****************

98 24 27
                                    

- Preciso te mostrar uma coisa. – Isabella insistia, enquanto os primeiros pingos de chuva surgiam, saudando o começo de noite. Retirou uma foto antiga de seu bolso, mostrando-a.

Alicia parecia não querer dar atenção á menina, pois a chuva já estava ficando forte.

- Isa você quer entrar? Se ficarmos aqui fora, iremos ficar doentes.

Porém a garotinha pareceu não dar atenção, insistia em mostrar a foto.

- Preciso ir para casa... Ela pediu para eu te mostrar isso. Depois eu pego de volta. – Dizendo isso, correu para casa sorrindo.

Angel apenas colocou no bolso e subiu para casa. Ás vezes realmente sentia medo de certas atitudes da garotinha.

Melissa já estava em casa, deitada no sofá, com uma panela na mão, devorava brigadeiro. Ela deu um beijo na mãe, e sentou-se ao seu lado. Trovões começaram a ser ouvidos. A chuva estava forte. Através dos vidros das janelas, via-se perfeitamente os raios, as encantando.

- Zeus está furioso. – Mel comentou sorrindo, enquanto disputavam a panela de brigadeiro.

A foto caiu de seu bolso, Mel juntou, era antiga, uma criança em um balanço, parecia divertir-se perto de um lago.

- Que foto é essa anjo? - Estava com semblante sério.

- Isa, a esquisitinha me entregou isso agora a pouco.

Continuava a olhar detalhadamente, pensativa.

- Onde está o livro?

Alicia foi busca-lo imediatamente, entregando, ela o folheou, até encontrar a página que procurava e leu em voz alta.

"- Estou feliz, pois perdi o meu medo, estou feliz, pois agora não tenho mais que me preocupar... – Era uma voz cantando ao longe, parecia uma criança, seguir a canção, e lá estava ela, em um balanço, perto de um lago cristalino, parecia muito feliz mesmo. Cabelos negros, com longos cachos, bem soltos, pareciam até molinhas, pele muito branquinha, lábios carnudos, vestia um lindo vestido azul, olhos meio arredondados e azuis."

Angel inesperadamente retirou a foto das mãos de sua mãe, lembrou-se de seus sonhos, ambas eram idênticas, era a mesma pessoa sem dúvida. As luzes apagaram, raios e trovões mostravam sua fúria. Pegou uma lanterna para visualizar a imagem. O medo começava a surgir entre elas.

- Mamãe porque leu isso?

- Essa garotinha da foto... – Ela estava paralisada, um forte raio surgiu, fazendo com que a menina gritasse de susto. – Não grita Angel... Pensei que havia imaginado todo aquele mundo, porém não percebi, que havia algo que não saiu do meu imaginário, já estava lá.

As luzes acenderam-se, Alicia pegou seu celular e ligou para Luísa. A conversa foi rápida, o suficiente para saber que a garotinha era a tal tia morta na infância.

Íris a menina que surgiu em um mundo imaginário, infiltrou-se em o "O livro de Angel", e era real. A mesma que acordava Angel em diversas noites em seus pesadelos, Neve sangrando, sapatinhos mergulhados em tinta vermelha, na grama do jardim.

Alguém chamava na porta, Luísa entrou depressa puxando a irmã que tremia de frio, o guarda-chuva de nada adiantou.

- Explique o motivo de ter entregado essa foto a Angel, maninha.

- Ela disse para eu entregar.

- Quem Isa? Essa sua imaginação já está passando dos limites. – Luísa gritava com a menina... Por que entregou a foto de tia Íris?

Não havia mais explicações a serem dadas.

- Ela me pediu. Está triste, conversa comigo todos os dias. – Virou-se para Melissa e cochichou em seu ouvido. – Ela está aqui agora. Surgiu no seu mundo, para te pedir ajuda, porém você não conseguiu entendê-la. Mas não se preocupa, ela te entende, você também sofria, mesmo assim conseguiu vê-la, te ensinou e também foi ensinada por ti. – A menina olhou para seu lado e sorriu. – Ela está te agradecendo. – Cochichou novamente.

As adolescentes se olhavam sem compreenderem... Alicia foi até seu quarto, lembrou-se do desenho, pegou-o, retornando a sala.

Os rabiscos agora faziam sentindo, as rosas eram o jardim, rabiscos pretos era a velha casa, o ponto perdido entre eles, era onde o corpo estava. O tempo todo esteve perto. Porém quem acreditaria?

Todos imediatamente se retiraram à mansão, a chuva não impediu.

O casal silenciosamente estava à mesa, em suas refeições. Assustaram- se com a invasão.

Melissa desculpou-se sem jeito, apresentando-se. Aos poucos tentaram maneiras adequadas de chegarem ao assunto principal. Não era fácil tocar em feridas ainda não cicatrizadas. Elas nem ao menos conheciam aquelas pessoas, tampouco sabiam suas histórias, e de repente passaram a ter conhecimento de feridas íntimas, guardadas á anos. E será que acreditariam em suas historias? Não se importaria, se a resposta fosse não... Nem ela mesma estava acreditando.

Aos poucos toda a história foi contada, não a do "Livro de Angel", mas o desenho de Isa e os sonhos de Angel.

O pobre homem pálido tremia, não sabia como reagir, só restava uma maneira de saber se toda a história era verídica. Ir até a velha casa.

Discretamente para não chamar atenção dos empregados, foram até o final do jardim. A chuva ainda não havia cessado. Mãos trêmulas segurando uma pá, ele suava frio. Seu coração eufórico, prestes a sair de si. O que poderia encontrar ali seriam respostas do passado obscuro, mas acima de tudo o início. A libertação de uma alma, o descanso de seu ser.


                                                       >>>> Continua<<<<


Ao nascer da lua cheia (O Livro de Angel 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora