Capítulo 23 - Que mal faria?

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— Eu sempre fico indignado com esse final. — Comenta Andy, assim que o filme acaba.

— Sim! — Exclamo, bocejando, mas logo desperto. — Oh, merda. Eu tenho que sair.

— Sair? Mas... você tem algum compromisso que eu não sei?

— Tenho que despistar meus pais.

— Pais?

— Meus pais estão passando a semana aqui, mas não sabem que fui demitida.

— Oh, sim. Um "compromisso" — Diz Andy, fazendo as aspas. — Então, vamos andar por aí.

Meus ombros pesam, e fico em pé, com os braços caídos ao lado do corpo. O desânimo bate novamente. Não tenho o que fazer, estou saindo de casa apenas para despistar meus pais. Onde foi parar aquela vida animada que eu imaginava, assim que fui morar sozinha? Estou morando praticamente sozinha, agora, mas minha vida antiga, com um namorado e trabalho para fazer, vem à tona sempre. Quero-a de volta!

Acho que desejei tanto ter o passado de volta, que ele apareceu bem na porta do meu apartamento.

— Max?! — Me espanto ao abrir a porta de dar de cara com ele ali, paralisado. Não parecia que ele ia bater, nem parecia que tinha acabado de chegar. Ele só estava ali, por acaso.

— Ellen. — Ele diz quase num sussurro. — Andy! — Se espanta.

Meu espanto ao ver Max não foi por tê-lo visto – eu já imaginava que ele voltaria, aliás, o apartamento é dele, mas... o momento. Foi um pouco cedo, não?

— Hã... Eu já estava de saída, mas se você quiser, eu posso ficar.

— Não. — A voz de Max falha, então ele limpa a garganta. — Está tudo bem. Eu só estava aqui, do lado de fora.

Assinto, mas não entendo. Ele só estava ali?

— Posso saber o porquê? — Pergunto, sorrindo, para que não pareça uma grosseria. Andy está atrás de mim, mexendo-se incomodado.

— Só estava com saudades do apartamento. — Ele dá de ombros.

— Não gosta de onde mora agora? — Pergunto, casualmente.

Max enfia as mãos nos bolsos e suspira.

— É bom. — Ele joga os ombros para cima, despreocupado.

— Bem! — Exclamo, dando um passo à frente. — Preciso ir. — Olho para trás, e Andy está sorrindo para ele. Quando Andy está quase fechando a porta, Max espia algo lá dentro.

— Ah, seus pais estão aí?

Fico um pouco confusa com a pergunta, mas respondo:

— Sim. Estão.

— Algum livro para minha mãe? — Ele quer saber. Está sorrindo. Por um milésimo de segundo, sinto falta do seu sorriso iluminado pela manhã, me dando bom dia quando eu tinha certeza que seria um péssimo dia. Agora, sempre que acordo com essa certeza, estou vazia de sorrisos para me alegrar.

— Não, infelizmente. O novo não saiu ainda. Só no começo do ano.

— Ah, sim.

Andy tosse, atrás de mim, e eu apresso o passo novamente.

— Bem, a gente já está indo, mesmo.

— Posso... acompanhar? — Max pergunta, com as sobrancelhas franzidas, lhe dando uma expressão penosa.

Penso eu aceitar. Claro que ele pode nos acompanhar. Que mal faria?

O negócio é que faria muito, muito mal. Me faria mal. Seria péssimo voltar para casa depois de uma tarde com meu ex-namorado. Estou levando bem, toda a história do término. Mas não ter encontrado com Max depois do ponto final era um ponto muito importante para determinar meu estado emocional em relação a ele, à nós. Estar com ele mais uma vez, mesmo parada num corredor, já me trouxe memórias de sentimentos que eu não quero mais, e mesmo se quisesse, não teria mais. Trazer o passado de volta seria trazer toda a dor de volta, e quando ele fosse embora para sua nova vida, me deixaria aqui, na vida antiga, juntando os cacos do nosso relacionamento e tentando esconder, por trás de todas as paredes, três anos de lembranças.

As Listas de Ellen [versão wattpad]Onde histórias criam vida. Descubra agora