Era domingo, Alicia acordou com grande disposição, havia até esquecido do sonho, saiu com a mãe, fez farras com os colegas, mostrou tal felicidade que chegava a ser invejável.
Estava aprendendo a interpretar, a jogar com os outros o jogo da vida.
Apenas em casa, sozinha em seu quarto, que mostrava sua verdadeira face. Ascendeu um incenso, o agradável aroma trazia tranquilidade em todo o cômodo, mas não em seu ser. Se pessoas quisessem ver seu sorriso, mesmo triste ela mostrava, se o contrário, e a quisessem ver na melancolia e frustração, não teriam o prazer, pois mesmo que totalmente desanimada e sem força, tentava não demonstrar sua derrota, vitória sempre, mesmo que não existisse. As lágrimas salgadas insistiam em cair, ao tirar máscaras a dor aumentava, ela se perguntava, como seria esse sentimento para todos os humanos que vivem no teatro. Ser julgada por atos, a qual os julgadores a opinião não foi pedida, e que também não sabem os verdadeiros motivos para tais.
Não temos o dever de agradar aos outros, nem Jesus agradou a todos, mesmo inocente foi condenado, o povo preferiu a Barrabás. Pensando ainda em Jesus, ela percebeu que também ouve perdão, Ele disse "Pai perdoe-os, eles não sabem o que dizem", mesmo estando pagando por erros alheios. Dias antes, quando lhes trouxeram Maria Madalena, para julgamento por adultério, surpreendeu quando não a condenou. Mesmo morrendo pela humanidade, até hoje, poucos O dão valor. Infelizmente nem ela mesma. Estava totalmente cega espiritualmente, não sabia agradecer diante das bênçãos e livramentos de cada dia, se comportava como os israelitas guiados por Moisés na fuga do Egito, que se alegravam, ao verem água brotar de uma rocha, um mar se abrir diante deles, maná descer dos céus e os alimentar. Porém na primeira circunstância desanimavam, não acreditavam e murmuravam contra Deus, até fazendo um falso deus para adoração.
Até a bruxinha de longos cabelos verdes, que em uma mão segurava uma vassoura e na outra um jarro com incenso, parecia também está triste.
Então fechou os olhos, queria acabar com sua forte dor interior, a gilete passeava em seus pulsos, ela não sentia a dor dos cortes.
O sangue misturado á lágrimas dava certo sabor diferente, porém gostoso, em cada corte, ela provava o próprio sabor de seu sangue.
- Por que hippies gostam tanto de se drogarem com incenso? – Luísa entrou de repente no quarto.
- Não sou hippie, e isso não é droga.
- Calma... Só estava fazendo uma piada... Mas por favor, retire esse incenso, não gosto do cheiro deles.
- Não vou retirar... – Ela respondeu friamente.
Luísa não discutiu sobre o assunto.
- O que aconteceu? Você parecia está tão bem... – Perguntou ao perceber os cortes.
- Um dia conheci um rapaz, ele vivia triste por motivos que só interessavam a ele. Tinha um circo na cidade, não gostava, mas por algum motivo queria o convidar para tentar dar risadas, porém não conseguir o localizar. Mesmo assim fui...
Estava sendo um espetáculo comum, as pessoas comentavam sobre a apresentação de certo palhaço, que segundo eles era o melhor da noite. Elas esperavam ansiosamente.
E valeu a pena, ele era bom mesmo, conseguiu altas gargalhadas de toda a plateia, e até de mim, só de olhar para ele, já sorríamos automaticamente.
Ao terminar o espetáculo, adultos e crianças ficaram ao redor do palhaço, pareciam que queriam que aquele sentimento de felicidade, não acabasse. Mas o momento havia acabado e teriam que voltar para suas próprias histórias, a magia havia acabado.
Aos poucos foram embora e me aproximei do artista, que retirava aos poucos toda a tinta de seu rosto. Para minha surpresa, era ele, o jovem que havia encontrado outro dia na rua.
Ele me reconheceu, disse- o que o procurei para leva-lo ao circo, ele sorriu, e me disse que o circo era seu lar.
Palhaços gostam que as pessoas riam de sua palhaçadas e não deles. E a partir do momento em que toda a tinta havia sido retirada, ele virava humano comum, a qual as pessoas que antes davam risadas, agora sentiriam pena.
Naquela noite aprendi a apreciar o circo, pois, lá existem, pessoas que guardam suas lágrimas e seus problemas, para fazerem os desconhecidos felizes.
O rapaz me disse que ficaria bem, que entrar no picadeiro e pintar seu rosto, lhe trazia felicidade mesmo que momentânea. A vida é isso feita de momentos.
- Entendi o que você quis dizer...
As duas ficaram em silêncio por alguns segundos.
>>>> Continua<<<<
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Ao nascer da lua cheia (O Livro de Angel 2)
FantasiAngel está de volta, com novas aventuras, dessa vez ao lado de novos amigos visíveis e invisíveis... Encarando o natural e o sobrenatural... "Ao nascer da lua cheia" vem para mostrar que nem tudo que parece é, que é possível realizar sonhos, se real...