Quando a estrada grita por nós.

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Todo mundo tem o seu nome chamado pela estrada; mas que estrada é minha? Várias me chamam e nenhuma não tem um algoz, qual é a minha?

É o vigésimo terceiro dia de um mês nove e eu não me perdoaria se não parasse nesse dia num bar qualquer e bebesse tudo que tenho em dinheiro e fumasse tudo que tenho em cigarros no meu bolso e os que compraria. Hoje eu me sinto como quem joga um bumerangue dá as costas e sai andando - esquecendo que ele vai voltar. Como um dado viciado cansado do impar o resultado. Sem um par, sem paz. Um clandestino sem país, um filho amado sem o amor dos pais. Nas ruas de Olinda onde em dias como esses que Fevereiro se faz necessário quando sigo a viela e sinto que não a vi, mas sinto o cheiro do perfume dela que entranhou em mim, nas paredes e nas pedras. E eu escrevia. Como nunca, eu escrevia de próprio punho as palavras que aqueles olhos diziam; que quebravam o silencio que me agredia em toda parte.

O dia que havia sido guardado em nome do amor que tinha com a primeira verdadeira; a melhor peça de teatro que fiz sem nunca ter sabido como se faz teatro. E por nunca ter feito nem nunca ter pensado em ser ator não sabia que ela era. E eu aprendi a ser depois disso. E vou parafraseando Gotye e pergunto quando foi que ficou acertado dela fingir não me conhecer quando me visse? Não me lembro do momento nem rastro dele dentro do pequeno espaço-tempo de conhecê-la, ter e perde-la. Por isso eu não sei o que merda aconteceu nem o quanto de merda ela acha que é. Mais que nunca eu precisava da Boêmios de Preto. Dos poemas de Kerouac, de Bukowski, Ginsberg e dos meus cifrados. Precisava do Carnaval. Em madrugadas de domingo como essa, mas é quinta. São torturas indescritíveis travestidas de sentimentos problemáticos misturados com drama introspectivo excessivo - por causa da falta do excedente. Pergunto onde está a força que eu tinha quando a melancolia me beijava? A melancolia se enciumou da minha quase força suficiente pra sobreviver e me estuprou dessa vez. Mais que nunca me plantou pensamento intranquilos como uma C-4 como há tempos não fazia. Não bastava já ter me feito inquilino do vicio e sinônimo da insônia veio saber se dessa vez eu iria sobreviver. Não sai de mim nem que eu pague, por que se saísse eu pagaria. Pôs cigarros em meus lábios e copos em minhas mãos. Me deu solidão e eu dei poemas. É uma troca justa, vai embora!

Mas nada adianta; é tudo em vão. Cá estou eu de novo em conflitos em feito dominó. A cena vai ficando cada mais triste e a boca vai dissolvendo sabores e seja o que for, dói ao degustar. Nunca soube o que fazer com aquele buquê de flores - lê-se "dores". Nem com as marcas do amor dela no meu corpo e que eu nunca quis apagar. Nunca soube o que dizer ao espelho toda vez que ele me pergunta sobre ela. E quando minhas mãos precisavam das delas, nunca soube o que fazer; eu sempre caia fácil se ela não pudesse me segurar.

Eu costumava fumar pra lembrar do gosto da boca dela. Não por que era parecido, na verdade era bem diferente, mas um cigarro barato tem um gosto peculiar e peculiar também era o gosto dela; nenhuma nunca teve esse gosto. Sei disso por que ela dizia que eu havia nascido pra roubar os beijos dela e ser seu livro favorito. E agora vejo ela num cigarro entre meus dedos a se apagar. E guardo os poemas.

Eu tinha o dobro do tamanho dela, logo ela era minha metade. Agora eu fico no silencio esperando o telefone tocar, e quando toca: "desculpe senhor, foi engano".

Saio de Olinda e vou pra "Recifedendo a mijo" e nenhum lugar eu encontro cigarro, só Belmont. Serve! Na rua da moeda onde eu virava verbo fico com dois carreteiros falsificados. Fingo que já estou bêbado pra poder ser um pouco mais sincero e vejo uma menina que nunca vi na vida:

- Hey Rebeca, acabou meu fósforo. Quero teu fogo e teu isqueiro.

Só levo uma tapa em frente ao Sushi Digital onde tocam versões de músicas pop de muito mau gosto. Mas há quem goste. Se arrependimento, pelo que não foi culpa minha, matasse agora eu estaria bêbado. Felizmente, eu acho, estou! E, de graça, dou à certas pessoas um pouco de vergonha alheia quando digo que "aqui jaz o corpo do poeta morto antes de viver; como manda o oficio". Deito no chão mas sei que só vou descansar, ou algo perto disso, em casa.

Se fosse Fevereiro como eu queria que fosse, talvez fosse melhor. Até por que não seria o vigésimo terceiro dia do mês nove. E eu brincaria nas curvas do corpo de uma mulher onde tantos outros brincam também nessa época. Seria o homem da meia noite e passaria a noite inteira no fervor fazendo travessuras no Halloween sem pudor de Fevereiro em Olinda sagrado de todo ano.

Com uma cerveja na mão; do Carmo ao Alto da Sé com a outra mão nas qualidades criativas que se faz uma mulher. Depois dos três dias o prazer de não ter que ligar no outro dia e se desencantar por ela sabendo que nunca mais a verei e dela só restará os sorrisos e os gemidos do Carnaval - dias de prender aquele pássaro azul que falei que Bukowski falou primeiro e pôr o vinho ou a cerveja pra gelar. Ir pra piscina pisar nas uvas não tão virgens assim em plena vindima Olindense. Momo que risse de todos e fosse posto pra fora mais uma vez do monte Olimpo que é aqui; e eu e todos os felás boêmios de preto que também somos um tanto quanto de Zanni saberíamos o que fazer sem se importar com voyeur e as menades gritando aos nossos ouvidos para "não nos importamos com amor". Regojizando da ojeriza da vergonha e do pudor. Todos sendo Arlequim por Columbinas e Venus e Babalons. Mas eu estou no vigésimo terceiro dia no mês nove, e sou o pierrô.

Volto pra casa com palavras ecoando em minha cabeça que quebram o silêncio e me lembram do ultimato da primeira verdadeira e o futuro que acho que me resta. Volto por ruas já conhecidas mas mais longas que o normal, subo as escadas que só nesse miserável dia parecem em helicoidal; um perigo pra quem tem pressa. Não é meu caso depois da cena que vi pela fresta da fenda temporal sigo devagar e calado passo por festas e acho que estão comemorando minha desgraça. Tanto faz se sim ou se não.

Todo mundo tem o seu nome gritado pela estrada. Qual a minha? Minha bussola só me diz que estou no caminho certo; que devo seguir sem saber ao menos se está perto do fim. Ela diz que nem que seja somente em meu epitáfio eu direi "nada como chegar lá". Eu a disse que espero que não me falte poesia nem bebida nas mãos; que sendo assim não me custa tentar.



E ela disse: "Nunca Apague a Luz".Onde histórias criam vida. Descubra agora