Alguns anos atrás após a morte de Íris...

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 Fim de tarde tristes era assim que o pequeno Pedro sentia ao final de todos os dias. 

Lembrava que costumava brincar com a irmã no jardim, seu lugar preferido. A presença da garota era ainda muito forte. Enfrente a mansão uns garotos brincavam na praça, ele resolveu aproximar-se.

Um filhote de pássaro estava ao chão. Caiu do ninho machucando sua asa. Os meninos aproveitaram-se da fragilidade do pequeno ser, jogavam-no, um para o outro, talvez ao invés de ser vivo, pensassem que fosse uma peteca.

- Ei deixem o passarinho em paz. Desse jeito irão matá-lo. – Pedro interrompeu a brincadeira.

As crianças não gostaram de serem confrontados, o cercaram, ameaçando-o. Segurava a avezinha, enquanto preparava-se para o pior. Vários contra um. Sabia agora exatamente como o pobre animal se sentia. Um deles o empurrou, xingavam-no de "molequinha e bonequinha da mamãe".

Gil filha de um casal de empregados de sua casa, o avistou de longe, tinham a mesma idade, vinha acompanhada de colegas. Aproximaram-se do grupo de meninos, que correram com medo.

- Obrigada. – Ele agradeceu a todos, envergonhado. Despedindo-se e indo para casa com a garota. Caminhavam lentamente. – Você me acha menininha? Eles disseram que eu era "bonequinha da mamãe".

A menina apenas balançou a cabeça negativamente.

- Você é um herói, igualmente aqueles que você desenha. – Ela sorriu. – O filhote está machucado?

O levaram para cuidar. Pedro o envolvia em suas mãos com total cuidado e carinho.

- Você também sente falta dela? – O garoto perguntou com o olhar triste.

- Sim... Muito. – A menina o abraçou. Ambos começaram a chorar. – Mamãe irá comprar mais mudas de rosas amanhã, e hoje já reguei o jardim duas vezes.

Desde a morte de Íris que seus pais abandonaram o jardim, o lugar a lembrava muito e isso lhes traziam dor. O menino com ajuda dos empregados e de Gil, tentavam mantê-lo vivo. Para ele, a irmã descia em companhia de outros anjos para brincarem lá. Não era justo acabar, ali ela continuava viva.

A mãe de Pedro apareceu, ainda não havia tirado a imagem da filha do pensamento um só segundo.

- Mamãe olha que eu encontrei na praça... Uns moleques queriam o matar. Está ferido.

Ela abraçou Gil, acariciando seus cabelos, sempre gostara da menina. – Sua mãe estava lhe procurando meu amor. – A garotinha correu a procura da mãe. Ela pegou o filhote com compaixão, e abraçou o filho, as lágrimas rolaram em seu rosto. – Iremos cuidar dele, e quando estiver curado, soltaremos para voar com os outros no céu infinito.

- Vamos mostrar ao papai?

- Vá lá... Ele está no escritório. Irei à cozinha comer algo.

Pela primeira vez desde a morte da irmã, Pedro conseguiu dar um sorriso, correu em direção ao local onde o pai se encontrava. Ele falava alterado ao telefone, o menino, ficou quieto, escutando na porta entreaberta.

- Mentira... Você não pôde ter feito uma crueldade dessas... Irá me pagar da mesma forma. Nunca devia ter me envolvido com esse monstro que é você Ana. – Ele gritava com ira ao telefone.

Depressa retirou um revólver de uma gaveta em sua mesa, colocou em seu bolso. Procurou as chaves do carro, assustado o garotinho observava.

- Minha filhinha, ela a ma... – Não conseguiu completar a frase, o homem sentiu uma forte dor e caiu ao chão.

Pedro correu em direção ao pai, gritava desesperado chamando a mãe. Todos correram, porém já não havia mais tempo, o homem estava morto, nos braços do filho.

O menino totalmente em choque mudou completamente seu jeito de ser. Ao enterrar o pai, não consegui derramar uma lágrima se quer. A dor era maior. Passou tempos para voltar a falar novamente. De doce passou a ser agressivo.

Passou dias e veio outra notícia, Ana havia se suicidado.

A pobre mulher não aguentou tantas tragédias em sua vida, talvez se fosse embora, os fantasmas não a seguiria, e viveria uma vida nova junto com o filho longe dali. E ambos fugiram para longe, sem olhar para trás. A mansão ficou aos cuidados dos empregados de confiança, pais de Gil.

                                                 

                                                          *** *** ***


Pedro havia lembrado os últimos momentos com seu pai após a morte de Íris, agora tudo fazia sentido. Isabella o pegou pelas mãos e como guiada pela própria Íris levou o pai a um determinado local.

Com forte dor interior e ira ele começou a cavar, chorava desesperadamente, clamando o nome da irmã aos gritos, a chuva aumentava e fortes trovões eram ouvidos.

- Esse casebre vai desabar. - Sua esposa alertou aflita.

- Eu não saio daqui sem minha irmãzinha. – Chorava igual criança.

Alguns ossinhos foram vistos, pedaços de tecido azul. Finalmente Íris poderia descansar em paz. Depois de anos, era ali que seus restos mortais estavam.

O homem retirou-os. Deitou-se, com o rosto ao chão, soluçava. A esposa aproximou-se dele, o abraçando. Isa e Luísa pálidas e trêmulas choravam nos braços de Melissa. Alicia apenas observava, estava fora de si.

Depressa ele saiu do casebre.

- Volto rapidamente... Saiam todos daqui antes que desabe.

Porém ninguém teve atitude de sair, pareciam que todos estavam paralisados. Minutos após retornou, trazia consigo um pequeno caixão rosa.

- Sempre mantive um guardado, sabia que um dia encontraria minha anjinha. – Disse colocando os restos mortais da irmã.

- Papai... – Isabella o interrompeu. – Ela quer morar eternamente no jardim, perto das rosas brancas.

Rapidamente todos saíram do casebre, o frio não os atingiam, mesmo estando tremendo por estarem encharcados pela chuva. Ele cavou. E após anos a enterrou, desejando que finalmente descansasse em paz. Ouviu-se um estrondo, não eram efeitos da natureza, o casebre havia desabado. Íris agora repousaria, em seu lugar preferido entre rosas brancas.

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Ao nascer da lua cheia (O Livro de Angel 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora