Capítulo Dois

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Alice

Nunca ouvi a voz do meu pai tão alterada em toda a minha vida, confesso que não entendo essa atitude dele. Sempre as pessoas se aproximam de mim, isso nunca foi um problema para meu pai. Isso é muito estranho. Sinto que Pedro está se controlando, e mais longe escuto que minha mãe está ofegante. O que está acontecendo aqui? Pedro tenta soltar minha mão, mas por algum motivo não quero que solte e seguro firme sua mão. Ela é tão gelada.

— E se eu não sair?— Sinto meu corpo se arrepiar, com o desafio contido nas palavras de Pedro. Não posso deixar que isso continue.

— EU TE MATO!—Meu corpo estremesse com o poder que vem de suas palavras. E Pedro consegue fujir de mim, e da risada do que meu pai falou.

— Isso é uma coisa que eu gostaria muito de ver!—Por que mamãe não fala nada para conter isso, parece em choque, que merda não poder enxergar nessas horas.

— Parem.— Grito.— Papai esse é meu amigo Pedro. Pedro esse é meu pai.

— O que você disse Alice? Seu nome é. É Pedro?— Noto a mudança no tom de voz do meu pai, agora parece embargada, cheia de emoção. Estou ficando preocupada com minha mãe, sei que está aqui, mas está sem reação nenhuma.

— Sim, me chamo pedro.— Sinto algo encostar em mim, macio, procuro com minha mão, são penas? Passo a mão curiosa, isso me lembra uma asa, mas que asa grande é essa? Engulo seco, o meu nervosismo.

— É você! Obrigada meu Deus! Obrigada!— Minha mãe resolveu demonstrar alguma reação, mas sua voz é chorosa. Mas que raios está acontecendo?

— Dá para alguém me explicar o que está acontecendo? Pai por que essa raiva toda e mãe por que está chorando? E que asa é essa aqui Pedro?

— Muito lindo o reencontro da família, é uma pena, mas vou ter que interromper.— Que voz é essa? Não reconheço.

— Haniel— meu pai falou, em um tom muito estranho, desprezo? Eu ouvi direito, reencontro da família, o que isso quer dizer??

— Oi Azrael! Também estou com saudades. Fernanda, linda como sempre. E Alice, eu não a reconheceria se a visse por ai, cresceu um bocado.— Ele me conhece?

— O que você quer?— mamãe pergunta. Alguma coisa muito estranha está acontecendo, não consigo entender essas atitudes.

— O que está acontecendo aqui?— perguntei irritada com a falta de informação. Será que ninguém consegue entender que nem todo mundo consegue enxergar, custa me manter informada, merda!

— Eu também quero saber.— Agora era Pedro, parecendo bem irritado também.

— Eu quero falar com vocês.— Ai que legal, nossas perguntas ignoradas.

— Então fala logo.— papai falou.

—Não na frente deles, não concorda?— Seguiu-se um momento de silêncio. A tensão era quase palpável.

— Tudo bem. Vamos até meu escritório.— meu pai fala para Haniel.—Vocês dois fiquem aqui! Ah, antes que eu me esqueça, Pedro não encoste nela. Não queremos acidentes por aqui, Ok?— Meu pai estava mais calmo com Pedro, me deixando desconcertada.

— Nada disso. Eu quero saber o que está acontecendo, se não querem me falar, vou embora.

—Não!— minha mãe gritou, percebi uma movimentação de corpos, será que ela abraçou Pedro??? Ai é muita falta de informação para uma só pessoa.

— Você vai ficar aqui sim Pedro! Sobre pena de desobediência, sabe muito bem o que acontece com quem desobedece, não sabe?— Pedro não falou mais nenhuma palavra.

— Fiquem aqui meus filhos, já voltamos. Pedro não vá fazer nada que possa se arrepender.— Escuto barulho de beijo, e depois mamãe vem até mim e me dá um beijo no rosto, sinto a umidade de sua pele, ela está chorando.

— Mãe?—Sinto a avalanche de sentimentos que vem dela, o que está errado com minha mãe?

— Não é nada querida, eu já volto.

Papai me dá um beijo rápido na testa e percebo que se afastam. Escuto a respiração contida de Pedro, ele está confuso, tão confuso quanto eu, posso sentir.

— Pedro?— Ele começa a andar de um lado para o outro, posso escutar suas passadas de perna, assim como a mudança de lugar do som. Ele não responde. Mas que droga.— Fala comigo!

— O que você quer que eu fale?— Suas palavras foram ríspidas, como se eu tivesse feito alguma coisa para ele.

— Eu não sei, estou confusa.

Decido ficar calada, pois percebo o restante da paciência que eu ainda tinha, foi para o ralo, de repente minha vontade é de fugir, fugir dessa sensação de abandono, de ser ignorada, dessa raiva, de todos. Mas o que basta para mim por hora é caminhar, caminhar sem destino.

Sinto aquele impulso, e sem pensar duas vezes me levanto e saio caminhando. Tudo bem, eu sou cega, mas já conheço bem esse lugar e com a ajuda da minha muleta, sim eu tenho uma muleta, me diga um cego que não tem? E com a ajuda dela eu consigo me locomover, tenho um pouco de dificuldade, principalmente quando encontro algum buraco ou pedra e quando preciso atravessar a rua, sou obrigada a pedir ajuda. As vezes me sinto mal, mas não tem outro jeito. Sabe aquela urgência de sair logo dali, como se disso dependesse o ar que respiro? É bem isso que estou sentindo.

— Alice onde vai?— Ouço a voz de Pedro. Agora ele quer conversar? Vai todo mundo a merda. Todo mundo gosta de me ignorar, não gosta? Então tome um pouco de ignorância também. Meio aos trancos e barrancos continuei caminhando, e sua voz me gritando cada vez mais distante. Ainda bem que ele não me seguiu.

Eu gostaria de ver para onde estou indo, mas isso não me impede de tentar ser uma pessoa normal como outra qualquer. Sinto que cheguei na beirada da rua, preciso atravessar, tenho que sair dessa praça. Como aqui é sempre silencioso, como não ouvir barulho nenhum de carro, me aventurei em atravessar a rua sem ajuda.

Já faz mais de meia hora que estou andando e sinceramente não sei onde estou. Num momento de revolta, sai andando como louca. Tudo bem eu confesso, sempre tive vontade de fazer isso, ainda mais quando minha irmã me irrita. Durante toda minha vida, ouvi acusações da minha irmã, de que sou a culpada por tudo de ruim que acontece a ela. Que sou uma aberração, que nunca deveria ter nascido. Me culpa de roubar o amor e a atenção dos nossos pais só para mim. Mas a realidade eu sinto que tem alguma coisa muito estranha comigo, e não estou falando do fato de ser cega não, estou falando de alguma coisa muito maior.

Agora que a raiva passou, sei que não fiz a coisa certa, agi pelo impulso e tenho que achar uma maneira de retornar. Mas é tudo tão silencioso nesse lugar, não ouço barulho de nada. Sinto um arrepio percorrer pelo meu corpo, tento apressar o passou, e com isso não percebo um buraco me derruba, me fazendo soltar um grito.

— Ahhh! ai— Tento me sentar e localizar minha muleta que escapou da minha mão com o tombo.

— Você está bem?— Uma voz masculina, como não escutei ninguém se aproximar? Um novo arrepio percorre por meu corpo quando duas mãos fortes me ampara e me ajuda a levantar, devolvendo em minhas mãos minha muleta. Viro o meu rosto, para o lado a qual ouvi sua voz, para agradecer.

— Ora, ora, ora se não é a diabinha.

Espero que tenham gostado de mais esse capitulo. Tudo bem, eu sei, o capítulo ficou pequeno. Mas de um desconto, eu ia postar só semana que vem, e como tive um tempinho resolvi fazer antes. Vou fazendo assim, conforme tenho tempo eu vou postando, pode acontecer de postar mais de um capitulo por semana, mas minha meta é pelo menos um por semana, salvo se acontecer alguma coisa que me impeça de postar, mas não se preocupem eu venho me justificar. Não esqueçam de deixar seu voto e seu comentário, eu amo de paixão ler cada um deles, fico empolgada para continuar escrevendo. Beijinhos e até. <3

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