Capítulo doze

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Daniel

Estou muito irritado, tenho certeza que Haniel não quis me revelar o que está acontecendo com Alice por que sou um demônio. E a única coisa que me resta é ficar aqui velando pelo corpo dela. Azrael não pareceu muito satisfeito quando viu que eu não iria a lugar algum, enquanto Fernanda não pareceu se importar com minha presença, ela parecia mais preocupada com a filha do que com as coisas que acontecem a sua volta.

Veja só como é as coisas, tanto tempo caçando esses dois e agora eles aqui, e o estranho é que não tenho vontade algum de lhes fazer mal. Não que isso faça de nos grandes amigos, não é isso. Mas para mim é indiferente, perdeu a razão.

Voltei para o quarto de Alice, pensei que alguém tentaria me impedir, mas não, o que foi ótimo, estou de um jeito que não pensaria duas vezes em entrar em uma luta corporal. Antes de sair do corredor, notei o anjo feminino falando com Haniel, nem sei por que isso chamou minha atenção, mesmo por que seja qual for o assunto não é da minha conta. Sentei-me ao lado de Alice, ela parecia dormir. Não pude deixar de notar sua beleza, linda e serena. Mais uma vez desejei saber o que significava tudo isso, e certo que Alice se desprendeu de seu corpo físico, se tornando um ser espiritual como os anjos, mas por quanto tempo seu corpo humano aguentaria?

Alguma coisa me diz que o que está acontecendo não é boa coisa, mas não sou bobo a ponto de interferir nas obras do criador, não é de hoje que sei que onde está a mão dele o caído que for besta de interferir paga um preço muito alto, e o pelo fato de Haniel está por aqui já quer dizer muita coisa a respeito, seja o que for, o altíssimo tem total interesse, então o jeito é sentar e observar. Sou um caído, mas não sou um tolo.

Sinto a presença do anjo muito antes dela se pronunciar. Ela é linda como qualquer anjo, mas em mim não desperta interesse algum, sempre foi assim, sempre desejei o proibido, e mais uma vez estou eu aqui, desejando o proibido.

—Daniel!? Posso ter um minuto da sua atenção?— Confesso que fiquei intrigado, o que faria com que um anjo viesse ate mim conversar? Sendo que somos como uma lepra, todos os anjo nos desprezam e nos olham a distância com desdem, eu particularmente acho graça, por que se acham tão superiores, mas esquecem que todos estão sucessível a queda basta apenas um erro e a porta dos céus se fecha pra você. Fiquei desconfortável com sua presença e levantei-me.

— Quem é você? Que parece me conhecer.— Olhei intensamente em seus olhos, só para ver suas reações e como era de se esperar a vi se estremecer, ela era fraca e sabia disso, sabia também do risco que corria ao conversar com um demônio, e ainda assim tinha coragem para tal. Muito interessante.

— Eu sou Luna.— Ela deu uma leve gaguejada demonstrando seu nervosismo.

— No que posso ajudar Luna?— Dei um passo em sua direção e ela se contorceu, percebi que sua vontade era sair correndo e até pensei que fosse, mas ela se controlou e permaneceu firme e sustentou meu olhar com uma segurança que era certo que ela não tinha, eu estava começando a gostar desse joguinho de gato e rato.

— Eu preciso de sua ajuda.— Eu parei por um instante. O que? Um anjo precisando de mim? Antes mesmo que eu pudessem me conter dei uma gargalhada, aquilo era coisa mais engraçada que me aconteceu em seculos, nunca em minha vida de caído imaginei ver um anjo me pedindo ajuda. Percebi seu desconforto, e me controlei.

— E o que te faz pensar que eu te ajudaria em qualquer coisa que fosse?

— Nada!— Ela desviou o olhar, parecia derrotada. E esse misterio todo em torno dela estava começando me irritar.

— Então por que veio até mim?— Respondi rispidamente.

— Por que é minha única esperança. Preciso de ajuda para resgatar o irmão dela.— Ela apontou para Alice.

— O que quer dizer com isso?

— Pedro fez uma besteira e foi capturado e levado para dentro do covil.— Conforme ela estava falando, fui analisando a situação.

— Não existe mais o que fazer, a essas horas ele já deve ser um ceifador.

— Pode ser que sim, pode ser que não, mas o fato é que quando carregaram ele pra dentro, ele ainda estava com suas asas.

Aquilo era no mínimo curioso, pois a primeira coisa que é feito com um anjo da morte é retirar suas asas. A menos que tenham descoberto de quem se trata aquele anjo.

— Sorte a dele, mas eu não tenho nada a ver com isso, vá atrás de outro que possa te ajudar.— Estou muito tentado em descobrir essa história, mas não vou dar o braço a torcer tão fácil assim.

— Por favor Daniel, não existe mais ninguém.— Entendi de onde vem a coragem dela para falar comigo, vem do amor que ela sente por ele. Isso devia me comover. Mas os anos na escuridão me endureceram a ponto de não ceder tão fácil. Se bem que meus interesse particulares nesse caso podem falar mais alto.

— O que você está disposta a fazer para obter minha ajuda?— Uma coisa era certa, por mais que eu desejasse ficar ao lado da Alice o tempo todo, era impossível pois preciso me alimentar e o hospital é o pior lugar que existe para achar alimento, é aqui onde as reconciliações com o altíssimo acontecem. Pode ser a pior pessoa do mundo quando cai aqui se arrepende de seus erros. O covil é sem sombra de duvida o melhor lugar para se alimentar, e depois tem o caso inacabado com a diabinha, só em pensar nela meu corpo inteiro reage, "ah li, nos vamos nos encontrar novamente".

— Eu não sei. O que deseja de mim?— Era uma boa pergunta. O que eu poderia desejar de um anjinho como ela? De momento nada. Mas seria muito bom ter um anjo devendo-me um favor.

— Por enquanto nada. Mas se um dia precisar poderei contar contigo?— Eu sorri ao notar o alívio dela, certamente pensou que eu abusaria dela. Mas definidamente não faz ela não meu tipo e esses estilos de atividades não me agrada.

— Sim. Dou minha palavra de honra.— Estendi a mão a ela para selar o acordo, e meio tremula ela segurou, e eu apertei firme e mais uma vez ela estremeceu.

— Não te garanto nada, mas se existir alguma maneira de resgatá-lo, o farei.

— Muito obrigada! Que Deus lhe acompanhe e lhe guie seus passos.— Dei risada mais uma vez.

—Faz muito tempo que isso não acontece, se eu fosse você não contava com isso.— Ela sorriu mais uma vez e não disse nada. Soltei a mão da luna e dei uma ultima olhada para Alice e sussurrei: — Eu já voltou.

— Vou El te acompanhar.

— Não precisa, não faça nada que a coloque em risco, pois não poderei fazer nada para ajuda-la.— Ela assentiu, mas não disse mais nada e eu parti.

Minutos depois estou eu aqui, adentrando o covil, e quando eu imaginaria que estaria aqui a pedido de um anjo? Meus olhos vagaram em busca da Li, ela não estava em nenhum lugar, então escolhi um casal qualquer, e os guiei pelo caminho do desejo e da luxuria e como sempre ele se deixaram guiar, dando-me de bandeja sua essência vital. Não é atoa que o salario do pecado é a morte, se eles soubessem que diariamente demonios são alimentados da sua essência vital a cada pecado cometido, jamais pecariam. Se bem que o pecado é tão tentador, tão delicioso que as vezes penso que mesmo que soubessem isso não faria diferença. Uma vez satisfeito, é hora de trabalhar. Procurei a entrada para o subsolo, ela sempre muda de lugar, mas não foi muito difícil de achar e entrei. Desci o corredor estreito e me esbarrei em alguém que não estava olhando para onde estava andando. Ela virou assustada, só então que vi que era Li.

— Ora, ora, ora se não é minha diabinha favorita? Creio que temos alguns assuntos mal resolvidos.

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⏰ Última atualização: Oct 30, 2017 ⏰

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