, as pessoas não sabem ver filmes. Estão acostumadas a ver filmes hollywoodianos onde a história não mostra o cotidiano de ninguém. Se importam mais com o que pode acontecer umas vez só na vida de uma pessoa numa probabilidade absurda de não ocorrer do que ver a crua rotina de um individuo qualquer; daquele mendigo que elas mesmas ignoram ao passar na rua e se dizem amantes de uma historia emocionante. E ainda não entendo como acreditam no amor; em contrapartida, digo: quanto mais barato, mais forte. Assim é o amor e seus destilantes dissonantes, fumos e afins. Na verdade o amor ele não é verdade mas é qualquer outra coisa que seja menos a mentira. Nem verdade, nem mentira. Apenas qualquer outra coisa que seja. Não suporto ver alguém dizer que o amor não dói; que, se dói, não é amor. Esquecendo esse essencialismo platônico de que há um padrão perfeito a ser alcançado, só que impossível de sê-lo - como dizer que, se é amor, não dói - Sim, é inegável reconhecer o seu apreço por alguém e estar consciente ao chamá-lo de amor; e se houve fim, por questões variadas e independentes - racional ou opção dela ou sua - e sentir-se mal ao ponto de chamar de dor, por doer, abstrata ou literalmente, e até refletir em mudanças corporais. Ou seja, sim, amor pode doer; não dizendo que ele sempre doa. Não digam tal asneira, ao menos não perto de mim pois sei os segredos dos cantos do meu quarto que correram pelos meus dedos. No mais, que tolo blues é o coração que só quer sacanear.
Tenho perguntas que, sinceramente, não sei se poderão me responder as respostas. Perguntas que, obviamente, não são minhas reais duvidas se na realidade sempre duvido muito e a realidade não ajuda - por isso o Dom Quixote em minhas costas. "São tantas derrotas que já não sei onde guardar e mentir as vezes cansa." Estou sempre cansado e, desde que me lembro de mim, não muito bem. Por fim, é domingo e como sempre bebo com meu amigo sentimental que me bombeia sangue. Fumo muito, penso muito e não sei se faz um mês e parece muito tempo ou se faz muito tempo e parece um mês. E amanhã é segunda mas a segunda só acaba na sexta e se bebo na segunda que so acaba na sexta é pra ter ressacas de outras manhas como essa.
Olinda, seja-me sincera e me diga o que houve. Foda-se, não me diga se não quiser.
O amadurecimento me fez sentir-me estranho por me devolver certezas que joguei fora quando eu achava que isso era algo muito romântico e adolescente: "Não dizem que poesia tem que ser triste? Que o poeta só é bom se sofrer? Então viva a porra da poesia." Mas acho que isso é necessário. Hoje não renuncio ao mais óbvio fato sobre mim, que sou um fodido e apenas, mas, ironicamente, sinto como um deus quando escrevo - até quando escrevo esta bosta de parágrafo.
No mais, apenas jogo meu cigarro. Saio. Vejo o mundo morrer. Devagar; aos poucos. Mais rápido do que esperávamos. Ri com desespero quem ri. E chora, outro. Somos apenas possibilidades desperdiçadas. Marginalizam-me por pouco. Me chamam vagabundo. Corajoso, por desacreditar, seria o correto.
Você não está perdoada, Primeira. Mas eu te agradeço por me pedir para que nunca apagasse a luz; todas as noites apagam-se todas as luzes ao meu redor e resta apenas a desta merda de computador onde eu escrevo todas as merdas que acho que as pessoas devem ler; peço a eles "Que estas palavras não estejam sozinhas quando não mais estiverem só na minha cabeça." Entretanto, você não está perdoada.
Aos que leram até aqui peço obrigado e que me desculpe sobre fazer deste livro um chato confessionário sobre mim.
Acendo mais um cigarro e quando este acabar eu finalizarei este livro; é uma mazela que tiro do peito; e este cigarro, um alívio.
"Nada existe sem um pouco de contradição."
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E ela disse: "Nunca Apague a Luz".
RomanceRomance ou ficção? Não sei lhe responder, ao certo. Trata de uma nada épica odisseia ambientada nos cantos mais decrépitos de Olinda e Recife de um personagem que passeia por vários de mim contando a saga de alguém que não é nenhum herói, tampouco v...